Infelizmente, é preciso lembrar que o sol do Recife é capaz de perturbar a vida dos seus cidadãos por outros aspectos que não apenas o calor infernal. A claridade, por exemplo. O céu límpido e livre de nuvens que tanto encanta os turistas é motivo de pesadelo para a vida diária das pessoas. A luminosidade é tão forte que levantar os olhos alguns graus acima da linha do horizonte significa cegueira imediata e permanente. Se você escutar o barulho de algo caindo na sua cabeça de dia, se jogue em qualquer direção, mas não olhe pra cima. Óculos escuros são considerados itens de segurança obrigatórios e os camelôs, cientes da necessidade do povo, comercializam seus produtos de baixa qualidade, para um público que não pode pagar por proteção adequada. O resultado é uma explosão demográfica de ceguinhos de ônibus e porta de igreja, um problema que as autoridades ainda se encontram despreparadas pra enfrentar, apesar dos e-mails diários que eu envio ao Prefeito.
Mas não é só ao ar livre que a claridade atrapalha. Os raios de luz radioativa invadem os lares recifenses de todas as direções e o nosso sol parece dar voltas ao redor da cidade, tentando cobrir todos os ângulos possíveis, de maneira que é preciso viver em uma semi-penumbra permanente, com cortinas e persianas cerradas em todas as horas do dia. Claro que, fazendo isso, o vento também não vai poder entrar nas casas das pessoas, o que no meu caso não faz diferença nenhuma. O excesso de claridade do Verão do recife é, sem dúvida, um estorvo. Mas tem gente que exagera na hora de tentar resolver o problema.
Meu irmão mais velho, por exemplo, costumava tomar precauções contra a luminosidade que beiravam a psicose. Todas as noites, antes de dormir, ele procedia ao seu ritual de buscar e vedar toda e qualquer possível entrada de luz em seu quarto. Fechava as janelas, cerrava as persianas, bloqueava quaisquer orifícios que pudessem existir nas paredes e chegava ao absurdo de preencher todas as frestas ao redor da porta com pano de chão. Depois disso tudo, colocava uma máscara de dormir feminina, um lençol e um travesseiro em cima do rosto. E assim ele esperava se proteger da luminosidade da manhã seguinte, isolado em um ambiente controlado à prova de claridade. Mais ou menos como a bolha de oxigênio onde Michael Jackson passava as noites, só que com muito mais monóxido de carbono e muito menos criancinhas. Esse cenário insalubre tornava-se definitivamente hostil quando levamos em conta que ele sempre sofreu de apnéia, de forma que passava a noite emitindo grunhidos e roncos assustadores. Entrar no quarto dele nessas condições era um suplício freqüente, um teste de nervos que nem sempre valia à pena. Me sentia o próprio São Jorge indo encarar o dragão.
Claro que pra maioria das pessoas, isso tudo é desnecessário. Uma simples cortina já resolve o problema e garante um sono imperturbado pela claridade matutina. E se você sentir que o medo da luminosidade começa a afetar seu pensamento racional, passe protetor solar no corpo todo e durma de persianas abertas de vez em quando.
É meio foda, mas ainda é melhor do que virar o ogro da caverna.
Caraaaaca, disso eu lembro bem!!!
ResponderExcluirA cortina do meu quarto era mt mt escura, mas nunca foi páreo para a luminosidade Recifense e deve ser terrível chegar em casa 5 da manhã, cheio de cerveja, vodka e sabe mais que outro tipo de bebida e após 1 hora de sono começar a ser incomodado pela luz... claro que essa situação NUNCA aconteceu comigo, visto que só bebo suco light e coca cola!
Rá =P
Seja um fotofóbico em Recife você também! Caso queira se livrar dessa fobia, então vamos todos juntos olhar para o sol ao meio-dia, numa bela tarde de domingo, por uma meia horinha só. Vai ser uma delícia!!! A gente pode aprender a se virar lendo o livro Ensaio Sobre a Cegueira.
ResponderExcluirE tenho dito!
Assinado: Mauro, o Demolidor galhofeiro.
Imagina a minha situação agora...Tô morando em Fortaleza, num apartamento alugado("mobiliado"), que, entre outras coisas, carece de cortinas, pois não as possui em nenhum dos cômodos. Que ironia do destino. Logo eu.
ResponderExcluirSó uma coisa não mudou no cenário descrito acima: a apnéia seguida do ronco.
Apesar disso, convido os amigos a passarem um temporada em Fortaleza, no quarto ao lado. Claro.
Saulo Toscano
(Fã-clube Blog da Reclamação - Fortaleza)
Eu simplesmente adoro dormir no escuro. E confesso que uso alguns dos artifícios citados no post. Mas essa do pano é nova pra mim... mas uma boa idéia...pois sempre fica uma frestinha de luz perturbando.
ResponderExcluirBeijo