sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Meus momentos mais constrangedores: Top 10 - 2º e 1º lugares





2º Lugar: O bom motorista


Estava dirigindo de volta para casa, cansado e, por algum motivo que não me vem à memória agora, um tanto mal-humorado. Ao pegar a rua que levava á minha casa, cheia de carros estacionados de ambos os lados, me deparei com um veículo vindo na contramão. Não faço o tipo brigão e, como eu estava bem no começo da rua, em qualquer outro dia eu teria dado uma ré curta e deixado o outro motorista passar. Mas naquela noite, senti meu sangue ferver ao me deparar com esse evidente abuso no trânsito. Parei o carro e me recusei a movê-lo. À minha frente, o senhor de idade um tanto avançada buzinava, mandava luz alta nos meus olhos e gritava. Isso apenas fortaleceu a minha resolução. De repente, senti que era a hora de alguém representar todos aqueles cidadãos cumpridores das leis de trânsito, verdadeiros motoristas defensivos, que acabavam sendo considerados os otários das ruas das grandes cidades, justamente por respeitarem as regras e guiarem com cuidado. O pensamento de resistir à tirania dos barbeiros, ainda que de forma solitária, me enchia de uma coragem quase catártica.

O velhinho vociferava palavras sem sentido enquanto eu me imaginava sendo carregado através das avenidas congestionadas nos braços dos bons motoristas, sendo aclamado como o herói que não se rendeu aos desmandos dos domingueiros que teimavam em tornar o tráfego da minha cidade um inferno diário. Em êxtase, nem ao menos estranhei o fato de que uma fila de carros se formava atrás do velhinho, que naquele momento já exibia um tom arroxeado no rosto enrugado. Decidido a fazer valer meus direitos, exclamei para os carros á minha frente, projetando minha voz para que fosse ouvida sobre a sinfonia de buzinas enlouquecidas:

- Não adianta! Daqui não saio! Não irão me derrotar! Vocês, que estão na contramão, que deem ré!

Ao que uma voz apoplética respondeu, berrando selvagemente:

- QUEM TÁ NA CONTRAMÃO É VOCÊ, SEU FILHO DA PUTA!

De repente, tive a sensação de algo estava terrivelmente errado ali. Olhando para a minha esquerda, finalmente vi a placa que indicava que, de fato, eu estava vindo no sentido errado. Como uma tijolada, me veio à memória de que o DETRAN havia invertido a mão daquela via alguns dias atrás, evento amplamente divulgado e comentado, mas que meu cérebro obtuso, por motivos que escapam à minha compreensão, havia decidido deletar da minha memória. Humilhado, dei ré e encostei o carro na esquina, enquanto uma fila interminável de carros portando motoristas enfurecidos passava por mim, todos eles xingando a mim e toda a minha ascendência de maneiras criativas e pornográficas. 

Depois desse dia, eu nunca mais andei de carro por essa rua.



1º Lugar: Porta fechada


A vida é uma coisa injusta. Acompanhem meu raciocínio. Qual o período de nossas vidas em que mais pensamos em sexo, mais temos disposição para sexo e, provavelmente, mais temos tempo para praticar o ato? Se você respondeu “adolescência” é porque já passou por essa fase e tem todas as cicatrizes de espinhas e pôsteres de cavaleiros do Zodíaco para provar. Paradoxalmente, porém, que momento de nossa existência é mais desprovido de oportunidades para dar uma, seja por falta de local, grana, carro, infraestrutura básica ou membros do sexo oposto (ou o que quer que você prefira) com disposição para a coisa? Pois é. A maldita adolescência. Hormônios enlouquecidos, mãos cabeludas, penteados escrotos, aparelhos ortodônticos e muita vontade de transar. E a não ser que sua vida se passe em um filme de comédia teen americano, é provável que você passe por essa fase sem ter tantas histórias para contar.

A não ser que você faça como eu fiz e arrume uma namorada. Claro, acabei perdendo algumas noitadas de Doom II regado a vinho Carreteiro e ouvindo Offspring com os amigos, mas em compensação eu possuía acesso a uma fêmea verdadeira, que nem aquelas das revistas, anatomicamente correta e, o que era mais incrível, disposta a fazer sexo comigo. Como sobrava vontade, mas faltava transporte, geralmente ficávamos no quarto dela mesmo. O fato de a minha sogra estar sempre em casa não era detrimento para a nossa lascívia juvenil. Ousados, tínhamos apenas duas medidas de segurança naquela época: camisinha e porta fechada. Mas não trancada, porque o trinco estava com defeito. Para que a porta não se abrisse na primeira ventania, usávamos um pedaço de pano para fazer pressão e manter no lugar a única coisa que nos separava do resto da casa. Funcionava, desde que ninguém tentasse, de verdade, abrir a porta. Foi então que Deus, decidindo que aquela mamata já durava tempo demais, decidiu me ensinar uma lição de humildade, com formação completa em trauma inesquecível e pós-graduação em cicatrizes mentais. Estávamos eu e ela na cama, pelados, já em ritmo acelerado, quando ouvimos uma batida na porta. Suspense.


Minha namorada: ...oi...?

Minha sogra: Minha filha, abra que eu preciso pegar uma roupa aí no seu quarto.

Eu: ...

Minha namorada: Mãe, agora não dá.

Minha sogra: Não dá por quê?

Minha namorada: Porque não dá.

Eu: Melhor a gente parar por aq...

Minha namorada: Não! Nada disso!

Minha sogra: O quê? Como assim?

Eu: Mas tua mãe...

Minha namorada: Relaxa. Ela não é doida de entrar assim, sem permissão.

Minha sogra: Tô entrando.

Minha namorada: NÃO!

Eu: GAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!


E então ela abriu a porta. Não toda, apenas o suficiente para observar todos os detalhes morfológicos da minha bunda, nesse momento compreensivelmente tensa, em cima de sua filhinha. 


Minha sogra: Filha!

Minha namorada: Mãe!

Minha sogra: Fred!

Eu: Hmm. Oi. Tudo bem com a senhora?


Lívida, a mãe da menina tornou a fechar a porta, tendo a consideração de recolocar o pedaço de pano no lugar. E assim, aos 17 anos de idade, finalmente entendi o significado da expressão “broxada”. Naquele dia, só tive coragem de sair daquele quarto depois que minha sogra havia se retirado para dormir. Voltei para casa cabisbaixo, sem saber bem como lidar com a situação e imaginando que tipo de relação pode sobreviver quando tanto sua namorada quanto a mãe dela conhecem em detalhes a sua geografia íntima. No dia seguinte, recebi uma ligação dela. Da filha, não da mãe, querendo me encontrar em sua casa para conversarmos. Já tinha ideia do teor da discussão e já havia me resignado ao retorno de uma vida povoada apenas por amigos cabeludos, gibis de super-heróis e revista de mulher pelada. Quando cheguei, ela me pegou pela mão, me levou até seu quarto e, sorridente, apontou para a porta do seu quarto. Ela havia mandado consertar o trinco de forma que a porta, um tanto tarde demais, já podia ser trancada de chave. Ainda ficamos meses juntos e durante todo esse tempo, nem uma única vez a mãe dela sequer bateu na porta do quarto.

Foi a única vez na minha vida em que dividi minha bunda com mais de uma mulher.



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meus momentos mais constrangedores: Top 10 - 4º e 3º lugares





4º lugar: Cinema com minha mãe


Eu dificilmente vou ao cinema com a minha mãe, mas quando isso acontece, tento escolher um filme que eu acho que ambos vão gostar. Nesses casos, um bom filme de terror ou uma comédia são as melhores alternativas. Como na época a primeira opção andava escassa, resolvi, sem raciocinar direito, convidar a coroa para uma exibição de O Anticristo, de Lars Von Trier. Ingênuo, pensei que se tratava de um filme de terror comum, envolvendo um tanto de sangue, talvez alguns desmembramentos e, por que não, um ou outro peitinho, no máximo, só para quebrar a rotina de mutilações e gritos adolescentes. Sabe como é, entretenimento para toda a família.




 Na foto: entretenimento para toda a família.




Acontece que Von Trier não parece ter lá muita noção do que é diversão familiar. Ou talvez tenha e estava simplesmente a fim de me sacanear. O filme é uma das coisas mais doentias e absurdas que já vi na minha vida, com imagens que ficarão gravadas para sempre na minha mente. Claro que você poderia argumentar que eu deveria ter prestado mais atenção antes de levar minha progenitora para ver um filme desse calibre, mas assistindo ao trailer ninguém poderia adivinhar o nível de bizarrices aos quais seríamos expostos.







Sem contar, claro, com a bunda de Willian Dafoe.




De forma que, por cerca de duas horas e meia, tive que testemunhar, ao lado de uma mãe horrorizada, esse tipo de cena:


- Bebês suicidas se espatifando em calçadas cobertas de neve.

- Fodelança em câmera lenta no banheiro, com close das genitálias, enquanto o bebê acima mencionado brinca de super-homem pela primeira e última vez na vida.

- Atos de felação, sodomia e, de maneira geral, putaria, praticamente a cada quinze minutos.

- Masturbação com ejaculação de sangue.

- Mutilação de membros e genitálias em detalhes grotescos e altamente realistas.


Entre outras coisas. Ao final da sessão, eu choramingava em um canto, agarrando meus joelhos, enquanto algumas poucas pessoas permaneciam em suas poltronas paralisadas pelo trauma, tendo que ser encaminhadas para alguma emergência psiquiátrica logo depois. Minha mãe permaneceu em silêncio ao sairmos do cinema e, sem olhar para mim, declarou “Filme doido da muléstia. Gostei muito não”. Morto de vergonha, só me restou o consolo de que podia ter sido bem pior.

Podia ter sido em 3D.



3º lugar: Alistamento


A não ser que você more em um país como Israel, o serviço militar só será obrigatório para a parcela masculina da população. Aos dezoito anos, todo brasileiro precisa se apresentar no quartel mais próximo e torcer para que os oficiais encontrem algum defeito físico ou mental em você. Caso contrário, vai ser necessário se preparar para passar pelo menos um ano vestindo roupas camufladas e limpando as latrinas dos oficiais. Como quase ninguém quer ficar na corporação, o pessoal inventa qualquer negócio para escapar à convocação. É gente que aparece mancando por causa da unha encravada e alegando que não pode servir à pátria graças a um infeliz câncer nos ovários. Vale tudo para escapar.

É por isso que existe o exame médico. Como os militares não têm muito tempo, espaço e paciência para acomodar as milhares de pessoas que precisam se apresentar todos os anos, o exame costuma primar pela praticidade. Em outras palavras, os candidatos são largados em algum galpão esquecido por Deus e obrigados a tirar a roupa, sob os olhares sádicos dos sargentos de plantão. Tudo bem, não é a roupa toda. Só a calça e a cueca. Camisa e sapatos ficam, afinal o Exército Brasileiro não quer ninguém pegando um resfriado. É nesses momentos que se observa com mais clareza o comportamento humano, mais especificamente do gênero masculino, em sua forma mais primária. O instinto do homem faz com que ele, automaticamente, procure dar as costas para alguma superfície inerte, como um muro de concreto ou uma cerca eletrificada. Com a retaguarda mais ou menos protegida, chega a hora de lutar contra tudo aquilo que lhe foi ensinado desde os tempos de criança e baixar suas defesas, junto com suas calças, em uma enorme sala cheia de outros homens, também com a bilola de fora. Muitos se desesperam nesse momento e saem correndo, eventualmente tropeçando nos próprios cintos e sendo levados aos gritos para uma sala secreta onde exames mais aprofundados e um tanto mais ríspidos tomam lugar.




 Correu porque sabia que isso ia acontecer, né safadinho?




Os sobreviventes se encontram em um estado de tensão absoluta. Músculos latejam sob a pressão insuportável que é uma sala cheia de machos sem roupa, desde que, claro, não seja algum tipo de sauna. O mais difícil, aqui, é decidir para onde dirigir o olhar. Você sabe que as pessoas ao seu lado estão tão constrangidas quanto você e que, afinal, um caralho é um caralho, o que muda é apenas o tamanho e a cor. E o formato, caso você tenha nascido com problemas. Mas esse conhecimento em nada alivia o nervosismo, fazendo com que a maioria dos homens decida que a melhor estratégia é olhar para cima, livre da visão de genitálias alheias e, aproveitando a postura, muitos acabam rezando aos céus para aquilo terminar logo. É então que os médicos do exército, brutos que só eles mesmos, começam sua ronda pelo patético círculo de homens despidos, tecendo os mais variados comentários.


- Meu filho, não lava não, é?

- Tem certeza de que você é homem?

- Desliga o ar-condicionado que o desse aqui tá quase virando pra dentro!

- Em formato de C? Sério? É de família, é?

- Posso tirar uma foto?

- Corre e chama o Dr. Fragoso! Apareceu mais um daqueles anormais!

- Baixa essa porra agora ou eu mando te prenderem.

- Assim, tatuado, eu nunca tinha visto. Quem é “Clemys”?

- Eita, esse aqui tem um ovo só também, ó!

- Você já trabalhou no circo?

- Marca de batom? Noite boa, heim?

- O que importa não é o comprimento e sim o diâmetro. O que, no seu caso, não faz a menor diferença.


E por aí vai. No final, os doutores decidem quem está apto a servir e quem pode ir para casa tentar restaurar um pouco da dignidade perdida. Por sorte, consegui ser dispensado por “excesso de contingente” e nunca mais na vida botei o pé em um quartel.

Pelo menos não sem as minhas roupas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meus momentos mais constrangedores: Top 10 - 5º lugar










Detesto fazer cirurgias. Além do risco do estagiário trocar os prontuários e você acabar com um par de próteses de silicone quando na verdade você só queria operar a fimose, ainda existe a chance de o anestesista errar a dosagem e te colocar em coma ou de você sofrer um choque anafilático devido à intolerância relacionada a alguma substância desconhecida, te transformando no equivalente intelectual de um repolho cozido. Isso sem falar naqueles objetos estanhos que os cirurgiões insistem em esquecer dentro das pessoas, causando transtornos físicos e cicatrizes mentais.




 Eu juro que não sei como isso foi parar aí.




Mas antes que isso tudo aconteça, é necessário se preparar para a cirurgia, um procedimento que parece ter sido criado com o único intuito de obliterar a dignidade do paciente. E foi o que aconteceu comigo quando precisei remover os sisos. Sabem, aqueles dentes desnecessários, que só servem para causar dor, inflamações e para mostrar ao mundo que você é um troglodita tão estúpido que chegou atrasado ao trem da evolução, saindo por aí com órgãos absolutamente supérfluos, como o apêndice, as amígdalas e o dedo mindinho do pé.




 Mas alguma pessoas são menos evoluídas do que outras.




Cheguei no hospital e me colocaram em um quarto, onde uma enfermeira com expressão bovina me mostrou as roupas que eu deveria vestir para a intervenção cirúrgica: meias descartáveis que me faziam escorregar, uma touca muito semelhante à que minha avó usa para dormir e uma espécie de avental semitransparente atado nas costas, deixando à mostra minha bunda visivelmente tensa. Quando protestei contra aqueles trajes ridículos, a enfermeira sorriu maniacamente, se aproximou e começou a baixar minhas calças. Horrorizado, perguntei o que ela pensava que estava fazendo. Eficiente, ela informou que eu tinha cirurgia marcada, que só se podia entrar na sala de cirurgia com aquelas roupas e que, já que eu me recusava a cooperar, ela me iria me despir à força mesmo. Era de uma lógica cristalina e irrefutável. Depois de uma curta negociação, concordei em trocar de roupa no banheiro. Voltei me sentindo pronto para sofrer, e talvez até mesmo estimular, qualquer tipo de abuso sexual. 

Tímido, me deitei na cama enquanto a enfermeira aplicava o soro na minha veia, junto com o primeiro analgésico. Não sei se a intenção era essa, mas assim que o medicamento entrou no meu sistema, eu caí em um estado de semiconsciência, incapaz das mínimas funções motoras. Tenho apenas uma enevoada lembrança de ser atirado em uma maca, implorando pelas minhas calças. A sala de operações devia ser bem longe do quarto, ou talvez a enfermeira tenha se perdido várias vezes, mas me recordo que a viagem até o bloco cirúrgico durou várias horas, nas quais eu era exibido pelos corredores como aqueles carrinhos de sobremesa dos rodízios de carne. Alucinado, eu tentava de alguma forma cobrir a bilola, exposta ao vento frio e aos olhares críticos de médicos, auxiliares, visitantes e outros pacientes, enquanto a enfermeira debilóide me empurrava sorridente até o meu destino. Com um estrondo, passamos por uma porta dupla e tudo ficou escuro. Acordei dolorido, inchado e enjoado. Em um vidrinho na cabeceira da cama estavam os meus dentes, a razão de toda aquela desgraça. 

Ao lado, acondicionada em um recipiente bem menor, encontrava-se o que restava da minha dignidade.