sábado, 27 de março de 2010

Parque da Jaqueira



Parece lenda de Internet. Tipo, aquelas que dizem que os livros de Geografia dos Estados Unidos mostram o Brasil sem a área da Amazônia (é mentira) ou aquele velho boato de que o Flamengo foi campeão brasileiro em 1987 (papo-furado, nem no vídeo-game um time que não se apresenta pra partida final pode ganhar o jogo). Ou seja, o tipo de coisa que tá no nosso inconsciente coletivo, mas que no final deixamos pra lá, pensando que jamais aconteceu ou que nunca acontecerá. Pois se prepare pra ter seu inconsciente coletivo e seu consciente pessoal jogado na lama da imbecilidade humana. Estão querendo vender o Parque da Jaqueira.
Pausa pra digerir a notícia.
Pra quem mora no Recife, essa frase aí em cima poderia ser substituída por “estão querendo vender as pontes do Centro” ou “estão querendo vender a praia de Boa Viagem”. Pra nós, recifenses, daria tudo na mesma. O Parque da Jaqueira faz parte da paisagem da Zona Norte da cidade há décadas, enquanto parque, e há séculos, como um pedaço de verde bem no meio de umas áreas residenciais mais antigas do Recife. Lá tem árvores, principalmente jaqueiras, que já estão há alguns séculos naquele mesmo lugar. É um dos únicos refúgios verdes do Recife e, todos os dias, literalmente milhares de pessoas passam por lá, fazendo Cooper, se exercitando, passeando, brincando com os filhos, andando de bicicleta, namorando, enfim, essas coisinhas à toa que diferenciam a gente dos animais.
E estão querendo vender o parque.
O terreno, pra quem não sabe, não pertence ao povo ou à Prefeitura do Recife, mas ao INSS. E eles querem de volta. Pra que? Advinha. O Bairro da Jaqueira possui o metro quadrado mais caro da cidade. A idéia, claro, é derrubar as árvores, tacar asfalto na grama, remover toda a aparelhagem de lazer, derrubar a capelinha histórica que tem lá e transformar o lugar num condomínio de luxo.
Pausa pra chamar o autor deste blog de mentiroso, boateiro, contador de história e fanfarrão.
Eu queria estar mentindo. Na moral, queria mesmo. Mas vejam a notícia abaixo retirada do respeitado blog Acerto de Contas:
A justificativa do INSS é que qualquer terreno pertencente à instituição é um ativo valioso e deve, portando, estar continuamente gerando lucros. Quanta lógica, não? Então, por que não asfaltar os rios Capibaribe e Beberibe, transformando-os em avenidas e resolvendo o problema de trânsito da cidade? Ou talvez cobrar pedágio nas praias? Tenho certeza que todo dinheiro coletado seria bem empregado pelo governo. Ainda dá pra lucrar muito com o Recife. É só deixar de lado a consciência, a integridade, a sensatez e prostituir a cidade aos interesses das grandes imobiliárias e instituições. Porra Fred, que merda que tu falou agora. Asfaltar os rios. Cobrar pedágio nas praias. Dã, lógico que esses absurdos nunca iriam acontecer.
Pois é, foi o que eu pensei em relação a idéia de construir um shopping no lugar do Hospital da Tamarineira e de transformar o Parque da Jaqueira num condomínio de luxo. E olha onde estamos agora.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Fila da puta


Ninguém gosta de esperar numa fila. Isso é fato. A não ser em casos muito específicos, tipo, você tá na fila do corredor da morte. Aí, você reza pra ser o último. Mas tirando essa situação, ficar em pé por vários minutos e as vezes horas, com estranhos na sua frente e nas suas costas, é uma das piores experiências da vida diária. E bota diária nisso, especialmente no nosso Brasil, país das filas intermináveis, onde a burocracia é esporte e a estupidez vem de fábrica. Não existe fila boa (vide exceção acima), mas algumas são piores do que outras, pelo simples fato de serem mais estupidamente desnecessárias. Nessa categoria, ninguém bate os pontos de recarga do Passe Fácil. Pra quem não sabe, não mora no Recife ou só anda de carro, é lá que nós, pobres pedestres, temos que ir periodicamente fazer a recarga de créditos no cartão, de modo que possamos fazer uso do nosso belo sistema de transporte público. Aposto que a ironia das minhas palavras está escorrendo pelo seu monitor enquanto você lê isso. Mas enfim. O que acontece é que lá no Passe Fácil, existe uma política de nunca deixar a fila parada. Ótimo, né? Quer dizer que a fila está sempre andando, agilizando o atendimento. E se você acreditou nisso, é um tabacudo ingênuo, vá ler outro blog. Não, o que isso quer dizer é que, naquele lugar, o ser humano alcança níveis de imbecilidade jamais sonhados em toda sua História. Veja a foto abaixo:

Deu pra notar o imenso vazio central, marcado no chão por fitas adesivas que indicam o sentido da fila? Agora alguém, em nome da foda, me faça o favor de explicar por que aquele povo tá se espremendo lá atrás e nos lados, perto dos caixas, se tem toda essa merda desse espaço inutilizado no meio? Não faria mais sentido formar uma fila maior no centro do salão, onde as pessoas poderiam esperar confortavelmente (na medida do possível) até chegar sua vez? Em vez disso, se formam filas menores, na frente de cada caixa, que acabam se tornando tão grandes que ocupam o espaço de outras filas! Não, sério. Não tô tirando onda, isso acontece lá todo dia. Fica esse espaço vazio no meio, um monte de fila tronxa na frente dos caixas, todo mundo se apertando, filas invadindo o espaço umas das outras e um espaço inutilizado no meio do salão onde daria pra jogar uma partida de futebol de salão! E tudo pra manter a ilusão de que não existe fila, porque o miolo do lugar fica vazio, enquanto o povo fica se espremendo nas filas menores em frente de cada caixa! Isso é tão epicamente estúpido que eu sinto meus neurônios morrendo só  de estar contando essa história. Pronto, lá se vai mais um.
E esses filhos da puta ainda têm a capacidade de chamar essa merda de Passe Fácil. Ah, mas agora mudou de nome. O cartão se chama Vem. Com certeza, um diminutivo pra Vem Se Fuder Nessa Fila Do Caralho Seu Zé Buceta. O lado bom disso tudo? Me formei! Quer dizer que essa foi a última vez que carrego meu Vem, porque deixei de ser estudante. Agora, tudo o que tenho que fazer é pagar R$ 1,85, em dinheiro, ao cobrador do ônibus e um universo de possibilidades se apresenta pra mim. Na ida. Na volta são mais R$ 1,85. E parece que vai aumentar. Nada como gastar quase 4 reais pra ir e voltar de qualquer lugar, todos os dias. Façam aí as contas.
Mas pelo menos é uma fila idiota a menos que freqüento.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Olimpíadas Pernambucanas


Olha essa foto ai embaixo.

Agora olha essa outra.


Uma delas tem algo muito estranho. Achou o que é? Não, não é o asfalto mal-feito da primeira foto, que deixa a pista quase na mesma altura da calçada e cria um abismo entre elas. Não, a escrotice tá mesmo é na segunda foto. Pois é, nela, o carro está na calçada, não na rua. Bem-vindo as Olimpíadas Pernambucanas. O esporte de hoje é “passeio na calçada com MUITOS obstáculos”. Não bastasse o lixo, os buracos e a véia que se faz passar por mendiga quando na verdade é dona de metade da favela, ainda por cima rola essa galera que bota o carro em cima da calçada. Tipo, onde os pedestres deveriam estar. E aí, claro, a gente é obrigado a transitar pela rua. Tipo, onde os carros passam. Dá pra perceber aí o potencial pra acidentes horríveis seguidos de mutilação e\ou morte? Agora, se eu pirasse e andasse por cima dos capôs dos veículos, eu estaria errado, já que minha calçada me foi negada? Como sou frouxo e tenho medo de levar bala do dono do carro, provavelmente jamais vou descobrir. Mas que emputece, emputece.
A segunda foto foi tirada em frente ao bar O Bode – Entre Amigos, de Boa Viagem. Quem já foi lá, sabe que o lugar está sempre lotado. Sempre mesmo. Todas as horas, todo santo dia. O dono vendeu a alma e o rabo ao diabo, só pode ser. Mas aí é outra história. Enfim, o que acontece é que o lugar é movimentado e as ruas ao redor se enchem de carros, que logo começam a invadir as calçadas quando não acham mais lugar pra estacionar. O curioso é que a CTTU nunca aparece por lá pra tomar uma providência. Seria do interesse dos pedestres que as autoridades saíssem multando os invasores de calçada até enjoar, mas pro dono do bar, nem tanto. Afinal, pra que gastar dinheiro construindo um estacionamento pros clientes quando tem tanta calçada aí, parada, terreno improdutivo, pedindo pra ser ocupadas pelos carros? Sai mais barato chamar os caras da CTTU pra tomar um caldinho, beber uma cerveja, beliscar um queijo na brasa, sabe como é.
Política da boa vizinhança.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Reclamar faz bem!




Ah, nada se compara à satisfação de ficar sabendo que um hábito horroroso que você cultiva traz, de forma cientificamente comprovada, benefícios pra sua saúde! O Dr. John Brantner, professor de Psicologia da Universidade de Minnesota, chegou à conclusão de que os reclamões vivem mais do que, bem, o resto da humanidade. Em um estudo feito com pacientes de câncer, observou-se que aqueles que reclamavam, faziam confusão, enchiam o saco das enfermeiras, jogavam merda nos médicos, enfim, os não-passivos, mostravam sinais de melhora mais rapidamente do que os outros, otários que ficavam na deles e não exigiam melhores condições de tratamento de todos à sua volta.
Além disso, reclamar em conjunto, tipo indo a passeatas exigindo o fim dos testes de laboratório com animais ou a volta da Ruffles Twist, se caracteriza como um evento social complexo e esse tipo de interação com outros seres humanos (mesmo sendo tão chatos e reclamões quanto você) possui efeitos benéficos em nossos organismos.
Se alguém aí não tiver a fim de acreditar em mim e quiser conferir a veracidade dessa viagem toda, aí vão os links:
Por isso, chega de ser um reclamão retraído. Libere seu verdadeiro eu (mas sem frangagem) e saia por aí atazanando as pessoas, reclamando a torto e a direito. Pra quem gosta de reclamar e achava que o coração ia explodir de tanto fazer isso um dia, essa foi a melhor notícia em anos.
É mais ou menos como descobrir que comer bacon, na verdade, desentope as artérias.

terça-feira, 23 de março de 2010

Na cozinha II






Salmão ao molho de maracujá, com arroz branco e farofa de banana. E cadê a reclamação, você pergunta. Simples. A gente tem um trabalho do caralho pra fazer tudo, lava uma pilha de pratos e panelas depois e, na hora de comer, você percebe que Deus, mantendo as mesmas manias da época do Velho Testamento, resolveu te sacanear levando sua fome embora. Aliás, em 99% das vezes que eu cozinho, eu perco a fome assim que tá tudo pronto. Fica o prato intocado, você com cara de otário e alguma entidade escrota sorrindo malevolamente. O que me leva a seguinte conclusão: o que dá fome mesmo não é exatamente a falta de comida, mas sim saber que outra pessoa cozinhou pra você.
A preguiça é o melhor tempero.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Aprendendo japonês II




Agora é oficial: estudar japonês contribui de maneira definitiva para o desenvolvimento de surtos psicóticos aleatórios. Cuidado ao entrar no elevador. Se o cara lá dentro murmura palavras ininteligíveis para si próprio, dardeja o olhar pelos cantos nervosamente e carrega um livro com símbolos bizarros, corra. Você está a um passo de ter um hashi enfiado no cérebro ou pior. Se tentar aprender japonês, por si só, já destrói toda sua auto confiança, imagina quando na sala tem gente que sabe MUITO mais do que você (o que, na verdade, nem é tão difícil assim de acontecer) e faz questão de demonstrar isso com prazer sádico a cada oportunidade?
E como é que eu sei que o sabe-tudo da aula faz isso de propósito? Porque EU era o sabe-tudo das aulas de inglês, lá pela época que ainda nem tinha barba. Isso mesmo, barba. O primeiro que rir, morre, não tô legal, já falei. Mas então, agora que sou apenas mais um coitado na aula de japonês, passei a odiar o sabe-tudo. Esse espécime inferior da raça humana consegue, de forma cruel e deliberada, demolir nosso amor-próprio, com apenas algumas respostas certeiras e rápidas. Ele não hesita. Mata. Abaixo o sabe-tudo! O sabe-tudo fudeu minha vida na aula de japonês! Eles não têm direitos, apenas defeitos! Que demorem 15 minutos respondendo as mais simples perguntas, como o resto de nós, retardados. Que gaguejem envergonhados ao sentirem os olhares do resto da turma sobre eles, como o resto de nós, imbecis. Se protestarem, bala.
Mas tô aceitando ajuda com o dever de casa, beleza?