sexta-feira, 12 de março de 2010

Pelo Hospital da Tamarineira




Hora de reclamação das sérias. Pra quem não sabe, tem gente esperta por aí querendo transformar o nosso Hospital da Tamarineira em Shopping Center. Não, dessa vez não to querendo fazer graça. Shopping Center. Pois é.
O Hospital da Tamarineira, localizado no bairro do mesmo nome, é um centro de atendimento psiquiátrico antigo aqui do Recife. Possui prédios de uma arquitetura clássica que são uma beleza, além de uma considerável área verde. E continua funcionando normalmente. Aliás, não ficou claro ainda por que o hospital deveria fechar. Tem muita gente que depende dele por aí e, se as condições lá não são perfeitas, o que deve ser feito é uma requalificação do lugar, não sua desativação. Caso isso não seja possível, conveniente ou produtivo, que tenha seus edifícios tombados e sua área verde preservada em forma de parque para a população do Recife.
Velho, qualquer coisa. Menos uma porra de um Shopping Center. Já tem um em Boa Viagem (Shopping Center Recife), outro na Boa Vista (Shopping Boa Vista), mais um em Casa Forte (Shopping Plaza Casa Forte) e um em Santo Amaro (Shopping Tacaruna. Foi mal olindenses, aquilo lá é área do Recife), sem falar em outros nas cidades vizinhas, dentro da região metropolitana. Aposto que vocês conhecem todos eles. Juntando todos, tanto os grandes quanto os pequenos, deve dar mais de 10.
Diz aí, quantos Hospitais Psiquiátricos você conhece? E quantos parques o Recife disponibiliza pro teu lazer?
Matemática difícil, né? Você só precisa dos dedos de uma mão só pra responder ambas as perguntas. Então, se você não quer ver o fim do Hospital da Tamarineira nas mãos de um bando de políticos safados e especuladores imobiliários, dá uma chegada na petição organizada pelo pessoal do blog “Amigos da Tamarineira”. Os links tão embaixo e ao lado.
Um abaixo-assinado nada mais é que uma grande reclamação coletiva, acompanhada de uma reivindicação. Então é isso, mãos à obra e vamos reclamar.

Coisas de mãe


Tu acha que tua a mãe é avoada, alesada, distraída e, de maneira geral, fora de sintonia com a realidade que o resto de nós vivencia em nossas vidas diárias? Não se sinta só. As mães têm uma capacidade ímpar de gerar histórias absurdamente constrangedoras baseadas em pura falta de atenção. Eu, por exemplo, detestava (e ainda detesto) quando minha mãe quer falar meu nome, esquece qual é (carai, eu sou filho, pô) e, não satisfeita, ainda desfia uma lista de nomes que, aparentemente, têm mais prioridade no pensamento dela do que o nome do próprio filho. Tipo assim:
Fred: Oi, mãe, me chamou?
Minha mãe esclerosada: Hmm? Oi, foi, chamei...ô..é...Saulinho, vá lá no...
Fred: É o que, mãe?
Minha mãe esclerosada: ...ô...é...Thiaguinho...não, Victor, não, Daniel, er...Cadinho, Rodrigo, Dudu, Marquinhos, Riquinho, Vital, Bonifacio, Leonardo...
Fred: ...
Minha mãe esclerosada: ...Astrogildo, Kleybson, Wadislelson, Michael Jackson, Alice, Mariana, Renata, Carol, Guiodai...
Fred: Porra, mãe! É Fred! Tu que me deu esse nome, cacete!
Mas isso é o de menos. Distraída é a mãe de Mércia, amiga minha que, gentilmente, resolveu compartilhar essa reclamação materna conosco. Aconteceu em Caruaru, Mercita ainda era uma criança branquela e trelosa que resolveu brincar com o irmãozinho daquele velho jogo infantil de “Me empurra na calçada até minha cabeça bater no meio-fio e o sangue escorrer”. Vocês todos já brincaram disso, tenho certeza. Daí, alguém leva Mércia pro hospital e avisa a mãe dela do ocorrido e ela sai correndo feito louca de onde tava pra ir cuidar da filha. Chegando no hospital, acha lá a criança, com a cabeça enfaixada, a blusa suja de sangue e começa a ajeitar, dar carinho, limpar o nariz, abraçar, beijar. Daí chega a enfermeira pra liberar:
Enfermeira: Ah, que bom que a senhora chegou!
Mãe de Mércia: Ai, nem me fale, minha filhinha, bichinha, toda arrebentada, mas já vou levar ela pra casa.
Enfermeira: Tá certo, dona Zezé, só preciso que a senhora ass...
Mãe de Mércia: Zezé? Meu nome não é Zezé.
Enfermeira: Mas foi sua filha que diss...
Mércia: Mãe, eu to aqui, na outra sala!
Mãe de Mércia: ...
Enfermeira: ...
Criança avulsa: ...
Constrangedor? Podia ser pior. Uma vez a mãe de Mércia pegou um vestido dela e, distraidamente, começou a vesti-lo na filha, estranhando que estava um pouco apertado. Foi apenas quando o irmão de Mércia gritou “Mãe, eu sou menino, pô”, que ela percebeu que algo estava terrivelmente errado, mas não exatamente com a roupa.
Pensando bem, vou parar de reclamar quando minha mãe erra meu nome. Poderia ser muito, muito pior.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Na cozinha

Cozinhar é legal e tal. Pode ser relaxante e, diferente de um hobby como, digamos, pintura, no final você pode comer seu trabalho. Só vantagem, né?
O caralho que é.
Fazer a comida (e principalmente comer depois) é ótimo. Foda é ter que arrumar a bagunça. Sei que isso vai parecer ecologicamente irresponsável, provavelmente porque é mesmo, mas por mim, todos os utensílios seriam descartáveis. Até as panelas. Tudo pra não ter que lavar depois. Ou então, melhor ainda, seria tudo comestível. Tipo, você fazia a feijoada no panelão e depois comia tudo. Inclusive o panelão. E a não ser que vocês vivam no mundo de Fantasia (to falando do desenho animado do Mickey), os objetos não vão sair marchando pela casa cuidando dos afazeres. Sobra tudo pra você, meu velho.
De maneira que a relação custo\benefício entre cozinhar e limpar-aquela-merda-daquela-cozinha-toda-depois pode ser um tanto negativa. Por exemplo, abaixo vocês podem ver meu filé de tilápia ao molho de camarão, acompanhado de arroz e purê. Parece até bonito, né?


Olha a quantidade de coisa que eu tive que lavar depois disso.


Sério, só pra fazer uma besteira dessas. Putaquepariu! É por isso que, por mais que você goste de cozinhar, as vezes acaba sucumbindo à tentação de pedir comida fora. Você desiste, se rende, entrega os pontos. E aí, toda vez que você faz isso, um certo palhaço ruivo fica feliz da vida.


Pensando bem, melhor fazer um pão com ovo mesmo e tá tudo certo. O resto é frescura.

Aprendendo alemão


Agora inventei de aprender a falar alemão. Quer dizer, agora não, inventei faz tempo. Agora é que tive grana e tempo. Na moral, eu acho sinceramente que podemos aprender qualquer coisa se realmente temos a vontade pra isso. A merda é que a idade realmente influencia na rapidez e na qualidade do seu aprendizado. Ah, meus 16 anos...existem outros fatores, lógico, mas falando puramente do lado do aluno, isso conta bastante. Você fica velho e então não lembra mais nem onde deixou suas chaves, seu cartão de crédito ou seu pacote de fraldas geriátricas.
No meu caso, especificamente, é um pouco mais frustrante do que o normal, já que venho dando aulas de Inglês já há uns 8 anos. Não porque eu estou velho. Ouviram? Então, aí depois de quase uma década corrigindo o povo, reclamando da burrice alheia e dominando uma língua, pode ser enlouquecedor passar para o outro lado da experiência. Quem se achava o foda (e professor tende a se achar o foda), passa a enxergar a coisa pelos olhos de quem tá aprendendo, quando tudo é difícil, complicado, lento e profundamente irritante. A coisa toda funciona como uma pílula de humildade. Ou melhor dizendo, um supositório de humildade. Daqueles bem grandes, direto de Itu. Sem cuspe.
E lá está você, junto com os outros retardados na sala de aula, tentando aprender alemão, uma língua difícil pra cacete e amaldiçoando a própria ingenuidade ao achar que era grande coisa só por falar Inglês. Grande merda falar Inglês. Porra, até Bush fala Inglês. E quem lia Shakespeare de trás pra frente no idioma original, de repente se vê duvidando da própria capacidade e vibrando com as menores conquistas. Daí que saem “diálogos” dessa qualidade:
Professor: Guten Abend, Frrred! Wie ghet ist dir?
Fred: ...
Professor: Frrred, wie ghet ist dir?
Fred: …
Professor: Frrred…?
Fred: …Mir…
Professor: Ja?
Fred: …mir ghet…
Professor: Ja, ja! Continua, Frrred!
Fred: Hmm…mir…ahhnn…mir ghet ist…gut?
Professor: Gut! Super! Wunderbar, Frrred!
Euforia total. Palmas dos colegas. Os homens sentem inveja de mim. As mulheres me desejam. As igrejas batem seus sinos, anunciando minha vitória. Meu celular toca. Certamente é o prefeito, pra me felicitar pela minha conquista. Nem atendo. Não posso perder minha concentração agora. Um desafio muito maior e incocebivelmente mais aterrador encontra-se diante de mim. Preciso de toda minha força e astúcia. Dessa vez é pra valer.
Dessa vez o professor quer que eu soletre a porra do meu nome!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

 

E agora, uma rápida reclamação quanto ao Dia Internacional da Mulher. Aliás, pra começar, que porra é essa? Dia Internacional da Mulher? Então é porque o resto do ano pertence aos homens mesmo? Sei, essa é velha, foda-se. Tá errado. Então, hora de reclamar.
Reclamar delas, que choram por qualquer motivo, sem se importar em quem está por perto.
Elas que exigem a atenção masculina acerca dos mínimos detalhes, deixando os homens em perpétuo estado de tensão.
Elas que berram, batem o pé, arranham o rosto e puxam o cabelo da fulana, sem medo de fazer cena.
Elas que passam 3 dias de cada mês sangrando, mesmo assim não morrem, mas querem matar você, ou qualquer um ingênuo o suficiente pra chegar perto durante esse período.
Elas, que se vestem para as outras mulheres, se despem para os homens e morrem de dúvidas existenciais ao fazer ambas as coisas.
Elas que mentem, dizendo que não se apegam e fingem orgasmo, só pra massagear o ego dos homens.
Elas que dançam com graça e naturalidade, porque Deus as fez assim, e cientes disso, usam seu rebolado para nos manipular, hipnotizar e, se dermos sorte, brincar com as nossas fantasias.
Choronas, manipuladoras, mentirosas, rancorosas, exigentes, fofoqueiras, perdulárias, fúteis, tagarelas, medrosas, dissimuladas, neuróticas. Elas são tudo isso.
E eu não vou nem fingir que conseguiria passar minha vida sem elas por perto. Reclamo porque elas têm a nós, homens, nas mãos e sabem disso. Não é que o resto do ano pertença ao macho. As mulheres é que criaram esse dia pra que a gente tenha uma desculpa, marcadinha ali no calendário, pra levá-las pra sair, comprar chocolate, rosa, anel, qualquer coisa que ela goste e receber um simples sorriso de volta.
E, velho...o pior é que vale a pena.
E vamos parar por aqui, que quem reclama demais de mulher é frango.


domingo, 7 de março de 2010

Odeio muito tudo isso

 

Ah, nada como reclamar mais um pouco da estupidez humana, um assunto que é, baseado em minha experiência pessoal, simplesmente inesgotável. Essa história veio da minha eterna chefenha, Vânia, e aconteceu algumas semanas atrás.
Estava um casal de turistas brasilienses se deleitando com as maravilhas turísticas do Recife e, extenuados, decidiram retornar à pousada onde estavam hospedados, lá no bairro de Casa Forte. Cansados e famintos, decidiram não arriscar suas vidas provando das delícias regionais que podem ser encontradas nos mercados populares da região ou mesmo no meio da rua. Sem saber exatamente pra onde ir e provavelmente sem saco pra pensar demais, optaram por fazer o que fazem 11 em cada 10 turistas sem imaginação: foram ao McDonald’s. Um erro que tanto vai assombrá-los pelo resto de suas vidas quanto me proporcionar material para mais reclamação.
Além de carecerem de criatividade, o tal casal também não possuía um carro o que, em defesa deles, ajuda a justificar a decisão de ir jantar na lanchonete do palhaço Ronald já que esta, afinal de contas, ficava bem em frente à pousada. E lá eles foram. Já era tarde da noite, de forma que as portas estavam fechadas, as cadeiras repousavam por cima das mesas, as luzes se encontravam apagadas e o bom-senso já tinha, há muito tempo, sido encaixotado e enviado pra algum lugar bem longe dali. O que fazer? Depois de debaterem a situação por alguns minutos, uma daquelas lâmpadas de desenho animado apareceu sobre as cabeças deles, quando chegaram à mesma conclusão: vamos ao drive-thru!
Acontece, meu velho, que eles tavam no McDonald’s. Aquilo lá tem regras, normas, leis, cacete! Tá pensando o que, que tá no Brasil, é? O lugar é praticamente uma embaixada americana. Então ou você se enquadra no padrão Mcdonaldiano de fazer as coisas ou vai sofrer terrivelmente. E de fato sofreram.
Os brasilienses, aparentemente ignorantes da forma como as coisas funcionam no território do tio Sam, foram até o caixa do drive-thru e, ingênuos que eram, pediram dois Mcalguma coisa, um deles sem picles e duas cocas. Light, beleza? A atendente, treinada à exaustão dentro dos padrões da empresa e cuja alma já havia, há muito tempo, sido consumida pelo palhaço Ronald, exibiu seu melhor sorriso e disse que não poderia atendê-los. Atônito, o casal perguntou porque, meu Deus, porque. Eficientemente, a moça explicou que eles estavam no drive-thru e que, afinal de contas, aquele espaço era apenas para clientes que estavam de carro. Sim, ela entendia que eles eram de fora e que não tinham carro no Recife. Sim, era mesmo uma pena que a parte principal da lanchonete já estivesse fechada.  Não, ela não ia atendê-los enquanto eles não aparecessem ali de carro. Os turistas pensaram um pouco e, num estalo, veio a resposta: iriam simplesmente aguardar que algum carro se aproximasse, explicar a situação ao motorista e contar com o mesmo para que fizesse o pedido deles. Depois de alguns minutos, aparece um veículo. O casal faminto salta de um arbusto lateral e passa a explicar a situação ao assustado motorista, que concorda em ajudá-los, certamente mais pelo susto do que qualquer outra coisa. Entregam o dinheiro ao motorista e ficam ao lado do caixa esperando pelo pedido. A atendente, sentindo os tentáculos negros do palhaço Ronald se apertando em torno de sua garganta, sorri e responde que não pode atender ao pedido do motorista, pois sabia que ele estava fazendo o que o casal de turistas havia pedido. E eles não estavam de carro, veja bem. O motorista estava mentindo pra ela e, pior, sendo cúmplice de todo o esquema espúrio orquestrado pelos brasilienses. Um escândalo. Hambúrgueres na cueca. A atendente jamais compactuaria com tal tramóia.
Nesse momento, enlouquecidos pela fome e, principalmente, pela imbecilidade do padrão McDonald’s de atendimento, os turistas fizeram o que qualquer um faria ao chegar nessa situação-limite: invadiram o carro do estranho sem nome e exigiram, aos berros, os seus McLanches muito, muito Felizes. A atendente, um sorriso de escárnio petrificado emoldurando seus olhos vazios, respondeu que agora sim, ela podia atendê-los, com o maior prazer. Aceitou o dinheiro, passou o troco e entregou o pedido. Eficiente. Mecânica. Vazia.
E no final, só pra ser escrota, ainda deu boa-noite.
Traumatizados, os turistas rumaram para seu pequeno quarto de pousada, saborear seus hambúrgueres sintéticos regados à lágrimas e temperados com estupidez.
Próximo dali, um boneco do Ronald McDonald repousava sobre um banco. Seus olhos mortos encaravam o breu da quente noite recifense. A boca era um esgar doentio, manchado de vermelho-sangue.
E sorria.