Nunca gostei de ir ao dentista. A odontologia é umas das últimas especialidades da Saúde que continua contando com métodos e equipamentos simplesmente medievais. Precisa arrancar um dente, amigão? Não tem laser que vá fazer isso de uma forma indolor ou que não envolva você cuspindo uma quantidade assustadora de sangue como se fosse um boxeador em fim de carreira. Pediatras basicamente aprendem a manejar inofensivos estetoscópios e Dermatologistas não necessitam de mais do que traquejo com algumas pomadas ou, no máximo, um elegante bisturi elétrico para remoção de verrugas anais. Por Deus, até mesmo um Proctologista precisa apenas de uma luva resistente, um pouco de vaselina e pacientes compreensivos para poder realizar seu trabalho.
"Dr., o senhor pode...pode ao menos tirar esse anel...?"
Dentistas se armam, literalmente, com arsenais compostos de brocas cujo som é capaz de fazer os testículos de um homem sadio se recolherem institivamente no seu abdômen, ganchos cujo único propósito é fazer os pacientes borrarem as calças ante a sua visão horrenda, pinças capazes de extrair um dente ainda que a raiz dele esteja fincada na sua alma e lixas motorizadas que não pareceriam deslocadas no armário de um serial killer. E enquanto você está preso na poltrona do terror, cego por uma luz alienígena e lutando contra o instinto de se jogar pela janela ao ouvir o som da perfuratriz em miniatura, o dentista, sádico, ainda conta piada. Nada melhor do que ouvir a última do papagaio enquanto se engasga com o próprio sangue. E quem é maluco de não achar graça da piada de uma pessoa que tem uma agulha da grossura do seu dedo mindinho apontada para os nervos expostos do seu molar?
"GAAAAAAAAAHHHHHHH!"
Tenho medo de Dentistas. Não tenho vergonha de falar, só mantenho a voz baixa com medo de um deles ouvir e vir tomar satisfações munido de um boticão. Além disso, como uma espécie de Pokemons saídos do inferno, os Dentistas também possuem sua própria e terrível evolução: o Ortodontista. Um profissional que, não satisfeito em nos causar inenarrável dor física e angústia mental, ainda rouba nossa dignidade através de tratamentos humilhantes e, como qualquer paciente pode testemunhar, infindáveis. Apenas aqueles que sofreram nas mãos dessa entidade maléfica podem compreender os traumas indizíveis que deixam cicatrizes indeléveis nas gengivas e nos espíritos de milhares de pessoas mundo afora.
E eu, claro, sou uma delas.
Continua...