quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O valor do tempo, parte final









Tudo se resume à hora-aula e quanto se ganha nela. Todo o resto não passa de frações ou multiplicações desse valor arbitrário.


- Posso ajudar, senhor?

- Sim. Por favor, me veja aí uma hora-aula de preservativo. Lubrificado, beleza?

- Senhor?

- Pensando bem – reflete o professor, observando sua companheira do lado de fora da farmácia, tentando, sem sucesso, desenganchar a blusa do piercing no umbigo ao mesmo tempo em que ajeita a calcinha fio-dental vermelha – manda lá três horas-aula de camisinha. E troca por ultra resistente. Hmm. Com espermicida.


Quando todo o seu tempo possui um valor monetário estabelecido, é preciso fazer valer a pena.


- O quê? Mais uma? Quer me matar?!

- Gastei cinco horas-aula nesse motel e agora vou aproveitar. Pode ir liberando.

- Dar sete sem descanso em menos de meia hora não é normal! Não é humano!

- Eu sei que podia ter sido mais, mas eu tive um dia difícil na escola, pô! Mulher nunca tá satisfeita...


A hora-aula se torna uma verdadeira moeda, o câmbio mais presente na vida do professor.


- Senhor, desculpe, mas estou sem trocado. Posso dar em confeito?

- Depende. Posso pagar o pão com quinze minutos de aula?

- Senhor?

- Pois é. Então te fode.

- Senhor!

- Fuck you. Pronto. Essa foi por conta da casa. Deixa um crédito aí, heim?


E é com pesar que o educador percebe que a sociedade não dá o devido valor ao seu tempo. Pelo menos não quando comparado a outras categorias profissionais.


- Procurando emprego no jornal?

- Não, fazendo pesquisa de mercado. Comparando a minha hora-aula com a de outros serviços.

- E aí?

- Tomei fumo. Olha só esse anúncio aqui. “Universitária. Galega. 300 ml de silicone. Tatuagem no rêgo. Uma hora: duzentos reais”. 

- Hmm. Veja bem, ela fez um investimento no peito dela. Tem que rolar um retorno.

- Sabe quanto tempo e dinheiro eu gastei pra aprender a falar inglês?

- Deixa eu ver esse jornal. Hmm. Olha só esse cara. Tá cobrando dois mil reais por uma hora do tempo dele.

- O quê? Dois mil paus em uma hora?! O que ele faz? Foda-se, vou oferecer o mesmo serviço.

- Aqui só tem o nome dele, o celular e, em letras maiúsculas: “DOU O CU”.

- Já te falei que adoro dar aula de inglês?


E assim, o professor percebe que, de fato, seu tempo não é tão precioso quanto ele gostaria que fosse. Por outro lado, existem maneiras muito, mas muito mais sacrificadas de se ganhar a vida.



2 comentários:

  1. HAHAHAHAHAHAHAHAH

    Fred, esse foi um dos teus melhores, sério.
    Ri alto. Vou ler lá nas Graças kkkkkkkkkkkk
    arrasasse, babe!
    ;***

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Vai, danado, reclama!