sábado, 1 de maio de 2010

Resumo do resumo


Local: Feira de livros do CFCH, UFPE.
A imagem: veja abaixo.


A reclamação: Como pode um livro com um título desses ter tão poucas páginas?
Sarcasmo?

Madrugada dos cães




Esse na foto aí de cima é o cachorro Pretinho.
Pretinho é um poodle alegre e serelepe. Seria até bastante feliz, não tivesse sua existência marcada por alguns pequenos problemas de saúde, sendo eles:
- Calvície crônica
- Artrite nas patas dianteiras
- Artrite nas patas traseiras
- Mal de Parkinson
- Falta de rabo
- Perda de dentes
- Glaucoma no olho direito
- Cegueira no olho esquerdo
- Flatulência incontrolável
- Câncer de próstata
- Testículos inoperantes
- Impotência permanente
- Morte         
Embora a inclusão do último item possa, à primeira vista, tornar os outros um tanto redundantes, a verdade é que Pretinho é um lutador. Ainda que clinicamente morto há, pelo menos, uns 15 anos, continua apegado à sua existência terrena. Ou, melhor dizendo, Pretinho continua existindo graças à teimosia do seu dono, aqui referenciado apenas como “O maluco do primeiro andar”. Sempre que o animal retorna, trêmulo, dos passeios diários sob o forte sol do Recife aos quais seu dono o submete, começam os latidos melancólicos:
- AAAUUUUHHHIIIIIIEEEEEEUUUUUAAAARRGGHHHH!
Eu, com os ouvidos bem treinados por meses de convivência forçada com o cachorro desmorto, já consigo interpretar suas lamentações caninas com um razoável grau de de precisão. Traduzindo para a linguagem humana, a lamúria de Pretinho fica mais ou menos assim:
- Morte, MORTE! Me leva logo, cacete! Essa merda já deu o que tinha que dar, porra!
Impedido de morrer de forma apropriada, Pretinho não deixa mais ninguém viver em paz. Passa seus dias tremendo, lançando olhares esperançosos para os moleques maldosos da rua, deixando para trás tufos de pêlos e pedacinhos de dignidade, peidando na porta dos vizinhos resignados e chamando aquela que insiste em ignorá-lo. Preso entre dois planos de existência, o cão zumbi nega às pessoas ao seu redor o descanso que não consegue alcançar no seu dia-a-dia.
E assim, as pessoas seguem vivendo, Pretinho segue morrendo e a tranqüilidade jamais visita essa pequena rua esquecida por Deus e pela Morte na cidade do Recife. E se, ao passar pelo calmo bairro de Setúbal, você acabar cruzando com um simpático cachorrinho zumbi, não se preocupe.
Ele não quer o seu cérebro. Quer apenas carinho, atenção e um tiro na cabeça.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pela reclamação! Pelo Blog!! Por Bacumichááááááááá!!!!

Pessoal, quero aproveitar o espaço para me desculpar. No meio de tantos fã-clubes, acabei esquecendo um dos mais antigos e importantes, o da cidade de Bacumichá, no grande estado do Ceará! E foi lá que manifestantes ensandecidos entraram em um transe coletivo, invadindo as ruas do município e exigindo que o Blogspot consertasse a interface de upload de imagens. Pedido prontamente atendido, claro. Afinal, quem seria doido de discutir com uma turba de bacumichenses furiosos? Abaixo segue a imagem, cortesia da amiga Henna Roberta, que presenciou a ação popular e que, mesmo assombrada por estar vivenciando em primeira mão um momento histórico, teve cabeça fria o suficiente para registrar para a posteridade um dos fatos mais marcantes do século XXI. Valeu Henna!




Vergonha automática




Banco do Brasil, tarde de uma quinta-feira, final de Abril. Agência calma, porém há uma fila considerável para os caixas automáticos. Aguardo impaciente minha vez de sacar minhas mixarias. Uma das máquinas finalmente é liberada. Me dirijo a ela, introduzo meu cartão e sigo os procedimentos de praxe na tela do computador. O monitor me informa que preciso retirar meu cartão. Estendo a mão para o pedaço de plástico e, distraidamente, dou um puxão.
Nada acontece.
Tento mais uma vez. Nada. Mais uma, com um pouco mais de força. O cartão permanece teimosamente ligado à máquina. Olho ao redor. Na fila, as pessoas lançam olhares impacientes para mim. Dou de ombros, mando todas se fuderem em pensamento e me concentro no problema que se apresenta diante de mim. Não posso ir embora sem meu cartão, obviamente. Se eu continuar puxando, posso acabar quebrando-o, junto com a máquina. Localizo um guarda um tanto afastado e gesticulo para que ele entenda o que está se passando. Ele compreende e avisa que vai trazer alguém para resolver a situação. Me viro para o caixa automático, aumento o volume do MP3 Player e começo a assassinar mentalmente todas as pessoas da fila que estão me olhando de cara feia. Alguém toca meu ombro de leve e eu me viro, pronto para saudar a pessoa que vai tentar resgatar meu cartão. Certamente, um daqueles técnicos mal-pagos e antipáticos, gordo e suado, com mais cabelos no rêgo do que na cabeça.
A pessoa diante de mim é uma mulher loira, alta, olhos azuis, cabelos longos e soltos. Veste um terno feminino preto impecável e deixa escapar, através dos dentes perfeitamente brancos, um “bom-djia” carregado de um inconfundível sotaque gaúcho. Mais ou menos assim:
Bancária gostosa: Bom-djia!
Eu: ...
Bancária gostosa: Bom-djia!
Eu: ...
Bancária gostosa: O senhor está bem?
Eu: Cartão...na máquina...
Bancária gostosa: Ah, sim! O cartão ficou preso, né? Posso tirar?
Eu: Oi?
Bancária gostosa: O cartão, senhor. Posso tirar?
Eu: Ah, foi, sim. Mas acho que vai precisar abrir a máquina, já botei força e nada...
Sempre sorrindo, a funcionária se aproxima do caixa automático, avalia o problema rapidamente e, segurando a ponta do cartão entre o polegar e indicador de unhas perfeitas, retira o pedacinho de plástico sem a menor dificuldade. Ainda mostrando a dentição milimetricamente alinhada, me estende à mão e entrega o cartão.
Bancária gostosa: Olha, senhor, como saiu fácil. E eu, pronta para fazer a maior força!
Eu: ...
Bancária gostosa: O senhor precisa de mais alguma coisa?
Eu: Não, não...
Bancária gostosa no auge do sorriso: Situação resolvida então?
Eu: Não, caralho! Resolveu pica nenhuma! As pessoas aqui da fila é que já tinham resolvido que eu era um bosta porque tava atrasando tudo! E agora, lógico, resolveram que eu sou um banana com um vácuo entre as pernas onde deveria estar minha masculinidade, já que nem uma merda dum cartão eu consigo tirar dessa máquina imbecil! Cadê o técnico grotesco que deveria ter me atendido? Por que mandaram você? Por que caralho você tinha que ser gostosa?!
Claro, essa foi a resposta que surgiu na minha mente. Felizmente, anos de treinamento psicológico e fortes amarras sociais filtraram meus pensamentos, originando uma resposta muito mais civilizada.
Eu: Foi, foi...tudo resolvido. Eu...hmmm...valeu aí. Tchau.
Recolho meu cartão de banco, meus trocados recém-sacados e vou embora. A minha dignidade eu deixo por lá mesmo, convivendo em harmonia com os sorrisos de escárnio das pessoas da fila. Não ouso olhar para trás, mas eu sei mesmo assim. Dá pra sentir na minha nuca. Na minha alma.
A desgraçada da gaúcha gostosa continua sorrindo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Obrigado, meu povo!

Pessoal, como vocês podem ver, tem post novo no Blog hoje e com fotos. O Blogspot não teve saída a não ser se curvar à vontade popular, finalmente consertando a interface de upload de imagens. Gostaria de agradecer à pressão exercida e atos de vandalismo realizados por todos os grupos de leitores do Blog da Reclamação, inclusive os internacionais. Muito obrigado fã-clubes da Inglaterra, França, Alemanha, Algéria, Botswana, Cazaquistão, Micronésia, Patagônia e Janga! Vocês fazem desse o melhor Blog reclamativo do mundo!

Só a cabecinha


Quem acompanha o Blog, sabe que não me canso de apontar as bizarrices que permeiam quase todos os aspectos do meu querido Recife. De formas de vida alienígenas nos banheiros universitários, passando por mamoeiros desfibrilados e mictórios enlutados, de tudo se acha por aqui e pouca coisa pode ser considerada normal, sendo que uma boa parte cai na categoria “irritante pra caralho”.
Já o que se encontra na foto abaixo se enquadra na sessão “como porra isso foi acontecer?!”:



Deu pra entender o que é? Parece um prato virado ou algo assim. Talvez um mini-disco voador pousado na calçada, que nem aquele filme com os velhinhos que, por algum motivo, adoravam morar num cortiço caindo aos pedaços e não saiam nem caporra. Mas calma, eu pedi pro meu departamento de Arte Digital ampliar a imagem em 46.9% e realçá-la usando os programas gráficos mais modernos da atualidade.



Pois é, agora você entendeu. Esse troço aí em cima é simplesmente a parte superior de um hidrante. Sabe, aqueles postezinhos que os cachorros usam pra marcar território e os bombeiros pra pegar água e, tipo, apagar incêndios. Claro que, se algum deles fosse tentar fazer isso nesse da foto, ele ia acabar tropeçando e batendo a cabeça na calçada. E aí voltamos à pergunta: como porra isso foi acontecer?!
Será que foram sentando nele até que afundou? Terá o calor do Recife derretido o coitado até ele ficar daquele tamanho? Ou quem sabe, sei lá, as pessoas construíram uma calçada elevada ao redor do hidrante, pensando “Há! Quero ver esse cachorro safado vir mijar na frente do meu boteco agora!”?
Independente dos que possa ter acontecido, uma coisa é certa. No Recife, em caso de incêndio, nem se preocupe em procurar um hidrante.
Pule logo no canal.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Blogspot pirou ou fui eu?

Reclamação básica e estrutural: o Blogspot pirou o cabeção ou fui eu? Por motivos além da minha compreensão, a interface do Blog agora não aceita mais buscar imagens no meu PC, apenas na Internet ou em algum álbum virtual! Alguém sabe como isso foi acontecer? Se sim, por favor, sintam-se a vontade para ajudar um pobre blogueiro rico em reclamações, mas pobre em conhecimentos técnicos!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Naturalmente insano


Não me entenda mal. Sou a favor de respeitar a natureza e de contribuir pra salvar o mundo da poluição, aquecimento global, catástrofes climáticas e do José Serra. Procuro fazer minha parte. Tá, beleza, eu não vou protestar na frente da prefeitura nem me acorrento nas jaqueiras centenárias pra evitar que o INSS as derrube pra construir condomínios de luxo. Minha função é outra. E se você ainda não sabe qual é, deve ser sua primeira vez nesse blog.
Mas o que eu quero dizer é que pra tudo existe limite, até pro amor à natureza. Duvida? Veja a imagem abaixo:







A foto mostra claramente uma ambulância levando em seu interior o que parece ser uma árvore de pequeno porte. Diria que é um mamoeiro. Me pergunto o que levou os pára-médicos ao extremo de atenderem uma forma de vida vegetal no meio do caos urbano diário do Recife. Seria uma forma de protesto em relação aos abusos que a natureza vem sofrendo nessas últimas décadas? Poderia ser uma representação nada sutil do estado terminal e semi-vegetativo (hã, hã, vegetativo, entenderam?) do nosso planeta? Ou será que a enfermeira e o motorista do veículo foram simplesmente dar uma no mato e não prestaram atenção na hora de fechar a porta? A ambulância, enfim, perdeu-se pelas ruas alagadas do bairro da Várzea, arrastando o triste galho de mamoeiro ao seu lado. É bem provável que jamais saibamos as respostas aos questionamentos acima.
Mas se algum dia você sofrer um acidente e acordar em uma ambulância em alta velocidade atravessando ruas submersas com um mamoeiro sendo desfibrilado ao seu lado, não se espante. Respire fundo, feche os olhos e lembre-se:
Você está no Recife.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Boneca do cão


Eu admito que sou meio frouxo. Não morro de medo do sobrenatural, mas tenho lá minhas restrições. Algumas são bastante óbvias. Zumbis, por exemplo. Quem não tem medo deles? Afinal, eles nunca morrem, querem comer seu cérebro e, como todos sabem, o apocalipse desmorto é apenas uma questão de tempo. Já andei estocando comida e munição, vocês não? Mas enfim, eu divago, como sempre.
Outros medos são um pouco menos racionais. Bonecas, por exemplo. Não me peçam pra dormir com uma no quarto. Não, nem que seja inflável, seus pervertidos. Existe algo profundamente perturbador naqueles olhos vítreos, o sorriso perpétuo como uma cicatriz em seus rostos de plástico. Francamente, não sei o mais me faz cagar nas calças, se é a boneca estilo Barbie, falsamente simpática e pronta pra te atacar enquanto você dorme, ou um daqueles bonecos-bebês ultra-realistas, com cabeças enormes, uma expressão de agonia eternamente estampada na face e emitindo horrendos choros e risos artificiais. Sou capaz de aceitar a presença de um Fofão junto a mim, faca na barriga e tudo mais, mas saio correndo e gritando feito uma menininha se uma dessas bonecas chegar perto demais. Aliás, principalmente se elas chegarem junto de mim por conta própria, já que isso deveria, teoricamente, ser impossível. Não duvide. Não há limites para a maldade das bonecas.
“Frescura, Fred, tu é um homem ou um prato de papa?”, é provavelmente o que o exigente leitor desse blog de singelas reclamações está exclamado nesse exato momento. Então tá. Faz o seguinte: dá uma olhadinha na imagem abaixo, tirada de uma promoção de bonecas nas Lojas Americanas do Shopping Recife e me diga se você levaria pra casa uma merda dessas.








Pois é. E não adianta tentar se esconder. Ela nunca precisa descansar e só precisa de um olho pra te achar. E está sempre sorrindo.
Sempre.

domingo, 25 de abril de 2010

Dormindo em Hellcife


Ritual antes de ir dormir no calor infernal do Recife:
1-    Espere o máximo possível de acúmulo de sono.
2-    Quando o acúmulo de sono estiver prestes a se configurar em coma auto-induzido, arrastar-se até o banheiro.
3-    Tome um banho de, pelo menos, 47 minutos. 2/3 da água do chuveiro vão evaporar antes de chegar ao seu corpo, então é necessário ter paciência.
4-    Sempre molhe o cabelo, não importa o comprimento, cor, tratamento químico ou crença religiosa do dito cujo.
5-    Enxugue apenas o rosto, sovacos e, dependendo dos escrúpulos e expectativas de cada um, a genitália.
6-    Forre o colchão com a toalha molhada.
7-    Ligue o ventilador com antecedência, virado para a janela do quarto. A idéia não é arejar o ambiente e sim tentar empurrar o ar quente para fora.
8-    É provável que boa parte do sono acumulado na etapa 1 tenha se esvaído ao se tomar banho. Mantenha a calma. Leve um banquinho para a cozinha, abra a geladeira, encoste-se a ela e abra uma revista Caras de 1994, tentando ler as matérias com atenção genuína. A idéia é simular um dos ambientes mais propícios para a chegada do sono; a sala de espera de um consultório de dentista.
9-    Permaneça na etapa 8 por, no máximo, 15 minutos. Além desse tempo, todos os alimentos acondicionados na sua geladeira já terão derretido e se fundido em uma única sopa orgânica, razoavelmente nutritiva, porém de sabor notadamente desagradável.
10-  Se o sono chegou, ótimo. Se não, volte para a etapa 1 e comece tudo de novo.
11- Encaminhe-se para o seu quarto em um ritmo deliberado. Não devagar demais, que faça com que o calor onipresente corte o efeito da geladeira, nem rápido demais, que favoreça esforço físico e conseqüente sudorese.
12-  Deite-se na cama. Lembre-se de retirar a toalha molhada do colchão. Ou a envolva ao redor da cabeça. A essa altura, já não faz mesmo muita diferença.
13-  Reze para quaisquer divindades que permeiem sua religião ou a de outras pessoas, pedindo para dormir logo, antes que o calor extremo faça com que você seja acometido de falta de ar, insônia, angústia existencial, alucinações, loucura e morte.
14-  Acorde no dia seguinte banhado no próprio suor, com o mesmo sono acumulado desde o início do verão e com o humor condizente à situação.
15-  Repita todos os passos descritos acima até o final da sua vida.
Ou
16-  Invista em um ar-condicionado e passe a adorá-lo como um deus.