sábado, 12 de junho de 2010

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À nação reclamenáutica, um aviso: o Blog da Reclamação passará por profundas modificações nos dias que virão. Após consultas com publicitários, fotógrafos de moda, webdesigners, atores globais, BBBs, o Prefeito, astrólogos e o mendigo que fica perto da padaria, lá na esquina do trabalho, o Blog sofrerá uma intervenção estética, ficando ainda mais atraente, gostosinho e cútchi-cútchi. Haverão outras novidades também, mas é tudo segredo por enquanto. A equipe do Blog da Reclamação, composta por 347 funcionários fixos e um sem número de terceirizados, tem se esforçado muito nessas últimas semanas e todos esperamos que vocês, leitores, gostem das mudanças.

Fiquem ligados e acompanhem o novo Blog da Reclamação.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Constrangimento sanitário II




Extremos esses que, para muitos, são preferíveis ao constrangimento público. O que me lembra a história, dizem que verídica, do cara que foi conhecer os sogros. Parece que se passou aqui no Recife mesmo onde, afinal de contas, tudo acontece, mas poderia ter sido em qualquer lugar. As boas histórias são, enfim, atemporais e independentes de limitações geográficas. Então. Haviam começado a relação há pouco tempo, estavam bastante apaixonados e o rapaz havia sido convidado a conhecer os progenitores da namorada em um jantar na casa da mesma. Um pouco nervoso, mas confiante, colocou sua melhor roupa, pensou em elogios para a comida da sogra, preparou comentários positivos acerca do time de futebol do sogro, levou uma rosa e se dirigiu ao fatídico banquete.
Lá chegando, causou uma ótima impressão e até riram de suas piadas ensaiadas. Depois de um ótimo jantar, reuniu-se com a namorada e sua família na sala de estar e seguiram conversando sobre amenidades. Tudo ia bem, até que o rapaz sentiu uma pontada na altura das costelas. Algo no banquete não lhe havia caído bem. Respirou fundo e tentou se concentrar no que o pai da sua namorada falava acerca dos benefícios de uma apólice de seguros. Mais uma pontada, violenta, quase lhe faz saltar do sofá. Já bastante alarmado, o namorado cautelosamente descruza as pernas e se pergunta se seria possível inventar uma desculpa plausível, voar escada abaixo, atravessar a cidade de ônibus e chegar em casa, evitando assim um desastre. Impossível. Com a testa porejada de suor, percebe que sua única chance é se utilizar do banheiro da casa da namorada, da forma mais discreta possível. O rapaz pede licença e se retira para o sanitário, caminhando à uma velocidade inversamente proporcional à sua urgência. Finalmente chegando, tem tempo apenas de sentar-se, baixar as calças e deixar a natureza agir da forma mais rápida e discreta possível. Aliviado, estende a mão para a direita em busca do papel higiênico e, ao fazê-lo, sente um terror gelado descendo pela sua espinha.
Não havia papel.
Sentiu uma súbita fraqueza em suas pernas, mas forçou-se a ficar de pé e procurar um rolo sobressalente. Nada. Desesperado, chegou a considerar a janela como uma rota de fuga, mesmo estando no terceiro andar. Mais tarde, poderia elaborar uma história qualquer acerca de abduções alienígenas para justificar seu desaparecimento do banheiro fechado. Foi então que lhe veio a idéia, Se não podia usar papel, ao menos poderia se lavar. Pensou no chuveiro, mas seria difícil imaginar um motivo para justificar seu uso e todos o escutariam da sala. Restava a pia. Desajeitadamente, conseguiu subir no balcão e, de maneira bastante precária, alcançar a torneira. Mais calmo, procedeu à tarefa de se lavar, já imaginando que a noite, junto com sua dignidade, poderia, afinal de contas, ser salva. Foi então que escutou um estalo seco. Assustado, olhou ao redor, mas não conseguiu atinar para a fonte do barulho. Mais um estalo, dessa vez bem mais alto que o anterior. Apressou-se. Já havia quase terminado o procedimento quando a antiga pia de granito finalmente cedeu sob seu peso. Com um estrondo ensurdecedor, balcão, pia e bunda foram ao chão. A família, já um tanto nervosa com a prolongada permanência do rapaz no sanitário, saltou do sofá em um movimento sincronizado. O sogro, preocupado, esmurrou furiosamente a porta do banheiro, sem obter resposta.   Decidindo por uma ação mais enérgica, o homem decide aplicar um pontapé na porta, que se abre com estardalhaço, pedaços de maçaneta e lascas de madeira voando por todos os lados. Dentro do banheiro, o rapaz encontrava-se desmaiado, as calças arriadas até a altura dos joelhos e um imenso corte atravessando ambas as nádegas horizontalmente, criando uma espécie de X em seu glúteo. Horrorizadas, namorada e sogra observaram enquanto o rapaz, que sangrava profusamente, era enrolado em uma toalha e levado para o pronto-socorro pelo sogro. Três dias e 27 pontos depois, o namoro, compreensivelmente, chegava ao fim. E assim, ficamos com uma importante lição claramente ilustrada pela história.
Nunca, jamais use um banheiro que não seja o seu.

Constrangimento sanitário




 




O ser humano, dotado de uma inteligência superior, que o separou dos outros animais, sempre passou sua existência criando. Criando ferramentas para facilitar sua vida, roupas para se proteger dos elementos, armas para enfrentar seus inimigos. Inventou linguagens, leis e regras sociais e no meio disso tudo acabou, inadvertidamente, desenvolvendo o sentimento mais predominante entre os relacionamentos interpessoais, não importando de qual tipo: o constrangimento.
A vida, sabemos, não passa de uma estranha, cômica e irritante sucessão de constrangimentos, geralmente bastante públicos. As mesmas regras sociais que facilitam nossa relação com outras pessoas são as mesmas que nos expõem ao ridículo e conduzem a situações tão embaraçosas que tivemos que criar um profissional específico apenas para aprender a lidar com elas e o trauma deixado pelas mesmas; o psicólogo. Mesmo assim, o constrangimento jamais cessa, pode apenas ser contido e trabalhado, na maioria dos casos. Não nos enganemos. Viver é se constranger. E dentre as, literalmente, milhares de situações constrangedoras vividas por um ser humano, poucas possuem tanto potencial de embaraço quanto o ato de ir ao banheiro.
Uma necessidade extremamente básica, mas que assume uma enorme complexidade quando colocada em contexto com a convivência com outras pessoas. A verdade é que vamos ao banheiro para satisfazer uma necessidade biológica, mas também para ter um momento apenas nosso. Dentro daquele recinto fechado, pequeno e azulejado, temos tempo para nos concentrar em nós mesmos, nossas deficiências, falhas de caráter e desvios de personalidade. O fato de estarmos enclausurados com nossos dejetos, ainda que por poucos minutos, nos força a, literalmente, encarar um lado nada bonito de nós mesmos. Mas é também um momento de nos sentirmos mais conectados com o resto do mundo, ao realizar um ato comum à toda humanidade. Realizar as necessidades já unia as pessoas muito antes do advento da Internet. Nem todos possuem a oportunidade de esquiar nas neves de Bariloche, escalar o monte Everest, mergulhar nos mares cristalinos do Caribe ou se deliciar com uma tapioca observando o pôr-do-sol na Sé de Olinda.
Mas todo mundo caga.
Pois é. Todo mundo caga. Você leitor, caga. Sua avó, caga. Gisele Bündchen? Caga. David Beckham? Nem queria saber. Sua namorada? Adora dar uma barrigada. Sabe aquele boysinho que você pegou na balada? Tinha acabado de arriar o barro. Todo mundo, em algum momento, precisa brincar de jogar uns amigos na piscina. É normal, é natural, é básico. É humano. Mas apenas falar sobre isso já é o suficiente para deixar a maioria das pessoas insuportavelmente constrangida. E é por isso que a maior parte de nós prefere satisfazer essa necessidade perfeitamente natural da forma mais isolada possível. Se pudéssemos, nos refugiaríamos em bunkers subterrâneos, só para fazer cocô em paz. Nesses locais herméticos e quase místicos, teríamos a oportunidade de passar em revista nossas almas, debatendo temas filosóficos com nossas próprias consciências e desvendaríamos os segredos do universo, tudo enquanto defecamos. Alheios ao mundo exterior e suas fúteis complexidades sociais, estaríamos livres para sermos nós mesmos, fazendo com que as máscaras do convívio caíssem e fossem levadas descarga abaixo, revelando nosso verdadeiro ser.
Mas tais lugares infelizmente não existem. Temos que nos conformar com nossos velhos banheiros, que mal conseguem conter dentro de seu exíguo espaço os sons, odores e embaraço intimamente ligados às necessidade fisiológicas que lá ocorrem. Assim, o ato de ir ao sanitário, especialmente quando não é o das nossas próprias casas, pode se tornar um suplício para muita gente. E na ânsia de tentar fazer com que estas ações permanecem íntimas e despercebidas, o ser humano pode chegar a extremos perigosos.
Muito perigosos.




quarta-feira, 9 de junho de 2010

Amor que entristece


Só deixando uma coisa bem clara: eu sou doido, maluco, ensandecido, pirado pela minha cidade. Pode até não parecer, já que eu escrevo em um Blog de reclamações cuja inspiração maior é, justamente, o próprio Recife. Sei que passo os dias e os posts descendo o cacete nas cercanias, mas é tudo na boa intenção. Freqüentemente, o prefeito me liga chorando. Bem, na verdade, é mais uma respiração pesada do outro lado da linha, uns soluços suspeitos e gemidos animalescos, mas só posso chegar à conclusão de que é o Prefeito, angustiado com minhas bem-intencionadas críticas. Mas uma coisa eu garanto; eu amo este lugar.
Recife é uma cidade peculiar ao extremo, cujos nativos parecem viver em uma freqüência um pouco diferente da dos habitantes de outras metrópoles. Parte disso vem do verdadeiro excesso de cultura que transborda por aqui. São tantas manifestações, estilos de música e dança diferentes, folclore, teatro, artes plásticas, Gastronomia, cinema e tantas outras coisas que fica difícil, às vezes, encontrar um recifense assim, totalmente normal. Por outro lado existe a rica História que formou o povo daqui, um dos mais rebeldes do Brasil e que sempre foi chegado em superlativos e inovações. Por essas e outras que temos aqui a primeira sinagoga das Américas, o restaurante mais antigo do Brasil ainda em funcionamento, o jornal mais antigo das Américas em circulação, o primeiro observatório astronômico do país, a avenida mais comprida em linha reta do mundo e muito mais. O Recife transpira História, mas infelizmente, boa parte dela ainda se encontra escondida ou abandonada ao descaso, enquanto os recifenses caminham alheios às riquezas ocultas nas velhas ruas da cidade.
Quer uma prova? Então siga esse roteiro:
1-    Vá até a Avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, um dos maiores e mais antigos do Recife, bem no coração da cidade.
2-    Dependendo do sentido, pode ser no começo ou no final. Para quem vai pela Avenida Guararapes, é no começo, ali perto da lanchonete pseudo-árabe Habib’s.
3-    Se foi de ônibus, atravesse a rua. Se foi de carro, se arrombou, porque vai levar multa. Pois é.
4-    Olhe para o alto e você deve encontrar o templo da Primeira Igreja Batista do Recife, uma das mais antigas do país. Um prédio modesto, mas muito bonito e que por si só já valeria a visita.





5-    Entre no templo pelo portão de ferro preto que fica à esquerda e suba as escadas. Quando sua cabeça estiver acima do muro, volte sua visão para a esquerda e se impressione.


















6-    Parabéns. Você acaba de encontrar aquela que é, provavelmente, uma das lojas maçônicas mais antigas do Brasil, possivelmente das Américas. Guardada por uma dupla de grifos com feições femininas e encarando um pátio de pedras portuguesas, o edifício tem aquele estilo antigo, clássico e misterioso, tão comum à arquitetura do centro da cidade.
Como se pode ver pela imagem, a edificação já viu dias melhores. O acabamento e fachada estão em péssimo estado e o prédio todo encontra-se, incrivelmente, totalmente cercado por prédio maiores, que impedem que a loja seja vista pelas pessoas da rua. O pátio, acreditem se puderem, hoje serve apenas como estacionamento, provavelmente para os lojistas que trabalham na área, como pode ser visto na imagem abaixo.



E assim, um local cheio de História, que deixaria Dan Brown verde de inveja, permanece desconhecido para os habitantes do Recife, que mal sabem o que se encontra logo atrás da parede da lanchonete, enquanto saboreiam suas esfihas de R$ 0,49. O prefeito que me perdoe, juro não gosto de vê-lo chorar, mas por que tal coisa acontece? A loja maçônica, claro, é apenas um exemplo. Caminhar pelo Recife não é só respirar História, é se angustiar pelo estado em que a mesma encontra-se preservada em nossa cidade.
Reafirmo: amo minha meu Recife.
Mas freqüentemente me entristeço ao caminhar pelas suas ruas.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Veículos ridículos II


Se é para ter um veículo, que seja um que imponha um mínimo de respeito. Ou ao menos que seja identificado como um meio de transporte de fato. Hoje em dia, existe todo tipo de veículo escroto nas ruas da cidade e nem sequer é possível entender como funcionam ou para que servem exatamente. Por exemplo, alguém sabe me dizer o que, em nome da foda, é essa coisa aí embaixo?






É como se uma lambreta tivesse dado para uma caminhonete e o filho nascesse anão. Não sei bem em que categoria se pode alocar um veículo assim, porque não cheguei a perceber claramente para que serve esse troço. Talvez seja apenas uma motocicleta com rodinhas, para quem ainda está aprendendo e precisa de um grande bagageiro, certamente para acomodar toda a humilhação que já não cabe mais no coração do motorista. Ia observar que não existem portas, o que já testemunha contra a segurança do veículo mas, por outro lado, quem ia querer roubar uma bosta dessas? A única vantagem parece estar na hora de fazer a manobra ao estacionar, já que a parte frontal praticamente não existe. É claro que, em caso de acidente, a fé no divino é a única coisa que permanece entre o motorista e uma morte horrenda despedaçado sobre o capô do veículo da frente.
Mas ao menos estamos falando aqui de uma aberração da natureza. Um ser nascido da união impura entre duas espécies diferentes e não-tementes à Deus, despreocupadas que sua prole pudesse, um dia, horrorizar os transeuntes e outros carros. A culpa é dos pais, não da criança.
Mas o que dizer dessa besteirinha lá no fundo da foto?







Não, sério. Que porra é essa? Quem foi que roubou a dignidade desse carro e depois o obrigou a exibir sua desonra pelas ruas de Setúbal? E, mais importante, quem em sã consciência sai por aí dirigindo um veículo desses? Será que é para as pessoas terem pena e darem passagem no engarrafamento? Vai ver é alguém que não agüenta mais a falta de estacionamento no Recife e resolveu radicalizar, adquirindo um veículo de bolso. Você acha cútchi-cúcthi? Eu não.  Eu acho que é coisa de tabarel. Claro que essa é apenas uma das formas de se interpretar a coisa. Já foi dito que o tamanho do carro é inversamente proporcional à genitália de quem o dirige. Se for este o caso, esse motorista possui um membro de proporções bíblicas, provavelmente ocupando todo o banco do passageiro. Deus me defenda de pegar uma carona com ele.
E é por essas e outras que prefiro ficar com minha velha bike. Está caindo aos pedaços e sua presença certamente ofende o senso de estética alheio.
Mas é uma bicicleta de verdade.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Veículos ridículos


Se locomover pelo Recife, sabemos todos, não é uma tarefa fácil. As opções de ônibus e metrô não são as ideais e nem atendem as necessidades da população que, sem opção, é obrigada a suportar uma rotina de filas, solavancos, calor indescritível, odores nauseabundos e amolegamento incessante ao se utilizar do sistema público de transporte. Uma considerável parcela dos cidadãos recifenses, contudo, possui seu próprio veículo, podendo se deslocar para onde bem entenderem, sem passar pelos perrengues diários citados acima. Pelas ruas da capital pernambucana desfilam desde clássicos populares, como o Fusca, que possui um clube de dedicados entusiastas, até importados de marcas famosas, sendo comum a presença de BMWs, Land Rovers, Beatles e até mesmo uma ocasional Ferrari, que eu nunca vi, mas me garantiram que existe.
Já o meu veículo particular é esse que se encontra abaixo.









Sou o orgulhoso proprietário de uma bicicleta popular herdada da minha amiga alemã, Lucy. A bike mesmo não é européia, muito menos germânica. Foi comprada, de segunda mão, do mecânico de bicicletas, ali no caminho para o aeroporto do Recife. E é do tipo que é vendida em supermercados. O freio dianteiro não funciona direito, o traseiro só quando eu aperto o arame de contato simultaneamente, o banco caiu e as marchas mudam sozinhas quando passo por um buraco. Por motivos alheios à minha compreensão, ambas as câmaras de ar, trocadas recentemente, continuam murchando em um ritmo alarmante. Os pedais engancham com freqüência e a corrente só pode ser manuseada depois de uma injeção anti-tetânica. O adesivo descascou em boa parte do quadro e essa pintura cor de ferrugem que pode ser observada na imagem é, de fato, ferrugem mesmo. Os pneus estão calvos e as rodas fazem mais barulho do que um Fiat 147. A bicicleta é tão feia e velha que eu tenho certeza que, de alguma forma, agride o meio-ambiente toda vez que é usada. Ou até quando está parada mesmo.
Mas, por Deus, é uma bicicleta honesta. Uma bike de verdade, sem frescuras nem firulas. Produto de um tempo quando os homens eram homens e esses mesmos homens possuíam poucos escrúpulos em relação ao seu meio de transporte pessoal e muito menos em relação à própria integridade física. Muito diferente dos veículos ridículos, com rima mesmo, que podem ser encontrados por aí hoje em dia.
Mostrarei alguns, aguardem.