quarta-feira, 19 de outubro de 2011

As recifenses







As recifenses são as mulheres mais difíceis do mundo. E sabem disso. Por Deus, elas gostam disso. É uma fama construída e espontaneamente viralizada pelos traumatizados homens da capital pernambucana. Além, claro, dos pobres coitados que, turistando pelos lados de cá, acabam quebrando a cara e o espírito contra a impávida muralha de negativas da fêmea local. Exemplos dessas tristes derrocadas são frequentes e comuns. Quase sempre, trata-se de algum ingênuo segurando uma simpática, embora autodestrutiva, placa com os dizeres “Me beije, sou carioca”. E isso durante o carnaval, período de maior descontração, liberdades e libertinagens, festa da carne e tudo mais. O escárnio com o qual esta abordagem pouco criativa, porém honesta, é recebido pela recifense é de fazer o coração doer. O homem do Recife já não alimenta muitas esperanças de contato mais íntimo com o sexo oposto, observando com uma simpatia desapaixonada os esforços frustrados dos visitantes. Há quem diga que a crescente população homossexual da cidade tem raízes nessa questão, mas é exagero. Ainda existem aqueles guerreiros que, movidos por instinto ancestral ou puro desespero de causa, ainda vão à luta, dispostos a defender sua honra, masculinidade e, se possível, pegar em um peitinho. Esses semideuses caminham entre nós, cientes de que, se conseguem pegar uma mulher do Recife, são capazes de, facilmente, pegar a mulher do sultão, de burca, na praça em frente à mesquita. Sem falar árabe. E depois ainda pegam a mãe dele, por puro tédio.

O grande sociólogo pernambucano Gilberto Freyre tentava explicar o recato quase patológico da recifense através da herança cultural lusitana. Os portugueses, tão ciumentos quando melancólicos, costumavam esconder dentro de casa sua esposa, filhas e qualquer coisa remotamente do sexo feminino, sempre prontos a defender o bom nome da família. Henry Koster, britânico criado em Lisboa, ao passar algum tempo no Nordeste do Brasil, lá pelo século XIX, se decepcionava ao tentar obter um vislumbre sequer da mulher recifense, dentro de casa uma entidade invisível, saindo à rua sempre coberta por um longo véu a protegê-la de olhares cobiçosos, reais ou imaginários. Ao mesmo tempo, costumava flagrar, em uma mistura de espanto e deleite, as filhas de algum grande senhor de engenho, veraneando na capital pernambucana, a tomar despreocupados e desinibidos banhos no rio Capibaribe, a pele branca contrastando com os cabelos negros, a água turva de mangue mal escondendo os corpos nus. A recifense é, portanto, uma provocadora por herança, genética e criação. Seu prazer é o flerte, aproveita a viagem muito mais do que o destino, onde muitas vezes nem se chega. Munida de um escudo de recato, ocasionalmente deixa entrever a carne proibida cuja armadura esconde. E os homens, coitados, perdem a batalha antes mesmo de a guerra começar. O que não os impede de seguir lutando.

Nos próximos posts, vamos analisar o comportamento da mulher do Recife, verificando seus hábitos e defesas naturais, em uma tentativa de fazer com que os homens, caso não consigam se dar bem, ao menos tenham capacidade de salvaguardar alguma medida de hombridade enquanto são miseravelmente escorraçados por estas sereias de rio, verdadeiro terror dos navegantes experientes e marinheiros de primeira viagem.


PS – O Blog da Reclamação não se responsabiliza por corações partidos, espíritos despedaçados e autoestimas destruídas. Na dúvida, siga o exemplo dos homens locais: procure o boteco mais próximo, peça pelo brega mais bisonho que você encontrar na radiola de ficha e fique só em sua mesa até que a auto piedade transforme você em uma casca vazia desprovida de alma. Ou então mude de cidade, o que for mais barato.