quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sugestão de blog: Música na Bagagem









E você, o que leva na bagagem?

Seguindo a tradição de recomendar bons blogs aqui no Reclamação, trago a vocês o Música na Bagagem, de autoria do professor, roqueiro e irmão Pablo Vilela. Apaixonado por Rock n’ Roll desde a pré-adolescência, Pablo traz um blog voltado para o público que aprecia uma sonoridade mais pesada, sem jamais deixar de lado outras vertentes musicais de bom gosto. Também é possível ficar sabendo das novidades do mundo da música no blog, que ainda traz resenhas de discos e shows que rolam no Recife, o último deles sendo o da banda Angra, acontecido ainda esse mês. Ainda rolam entrevistas, backstage e muitas fotos, mostrando que o cara entende do assunto e sabe bem o que o público gosta.

Então é isso. Deem uma conferida no Música na Bagagem e fiquem por dentro do que anda acontecendo na cena roqueira da capital pernambucana!



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Promessa










- Vó, passei no Mestrado de História da UFRPE!

- Que bom, meu filho.

- E também no da UFPE!

- Parabéns, meu filho.

- E aí? Bora comemorar? Cadê aquele bolo de chocolate eu que gosto tanto e...

- Você vai é pagar sua promessa.

- ...oi?

- Isso mesmo. Eu prometi que se você passasse, ia ter que assistir pelo menos uma missa. E descalço, que é pra Deus ver que você é humilde.

- Peraí, peraí...que história é essa? A senhora promete e eu que pago? Tá certo isso?

- Meu filho, quem se beneficiou da promessa? Eu ou você?

- ...

- Pois é. Vá se arrumar pra ir e nem leve a sandália.

- ...mas pra que santo que a senhora fez a promessa?

- Santo? E eu lá sou mulher de lidar com subalterno? O acordo foi direto com Jesus.

- Ah, tá. O esquema é mais seguro, né, vó?

- Meu filho, você acha que passou por quê? Porque estudou? Me poupe.

- ...

- Na volta você vai ganhar uma jarra de vitamina de abacate, tá bom assim?


Podia ser pior. Ao menos não era uma coisa trabalhosa, como subir o Morro da Conceição com um tijolo na cabeça ou algo indigno, tipo sair correndo pelado pela Avenida Conde da Boa Vista gritando “Jesus entrou em mim!”. O problema mesmo era minha falta de traquejo religioso, já que quando fui à minha última missa sem ser casamento ou funeral eu nem tinha pelo no sovaco ainda. Arrastando desajeitadamente os pés nus sobre o assoalho de uma das incontáveis igrejas centenárias da Cidade Alta em Olinda, eu pensava enojado na quantidade de micróbios mumificados que estavam entrando em contato comigo naquele momento. Não deixava de ser uma experiência histórica. Sem sapatos, barba por fazer, cabelos desgrenhados e vestindo uma camisa preta da banda de metal alemã Blind Guardian, banida do meu guarda-roupa por minha mãe e algumas ex-namoradas, eu mais parecia um mendigo de ar visivelmente constrangido.

Como nunca me interessei muito pela liturgia católica, fiquei sem saber o que fazer durante a missa. Na dúvida, dava uma de jogador de futebol na hora do hino e ia dublando o povo ao meu redor, repetindo as palavras do padre posicionado no altar. Mas o mais complicado era a coreografia seguida pelos fiéis, e que não vinha explicitada naquele jornalzinho que sempre distribuem na porta da igreja. Aparentemente, não aparecem muitos leigos, turistas de outras religiões, ateus ou mestrandos de História por ali. De maneira que acompanhar a missa era mais ou menos como brincar de morto\vivo, sendo que eu sempre errava as instruções e a punição pela falta de jeito na hora de jogar eu só vou saber depois que partir dessa pra glória. Quando o velhinho de andador ao meu lado quase sofria uma síncope tentando ficar de pé, eu sentava. No que eu levantava, tapava a visão das beatas que ficavam atrás de mim e amaldiçoavam a mim e a minha família pela falta de respeito. De vez em quando, eu soltava um “Aleluia” na hora errada, quando estavam todos em silêncio. Duvido que os Toscanos ainda sejam bem-vindos naquela igreja. Com os joelhos doendo do exercício desacostumado, consegui sobreviver ao serviço religioso com minha honra mais ou menos intacta. Voltei para casa com a sensação de dever cumprido e, mais importante, dívida paga.

Eu estava livre do Serasa divino.