sábado, 31 de julho de 2010

Ladeira Chic



Gostaram do texto aí embaixo? Quem escreveu foi a amiga e designer Evinha, também conhecida como Mademoiselle Monté. Chique que só ela, ela agora mantém um blog para falar de outras coisas elegantes, não apenas na moda mundial e local, mas zapeando entre tópicos que vão de Gastronomia à Cinema. Eu mesmo ando tentando aprender alguma cosia com ela e me tornar mais apresentável. É por isso que, agora, os homens da equipe do Blog da Reclamação não usam mais camisa de micareta enfiada em calça jeans branca para ir ao trabalho. Valeu mesmo Eva!

Cliquem aqui para conhecerem o Ladeira Chic!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sexta-Feira dos convidados: A construção




Ela começou de mansinho, por volta de 2007, na esquina da Rua Dhália com a Cons. Aguiar. A sua chegada foi inclusive comemorada pelos moradores das redondezas. A construção iria ocupar o terreno baldio que abrigava vários menores, moradores de rua, que ocasionalmente cheiravam cola e incomodavam a vizinhança.
Além disso, provavelmente a kombi do teto verde não teria mais lugar. Eu explico. Convivíamos com a tal kombi do teto verde há um bom tempo. O veículo se instalava todas as noites na mesma esquina ocupada hoje pela construção. Ao cair da noite lá estava ele, com sua lona verde, protegendo seus clientes de uma possível chuva e vendendo Deus sabe o quê para os consumidores das madrugadas. Estes desocupados por sua vez, achavam interessante colocar suas bandas clássicas preferidas (Gatinha Manhosa, Kelvins Duran etc.) às alturas na madrugada de uma quarta-feira, assim chamavam a atenção e animavam os trabalhadores noturnos da região e evitavam as freqüentes brigas entre as prostitutas e travestis que partilhavam também a esquina. Era tudo com boa intenção, e percebe-se como vivíamos em harmonia.
Mas voltando, eis que chegou a construção. Sob a insígnia da Construtora Santo Antônio, celebramos então a sua vinda! Que ótimo, finalmente um edifício residencial para ocupar aquele reprodutor de miséria social sob as nossas janelas. Perderíamos mais uma parcela da parca vista para o mar, mas tudo bem, valeria a pena recuperar nossas noites de sono, mesmo que um pouco mais quentes.
Creio que desde que começou, de fato a kombi sumiu e também os moradores que haviam se apropriado do terreno. Começaram então os trabalhos nos primeiros meses de 2007. Perfurações, água mal cheirosa, proliferação de mosquitos da dengue, mas duraria pouco, tínhamos aquela certeza e esperança de que sofreríamos por 1 ano ou 2 no máximo e enfim a paz. As perfurações duraram todo o ano. Não esperei o réveillon para ver as comemorações sobre a construção, estava fora do país durante 2008, mas com saudades deste ambiente social caloroso, retornei em julho e pude admirar os avanços. Estavam batendo as estacas. Que férias pacíficas tive eu na minha querida cidade. Acordava com o batidão às 8h da manhã. E claro, dormia com ele que continuava na minha cabeça depois de um dia inteiro de batidas ritmadas.
Saí do país novamente. Um ano depois, estava eu de volta, esperando para ver aquele magnífico prédio, com famílias simpáticas habitando a minha rua. De fato, encontrei pessoas no prédio. Ele era habitado agora por uma dúzia de pedreiros cantores que faziam seu show pendurados por cabos de segurança, enquanto outros lá embaixo batiam em tonéis de concreto, no melhor estilo STOMP para completar a cadência ritmada. Era uma maravilha que começava, claro, às 8h da manhã. Além disso, eu tinha a oportunidade de compartilhar meus momentos íntimos com aquelas simpáticas pessoas que tinham acesso visual à janela do quarto e ao caminho que eu era obrigada a fazer quando saía do banho. Como isso me trazia felicidade.

Estamos em meados de 2010 e a construção continua...a construção. Ela, que deveria ocupar o terreno baldio, ocupa hoje, por vezes, a rua inteira, com seus exuberantes caminhões de descarga que fazem, geralmente em horário de pico, um ângulo perpendicular à Rua Dhália, interrompendo assim o trânsito, para que todos possam admirar sua magnitude.
Claro, para que apreciemos ainda mais a sua chegada (e permanência), ela começa seus trabalhos mais cedo, às 7h da manhã com o fabuloso show dos pedreiros cantores e sua orquestra inspirada no STOMP. O melhor de tudo é o repertório.

Evinha, feliz moradora da rua Dhália.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Vida de estagiário, parte final




O ambiente em si era bastante organizado e tinha uma aparência limpa. Os equipamentos eram novos e os funcionários pareciam bem treinados. Virei-me e vi, do outro lado do salão, uma enorme silhueta contra a luz que entrava pela janela da parede oposta. Devia ter mais de dois metros de altura, ombros largos e braços musculosos. Algumas tatuagens, talvez símbolos de lealdade a alguma gangue, eram visíveis na pele esticada sobre os músculos protuberantes. Estava de costas e parecia concentrado na tarefa de destrinchar uma carcaça de origem dúbia e para isso se utilizava de um enorme cutelo, manchado de sangue e coberto de restos de entranhas.
- Aquele ali é o nosso chef. – informou, eficiente, o gerente.
- Hmm. Grandinho ele, né?
- O senhor vai querer falar com ele agora?
- Hmm, não. Não, acho que ele tá bem ocupado, não quero atrapalhar o serviço dele... – hesitei, enquanto observava os pedaços de vísceras voando a cada golpe do enorme cozinheiro.
- Besteira. Ele não se importa. Fifi? O moço quer falar com você.
- Oi? Fifi?
A figura gigantesca se voltou para mim. Era um homem de físico avantajado, cabelos compridos tingidos de loiro, maquiagem e o maior par de seios que eu já visto fora de uma revista pornô. Me olhou de cima a baixo com uma expressão de agrado e eu me senti grato pela longa bata da Vigilância Sanitária que eu estava vestindo por cima das minhas roupas. Ao terminar a avaliação, sorriu maliciosamente.
- Bom dia, moço.
- Bom dia, seu...quer dizer, dona...ahn...bom dia, Fifi.
Não conseguia tirar os olhos dos seios de Fifi. Aquele peitos incongruentes, estufados debaixo do avental manchado de sangue, eram tão desconcertantes que me deixaram sem fala por alguns momentos.
- Gostou, moço? – perguntou o cozinheiro, me encarando nos olhos.
- Oi? Se eu gostei? Gostei de quê?! – retorqui, na defensiva.
- Da minha cozinha, moço... – respondeu Fifi, candidamente.
- Ah, sim. Muito boa. É uma cozinha de respeito. Quer dizer, é muito...muito limpinha ela. Organizada. Parabéns, viu?
- Ai, brigada, moço.
- Agora tem um probleminha, Fifi.
- Qual? – perguntou Fifi, arregalando os olhos delineados com lápis muito escuro.
- Hmm. É a sua...a sua maquiagem. Não pode, Fifi. Dentro de uma cozinha não pode bijuteria, perfume e nem maquiagem. Hmm. Sinto muito.
- Mas moço! E eu vou sair na rua sem me pintar? Sem um brinquinho? É o mesmo que sair pelada!
Estremeci quando imagens do cozinheiro Fifi, vestindo apenas um Toc Blanc na cabeça e carregando um cutelo manchado em uma das mãos, invadiram a minha mente, que quase entrou em colapso naquele momento.
- Heim, moço? Como é que eu faço?
- Oi? Desculpa, Fifi, me distraí. Olha, eu sei que é chato, mas cozinha não é lugar de...de ficar bonita. Você bota suas jóias e maquiagem quando largar, pode ser?
- Sei disso não, moço. Não garanto nada. – respondeu Fifi, cruzando os braços sobre o peito volumoso e ainda segurando o cutelo ensangüentado em uma das mãos, o qual eu encarava fixamente.
- Hmm. Quer saber? Relaxa, Fifi. Isso tudo é frescura mesmo. Trabalhe do jeito que você quiser, viu? Só...só lembra de lavar as mãos de vez em quando, tá? Assim, quando der. Sem querer incomodar.
- Ai, moço, adorei!
Feliz da vida, Fifi me puxou para um abraço, apertando minha cabeça entre seus seios descomunais. Seu colo enorme cheirava a uma mistura de suor, Leite de Rosas e fígado bovino. Depois de alguns segundos, o cozinheiro finalmente me libertou de sua demonstração de carinho. Atordoado, cumprimentei os funcionários pelo bom trabalho e me encaminhei para a saída. O gerente, atencioso, me acompanhou durante todo o trajeto. O meu colega já se encontrava do lado de fora do estabelecimento, conversando animadamente com o motorista do veículo da Vigilância Sanitária. Assim que me viram, abriram enormes sorrisos.
- Então, Frederico. Conheceu lá a cozinha?
- Conheci sim. E Fifi mandou um beijo pra vocês dois. – respondi, com um sorriso encabulado.
Os homens mais velhos gargalharam, nos despedimos do gerente e saímos para atender outra ocorrência.
Eu havia sobrevivido ao meu primeiro dia de estágio.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vida de estagiário, parte II




Era um cômodo vasto e mal iluminado. As paredes eram pintadas com cores escuras e havia uma série de divisórias criando caminhos tortuosos, becos sem saída e passagens falsas. Fui caminhando lentamente, impressionado com a estranheza daquele lugar. Quando dei por mim, já não sabia mais onde estava nem como encontrar a saída. O gerente não estava mais à vista.
- Esse lugar aqui é um dos mais requisitados na casa. – me informou a voz incorpórea do administrador.
Completamente perdido, me virava para todos os lados nervosamente, tentando me orientar através do som.
- Cadê você? – perguntei, tentando manter a voz firme, com pouco sucesso.
- Atrás do senhor. – respondeu o gerente, materializando-se às minhas costas, vindo aparentemente de lugar nenhum.
- Atrás do cão! – retruquei, me encostando nervosamente em uma das divisórias.
O funcionário, impassível, retomou o tour, guiando-me através das passagens estreitas da sala, enquanto explicava sua função.
- Esse aqui é o Labirinto. Quando é noite de quinta-feira, lá perto da meia-noite, os clientes vêm todos pra cá.
- E é? Fazer o quê? – indaguei ingenuamente, me arrependendo da pergunta logo em seguida.
- Ah, os clientes adoram. Ficam todos aqui dentro, correndo de um lado para o outro, até achar a saída. No escuro. Pelados.
- Putaquepariu!
- E aí, só tem uma regra: se um cliente consegue agarrar o outro, esse aí vai ter que dar.
- Dar? Hmm. Mas quando o senhor fala dar é...
- O cu.
- Ah. Tá. Claro. Bobagem a minha. Um telefonema é que não ia ser. Mas vê só, não rola briga? E se um cliente não quiser...ah...cooperar com o outro?
- Nunca aconteceu. Na verdade, o problema mesmo é tirar os clientes daqui. Tem gente que não quer mais sair.
- Sei. É, deve ser uma trabalheira danada. E ainda arrumar tudo...
- É muito trabalho mesmo. Especialmente lavar tudo depois. Essa divisória mesmo, onde o senhor tá encostado, só vai ser lavada amanhã.
- Entendo. – Sentindo calafrios, me afastei da medonha superfície.
- Tem mais alguma coisa que o senhor queria ver aqui em cima?
- Não! Não. Já tem material pra muito pesadelo com o que eu já vi. Valeu mesmo.
- Pois não. Vamos até a cozinha então?
Saímos do Labirinto, descemos as escadas e nos encaminhamos até a Copa da Sauna. Lá chegando, avistei meu colega já iniciando a inspeção do local.
Foi então que eu percebi que havia algo muito, muito estranho naquela cozinha.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Vida de estagiário, parte I




O trabalho enobrece o homem, o estágio o traumatiza. Prova disso foi um dos meus primeiros dias trabalhando na Vigilância Sanitária do Recife, alguns anos atrás. Lá, é comum os estagiários acompanharem os inspetores nas visitas aos estabelecimentos comerciais que ficam sob sua jurisdição. Não só restaurantes, lanchonetes e afins, mas também clínicas, creches, escolas e salões de beleza. Naquela vez, fomos parar em frente à uma casa antiga, de fachada sóbria e arquitetura portuguesa, bastante comuns ainda lá no bairro da Boa Vista. O inspetor, que parecia já conhecer bem a equipe de funcionários, foi entrando com desenvoltura e cumprimentando a todos, enquanto eu tentava adivinhar que tipo de serviço era oferecido por aquele lugar. Como é comum nesse tipo de edificação, o local era muito maior por dentro do que parecia ser por fora. 

Passávamos por salas e mais salas, cada uma com uma função específica. Ao notar alguns apetrechos capilares em um dos ambientes, arrisquei “Então isso aqui é um salão de beleza?”. “Também”, respondeu o inspetor, com um sorriso malicioso. Avistei o que pareciam ser pequenos quartos, com almofadas e espelhos nas paredes. “Um motel?”, perguntei, já perdendo um pouco da minha ingenuidade. “Não deixa de ser”, replicou meu colega, rindo baixinho. Encontramos o gerente, que sorriu educadamente e me saudou:

- Bem-vindo à Sauna! 

- Sauna? Que tipo de sauna? – perguntei, olhando ao redor, desconfiado.

- Gay. Bem-vindo à Sauna Gay. Primeira vez por aqui?

- Claro que sim! O que você quer dizer com isso? – questionei, com mais agressividade do que o necessário.

- Nada, nada. É que passa muita gente por aqui, sabe? – respondeu tranquilamente o experiente funcionário.

Muito profissional, o homem foi nos mostrando os diferentes ambientes. Eu observava tudo com uma curiosidade enorme, um tanto espantado de ver as entranhas de uma sauna voltada para o público homossexual daquela forma, em plena luz do dia, com seus funcionários realizando as tarefas mais prosaicas, como limpar o chão ou preparar os petiscos da noite. Entramos em um dos cubículos, que consistia basicamente de uma pequena televisão fixada em uma das paredes coloridas, uma almofada e uma espécie de cama, minúscula, colada à parede oposta. 



- Hmm. Então é aqui que...é aqui que os clientes...bom...vêm se conhecer melhor?


- Aqui? Não, não. Eles se conhecem lá na frente, no salão, ou então na piscina.

- Certo.

- Aqui eles vêm pra meter mesmo.

- Ah, tá. Bom saber. Hmm. Meio apertado, né?

- Ah, meu filho...eles sempre dão um jeito. Por exemplo...tá vendo essa almofada aí atrás de você?

- Opa, essa aqui? – perguntei, saltando agilmente na direção oposta ao do objeto suspeito.

- Essa. Pronto. É nela mesmo. Fica um assim, de cócoras e o outro...

- Beleza, beleza! Já entendi, deu pra visualizar. Valeu aí.

E assim fomos seguindo, com o gerente fazendo as vezes de guia turístico, explicando exatamente as funções de todos os diferentes tipos de quarto. Eu, tentando agir naturalmente, enquanto o funcionário me cobria de detalhes não solicitados, muitos deles envolvendo intensa gesticulação. Já estava um tanto perdido, quando passamos para o segundo andar.

E ali, o que eu vi me deixou boquiaberto.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Decadência humana, parte II: fom-fom




Tenho que admitir que o cara era eclético, pelo menos. Do batidão eletrônico, passou desavergonhadamente para o brega rasgado. As pessoas se remexiam irrequietas na fila mas eu até sorria, perdido no meu mundo interior onde eu assassinava o motorista da caminhote seguidas vezes, de formas criativas e, muitas vezes, escatológicas. O sujeito finalmente terminou de fazer o quer que os imbecis congênitos fazem em uma padaria e voltou para o seu veículo. Um sentimento de alívio coletivo se espalhou por todo o ambiente e parecia que tudo ia acabar razoavelmente bem, até que uma mulher vestindo um short, sem dúvida emprestado da sua filha de 5 anos de idade, passou pela calçada. O retardado da caminhonete, que já estava saindo, quase estancou o veículo e, com os olhos semi-cerrados e a língua pendendo pelo lado direito da boca distorcida, ele fez fom-fom.

Fom-fom.

Ele não buzinou. Não, buzinar é uma coisa, fazer fom-fom é outra. Não me importa que tipo de educação você recebeu ou em que parte do planeta Terra você mora. Fazer fom-fom é errado. Fazer fom-fom é anunciar para o mundo que o sua existência é uma piada cruel da natureza, um aborto sem sucesso cujo DNA, segundo as leis de Deus e do homem, deveria ser destruído e lembrado apenas como um aviso tenebroso acerca dos recessos mais baixos e doentios aos quais o ser humano pode chegar. Fazer fom-fom é como sonhar com a própria avó e acordar de pau duro. Mesmo você sendo mulher. 

Simplesmente não se faz.

Domingo é dia de...ahh, droga!


Pois é. Hoje é segunda-feira. Domingo mesmo foi ontem. Dia de enquete. Tudo culpa de quem? Minha é que não e sim do maldito computador que, por motivos que escapam à minha compreensão, se recusa a funcionar por mais de uma semana sem parar. Sei não, pra mim isso é o começo da revolta das máquinas. Eu já tranquei todos os eletrodomésticos daqui de casa no quartinho lá de trás. Não quero ser surpreendido enquanto durmo. De qualquer forma, em relação ao resultado da enquete anterior, houve um empate técnico entre todas as opções, tirando a terceira, na qual o goleiro Bruno pegava mais mulheres do que todo mundo, apesar de tudo. Foi a única que ficou zerada. O que provavelmente significa que a maior parte do meu público é composta por mulheres ou homens com fortes tendências homossexuais, coisa que eu já imaginava.
Então, crianças, me perdoem pelos atrasos e falta de atualização. Mais tarde sai texto novo e, por enquanto, fiquem com a nova enquete!