sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Bichos, parte 1: amo todos







Tenho dificuldade para confiar em pessoas que não gostam de animais. Para mim, muito da personalidade de um indivíduo pode ser adivinhada pela frase “Bichos? Detesto”. O medo eu até entendo. É uma coisa instintiva, primal. Incontrolável. Nossos antepassados passaram gerações levando carreira de tigres dentes-de-sabre e iguanas um pouco mais agressivas. Tudo bem ficar meio ressabiado ao se aproximar, digamos, da jaula do urso no zoológico. Ou do leão. Ou até do babuíno. Não confio naquelas bundas vermelhas. Já a velhinha que entra em pânico com a improvável possibilidade dos funcionários locais gritarem “Corram todos, a lhama fugiu!” provavelmente já deu tudo o que tinha que dar nessa vida. O que quero dizer é que o medo de bichos selvagens, até certo ponto, eu ainda compreendo. Mas de cães? Gatos? Calopsitas, meu Deus? Que mal uma calopsita pode fazer, além de humilhar a humanidade com sua coordenação motora perfeita e seu gingado sobrenatural?



Primeiro elas aprendem a dançar. Depois, roubam as nossas mulheres.



E também não boto fé nesse povinho que se diz amigo dos animais, mas que esconde um coração preconceituoso. Sim, odiadores de gatos, é com vocês que eu estou falando. Esse pessoal incita a cizânia no reino animal, levantando falsos e espalhando boatos infundados sobre os felinos. “Ah, o gato não gosta da pessoa, só da casa”. “Gato é um bicho traiçoeiro”. “Gatos tentam roubar a sua alma enquanto você dorme”. Provas. Quero provas. Tirando o lance de roubar almas. Isso já foi comprovado. Mas a verdade é que a maioria das pessoas tem medo da independência dos gatos. Como se sentir confiante com um bicho que arruma comida sozinho, consegue se locomover em praticamente qualquer superfície, sai sem avisar, toma banho sem ajuda e, ao que tudo indica, é capaz de enxergar, se comunicar com e, por que não, controlar os espíritos dos mortos? Só porque o bicho tem uma ligação direta com satanás, não quer dizer que não seja boa gente. Algumas pessoas de fato amam animais, ponto. Outras querem apenas um ser vivo para cuidar, dependente, fazendo com que sintam úteis. Vivas. Aí o bicho vira uma muleta, uma válvula de escape e uma terapia, na melhor das hipóteses.

Eu sempre amei animais. Nunca me senti o dono de nenhum bicho. A relação sempre foi de uma espécie de parentesco escolhido. Por isso, nunca tive problemas em conversar, brincar, ensinar, aprender e viver com os bichinhos. Me apego com facilidade a eles e a minha última e mais duradoura amizade foi com uma cachorrinha chamada Sherry.


E é a história dela que eu vou contar a vocês.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Texto de convidado: Cadê o rock que tava aqui?






Vi em um desses documentários da vida que a música punk surgiu, basicamente, do cansaço dos jovens ingleses pelo rock produzido no início da década de 1970. Segundo o filme, era uma resposta ácida e crítica ao rock progressivo, com seus intermináveis solos de teclado e letras sem pé nem cabeça compostas por hippies doidões de ácido. Resumindo: rock era coisa de universitário bundão. Entendeu? Ótimo.

Essa lembrança me voltou à memória no último sábado, enquanto eu acompanhava o festival Planeta Terra, em São Paulo. Lá estava eu em uma área chamada Claro Indie Stage. No palco, um cara de codinome Toro Y Moi (que na ocasião eu achava se tratar do nome da banda).

O lugar estava completamente lotado e aí... começa o show...

Toro Y Moi não é rock progressivo, é uma coisa mais pra eletrônico, mas a chatice que despertou os punks nos anos 70 estava toda lá. Os solos de sintetizador, as letras monossilábicas, não era música, eram barulhinhos de computadores. Parecia o som daqueles discos voadores de “Contatos imediatos do 3º graus”. Havia uma guitarra no palco, mas se ouvia uma harmônica aqui e outra lá.

Olhei para o lado. Um monte de jovens com topetes e moicanos encharcados de gel, vestido como estudantes de Hogwarts (gravatinhas e tal) com óculos de graus gigantescos achando aquilo fantástico.

É fato, minhas crianças, a gente precisa de um novo punk... ou de, pelo menos, algo que se aproxime.

Lembro dos primeiros anos da década de 1990, quando Planet Hemp, Chico Science e Raimundos deram um chute na bunda do lixo que a gente tinha aqui desde os anos 80 (os saudosistas do RPM e da Blitz que se fodam). Ou quando Kurt Cobain e toda a galera de Seattle colocaram o rock purpurinado do Poison e do Guns n Roses para correr.

Precisamos de alguém para sacudir a música pop. Fazê-la voltar a ser algo divertido, sem ser idiota. A gente não precisa mais de bandas alternativas formadas por nerds (só do Weezer, claro). A gente precisa de uma molecada que escute Ramones, beba cerveja barata, fale palavrão e pegue mulher. Chega de meninos que beijam meninos.

E não vou nem falar de NxZero, Fresno e etc.

Parece que o politicamente correto veio pra ficar. O máximo que eu vi de anarquia na música, nos últimos tempos, foi o arranca rabo de Zezé di Camargo e Luciano.

E o mesmo vale para cena daqui de Recife. O negócio tá tão brabo que um dia desses, eu tive saudades de Sheik Tosado. Puta que pariu.

Então é isso, me acordem quando o rock voltar a ser feito na periferia e não por estudantes de direito de faculdade particulares. Obrigado.



Texto escrito e gentilmente cedido pelo amigo, escritor e jornalista Geraldo de Fraga.