sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O futuro

Não é todo dia que a gente encontra o reflexo do próprio futuro.







Esse é um desses dias. E, seu Fernando, um abraço para o senhor!

Um dia, eu chego lá.






quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Histórias que os homens contam, parte IV ou A triste história de Ataulfo






Ataulfo era um rapaz normal, saudável, bem apessoado, estudioso e possuía apenas dois vícios: videogame e mulheres. Sim, Ataulfo não era uma pessoa original, mas nem por isso menos feliz. No início dos anos 2000, a febre no Recife eram os cybercafés que se espalhavam pela cidade como vírus eletrônicos, com jogadores de todas as idades se agrupando em clãs que se digladiavam virtualmente em espetáculos repletos de violência, morte e pizza barata. Uma dessas casas era, inacreditavelmente, frequentada por um limitadíssimo e altamente específico público feminino, sempre nas madrugadas, horário em que as meninas, entre um cliente e outro, apareciam para relaxar das agruras da lida diária, ou melhor, noturna. Ataulfo, que já era velho demais para ter hora de ir para a cama, porém muito jovem para ter alguma responsabilidade concreta naquela altura da sua vida, era assíduo dessas noitadas, em uma época em que ver uma garota, independente de sua linha de trabalho, estraçalhando seus amigos no Counter Strike era o equivalente a comparecer ao folclórico enterro de anão, só que todas as noites. Empreendedor, Ataulfo tomou coragem e propôs, junto ao proprietário da Lan House, uma pequena festa com as coleguinhas. Um diminuto e seleto grupo de sócios foi formado e a tertúlia marcada para a madrugada seguinte, quando a casa, excepcionalmente, fecharia suas portas para uma “manutenção preventiva”.



"Qual de vocês é o técnico de rede...?"



Já antevendo as indizíveis aventuras sexuais que faria parte naquele dia, Ataulfo decidiu não fazer feio e adquiriu um produto próprio para o afobados e aqueles que desejam fazer seu desempenho render por períodos de tempo não naturais: um espécie de anestésico em aerossol, com o objetivo de diminuir a sensibilidade do homem e aumentar, digamos, seu tempo de vida útil durante o ato. Na noite marcada, lá estava Ataulfo ao lado dos seus amigos, partidas de Unreal Tournament entremeadas por desinibidas demonstrações de afeto por parte das meninas da noite. Quando sentiu que a celebração se aproximava do seu ápice, Ataulfo correu para o banheiro levando sua arma secreta. Um tanto nervoso, leu as instruções do produto, ansioso para retornar à festa. O rótulo afirmava que a aplicação era local e que duas doses do spray bastariam para atingir os resultados anunciados.

Ataulfo aplicou 27 vezes.

Na ânsia de entrar para a história das Lan Parties recifenses como um verdadeiro maratonista sexual, Ataulfo exagerou na dosagem. Tanto que, quando o anestésico fez efeito, perdeu não apenas a sensibilidade de sua bilola, mas também de toda a região da virilha e de boa parte de ambas as pernas. Se arrastando pateticamente para fora do banheiro, conseguiu, com muito esforço, se posicionar de forma mais ou menos digna sobre uma poltrona. Por mais que se concentrasse, simplesmente não conseguia comunicação alguma com sua pitoca, que estava, literalmente, dormindo em serviço. Uma das garotas se aproximou de Ataulfo, que engoliu em seco e, pela primeira vez me sua vida, desejou com todas as forças estar a quilômetros de distância de qualquer mulher.

- Ataulfo, é hoje...vai, mostra quem é que manda nesse jogo...

O pobre rapaz se esforçou até sentir lágrimas escapando dos olhos. Desesperado, encarava raivosamente a própria região pélvica, esperando desenvolver subitamente alguma disciplina Jedi que o fizesse levantar, com a força da mente, aquele amontoado de carne morta. Nada. Frustrada, a garota perdeu a paciência e resolveu partir para a ignorância.



"Braguilha de botão? Quem diabos usa braguilha de botão?!"



- Ataulfo, deixa da tua frescura! Tá todo mundo pelado aqui. Tira essa calça agora, vai!

- Não! Pelo amor de Deus, não!

A menina arrancou, com a maestria que a profissão exige, as calças amarrotadas de Ataulfo. Ao ver aquela protuberância mole apontando tristemente para o chão, a moça virou-se para os outros participantes da festa e sentenciou a plenos pulmões:

- ATAULFO É UM RÔLA DE BORRACHA!

Quando, depois de três dias de angústia e pensamentos suicidas, ele finalmente sentiu uma tímida ereção acarretada pela tradicional, embora largamente subaproveitada, tesão da mijada matinal, Ataulfo chorou. Já o apelido, Rôla de Borracha, pegou na mesma hora e o acompanharia pelo resto de sua vida amargurada.

Essa história, ninguém o deixaria esquecer.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Histórias que os homens contam, parte III




Existe apenas um aspecto de sua vida sexual no qual o homem se sente mais ou menos livre para aumentar ou, dependendo da ingenuidade da sua plateia, criar histórias tão fantásticas quanto absurdas: sua performance na cama. Evidentemente, a veracidade do boato pode ser confirmada junto à companheira (ou ao companheiro) de aventuras do historiador em questão, mas as pessoas raramente chegam ao ponto de interrogar os participantes dessas singelas ficções eróticas. Preferem, ao menos no caso do público masculino, elaborar situações ainda mais estapafúrdias, perdendo por completo o senso de ridículo simplesmente com o intuito de contar vantagem e angariar um módico de respeito junto aos seus pares. É relativamente comum entreouvir, em uma mesa cheia de machos, afirmações desse porte:

- Vocês tão é por fora! Peguei a doida ontem, levei pro motel, dei três seguidas e só não rolou mais uma porque o tempo acabou!

Os companheiros ao redor meneiam suas cabeças com gravidade e aprovação.

- Isso não é nada! Arrastei a nêga lá pra casa ontem, meti a noite toda e ela ainda gozou dezessete vezes! Dezessete! Fora os múltiplos!

Boquiabertos, os amigos saúdam o narrador. Uns ensaiam palmas circunspectas, outros erguem uma das sobrancelhas questionando a veracidade do relato.

- Bando de incompetentes! Arriei a madeira em três só ontem! Ao mesmo tempo! Não me perguntem como, mas eu consegui! E elas todas se pegaram loucamente na minha frente! Bem na minha frente!

- Bem, isso realmente é impress...

- E eu já contei que eram todas da mesma família? Sim! Filha, mãe e avó! Avó! HAHAHAHAHAHAHA! Quero ver alguém superar essa! Ah, dona Teresa, que saudade daquele pão de ló, viu...

Trêmulos, os demais convivas se levantam da mesa, alguns tropeçando de pura indignação. Aproveitam-se do estado semi-catatônico do último contador de histórias, perdido em recordações de dona Teresa e seus dotes erótico-culinários, para escapar de mansinho, ao mesmo tempo em que pedem a Deus e a todos os santos que nada daquilo seja verdade.

Eu mesmo já havia presenciado um desses trovadores sexuais em ação. Alguns anos atrás, um aluno meu confidenciou-me, sem o menor estímulo da minha parte, suas aventuras do último final de semana. Depois de discorrer por minutos acerca dos invejáveis dotes físicos de sua companheira, lançou a bomba:

- E nesse dia, teacher, foram nove. Juro pela fé de Abraão.

Aquela revelação fez meu queixo cair e minhas nádegas se contraírem de terror. Por puro instinto de autopreservação, detectei o local da parede onde se encontrava a viga de sustentação, feita de aço sólido. Lá, aterrorizado com a perspectiva de ser atacado por aquele selvagem e passar a fazer parte de suas estatísticas desumanas, encostei meus glúteos tensos e refleti sobre o que poderia haver de verdade naquela história. Os homens, convenhamos, funcionam de um jeito diferente das mulheres. O orgasmo é capaz de exaurir tanto eles quanto elas, mas o macho, ao menos quando originário do planeta Terra, precisa de algum tempo para se recompor. E tem seus limites. Chega uma hora em que nada mais fica de pé, por mais que se estimule. Se bem que é difícil imaginar uma mulher que já não esteja satisfeita lá pela terceira ou quarta, a não ser que as primeiras tenham sido muito mal dadas. Coisa que, infelizmente para todos os envolvidos, acontece com bastante frequência. É por isso que alguns homens, ansiosos em levar suas companheiras à plenitude do prazer, chegam a extremos que, no pior dos casos, pode deixar suas vidas em risco e no melhor, fere de morte sua dignidade. 

A história que será contada no próximo post ocorreu com um rapaz que, por motivos legais, será chamado aqui de Ataulfo.