sábado, 3 de julho de 2010

Doida que só ela


E o Blog da Reclamação segue com sua tradição de indicar bons blogs para seus leitores. Hoje ficamos com as loucuras da publicitária Natália Klein e seu Adorável Psicose. Nele, a psicótica escritora destrincha seu universo particular e o feminino em geral com histórias hilariantes, que passam por relacionamentos, chutes na bunda, casamentos gays, ex-peguetes e muito mais. Sem medo de textos longos e apostando na inteligência dos leitores, Natália distribui facadas de humor a cada texto mas só o mal-humor é que periga de bater as botas. Pena que as atualizações não são tão frequentes, mas a qualidade do material compensa a espera.

O Blog da Reclamação recomenda!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tipos de emprego




Bom, quem acompanha o Blog da Reclamação há algum tempo sabe que Fred já escreveu sobre alguns tipos de trabalho (como o dos palhaços do trânsito, por exemplo) que, contrariando o ditado, não enobrecem o homem tanto assim. Assim sendo, aceitei o convite de nosso amigo blogueiro (e aproveito para agradecer, de antemão, o convite) para divulgar uma espécie de reclamação e desabafo – uma “reclamabafo” - sobre algumas experiências que tive com o mercado de trabalho.
Deixando de lado os estágios da época da faculdade (que por si só já valeriam outro tópico), o meu primeiro emprego foi numa locadora de DVDs. Pra começo de conversa, o dono do local era um advogado meio trambiqueiro que nunca nos pagava em dia. Mas tinham momentos divertidos e constrangedores. Havia uma cliente mais madura, com idade entre 55 e 60 anos, que sempre fazia um pacote interessante de filmes para o final de semana. Ela entrava na loja vestida elegantemente, com seus cabelos longos e um pouco grisalhos que emolduravam seu rosto simpático e olhos esverdeados (apesar da descrição, ela não primava pela beleza) e alugava uns seis filmes:
1 – Negrões Furiosos e Garotinhas Brancas
2 – Don Juan de Mastro
3 – O Poderoso Chefão Anal
4 – Garganta Profunda
5 – Fiz Pornô e Continuo Virgem
6 – Doce Novembro
É sério. Ela sempre pegava um drama/romance no meio daquela putaria toda. Acho que era pra quebrar um pouco o ritmo e voltar à atividade.
Outro emprego que tive por um breve tempo foi o de motorista. Tá, eu dirigia pra levar meus sobrinhos no Colégio Damas todos os dias pela manhã e minha sobrinha pro vôlei, à tarde, umas duas vezes por semana, no mesmo colégio. Mas eu era remunerado pela minha irmã. E aí vão algumas peculiaridades do trampo. Pra economizar combustível (já que minha patroa era também minha irmã), eu levava os guris pra escola – eles pegavam às 07 horas – e deixava um travesseiro no carro. O motivo é que pra não voltar pra Boa Viagem e economizar, eu dormia no carro até a hora da largada deles, o que gerou um belo apelido por parte dos coleguinhas do meu sobrinho mais velho: “o tio vagabundo de Sérgio”. Além disso, fui flagrado derrubando manga dos pés que tinham na área interna do colégio com minha sandália Havaiana, tive uma diarréia e precisei cagar no banheiro dos funcionários (imagine você sair andando com um rolo de papel higiênico, tentando escondê-lo, no meio de uma porrada de funcionários e estudantes, crianças e adolescentes cruéis) e fui acordado várias vezes do meu soninho dentro do carro por um passarinho escroto que ficava bicando o teto do carro pra catar comida que caía das árvores.
Tive outros empregos depois desses, mas não pretendo me prolongar mais nesse tema. Hoje, faço parte do enorme contingente de pessoas que estão estudando pra concursos. Só estou querendo mandar uma mensagem a todos: não reclamem dos seus trampos. Tenha a certeza de que sempre vai existir coisa pior.
Sempre.

Mauro G. Rossiter Jr. – o rei da galhofa.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Figuras Folclóricas


Recife possui um número absurdo de Figuras Folclóricas. Pessoas esquisitas, bizarras, mal-ajambradas ou simplesmente doidas de jogar pedra, que tornam a cidade um pouco mais estranha e, por que não, mais alegre também. O Blog da Reclamação vai procurar resgatar a história de algumas desses indivíduos esquisitos, que sempre rendem uma boa reclamação devido ao seu comportamento bisonho. E começamos com a história de Tom, figura conhecida do bairro de Setúbal, zona sul do Recife. E haverão outras figuras, até porque nossa cidade não se cansa de produzir gente assim, como dizer, pouco normal.

Leia abaixo e fique ligado no Blog da Reclamação e suas Figuras Folclóricas!

Figuras folclóricas: Tom


Tom era uma pessoa peculiar. Fascinado por jogos eletrônicos desde os seus primórdios, começou sua paixão nos fliperamas da cidade, investindo sua magra mesada nas fichas que alimentavam tanto as máquinas quanto sua obsessão. Em casa, foi um dos primeiros a adquirir o velho Telejogo, na época uma maravilha tecnológica das mais invejadas. Assim como hoje em dia todos querem ser amigo do cara que possui um wii, lá pelos anos 1980 o dono do Telejogo era o mais popular da rua.

Na foto: Uma época mais simples.

Não bastasse a mania por jogos, Tom possuía uma aparência um tanto incomum. Tinha mais de dois metros de altura, cabelos encaracolados e ainda cultivava uma barba desgrenhada, tão cheia de falhas que praticamente se resumia a um bigode. Com físico avantajado, coberto de pêlos e eterna cara de poucos amigos, Tom era a cara do Haggar, personagem do jogo clássico dos arcades Final Fight. Não satisfeito, Deus fez com que Tom fosse gago.

Na foto: Tom indo para o trabalho.

Meu primeiro encontro com Tom foi, no mínimo, traumático. Caminhava tranquilamente pela rua quando escutei uma voz gutural gritando “Ei!”. Virei-me assustado e vi, do outro lado da calçada, Tom ajoelhado junto a cabeça de algum pobre coitado que se debatia debilmente. Na hora, pensei que fosse alguma nova modalidade de assalto. Levando-se em consideração que Tom, mesmo ajoelhado, chegava quase ao meu ombro, creio que minha apreensão era justificada. Como não tinha mesmo para onde correr e me encontrava semi-hipnotizado por aquela visão tão insólita, acabei me aproximando. E o seguinte diálogo teve lugar:
Eu: Hmm...tudo bem?
Tom: T-t-t-tudo b-bem uma p-porra!
Eu: Ah...bom...que pena, né? Então, valeu aí, vou nes...
Tom: F-f-f-ficaí! M-m-me ajuda!
Eu: Eu?
Tom: T-t-t-t-tu! E-e-esse c-c-cara t-t-tá tendo um ata-ata-ataque epi-epi-epi-epi-epi...
Eu: Epilético?
Tom: Isso! V-v-vai, m-me ajuda!
Eu: Tá, claro. Com certeza, o que eu tenho que fazer? Quer que eu ligue pro hospi...
Tom: S-s-s-s-segu-gu-ra a l-língua de-de-dele!
Eu: O quê? Eca, nem a pau!
Tom: E-e-ele v-v-vai en-en-engolir a l-l-l-língua e mo-mo-morrer!
Eu: Vai nada! Me disseram que isso aí é lenda e...
Tom: S-s-s-s-segu-gu-ra a l-língua de-de-dele!
Eu: Velho, olha só, ele tá todo babad...
Tom: S-s-s-s-segu-gu-ra a l-língua de-de-dele!
Eu: Peraí, a gente troca! Eu seguro a cabeça dele e voc...
Tom: S-S-S-S-SEGU-GU-RA A L-LÍNGUA DE-DE-DELE AGO-AGO-AGORA, PO-PO-PORRA!
Quem era eu para discutir com um Haggar gago, empenhado em salvar a vida de um transeunte epilético? Ainda mais quando ele tinha o tamanho de um guarda-roupa e me olhava como se estivesse prestes a arrancar minha mandíbula e usar como calço de porta. Morto de nojo, estendi a mão e segurei a língua do desgraçado aos pés dele. E assim permaneci até a ambulância chegar, mais de meia hora depois. Os para-médicos nos parabenizaram pelo bom trabalho, levaram o rapaz inconsciente para o hospital e me vi sozinho com Tom, parecendo muitíssimo satisfeito consigo mesmo. Voltou-se para mim, com um sorriso estampado em seu rosto cartunesco e se apresentou “T-t-t-tom”. “Fred”, respondi, fazendo questão de estender a mão babada para ele apertar.
Hoje em dia, Tom anda um pouco sumido. Mas ainda pode ser encontrado pelas calmas ruas de Setúbal, sua figura insólita bastante difícil de ignorar. É o protagonista de outras histórias bizarras, que vão ficar de fora do texto de hoje.
Mas um dia serão contadas.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Retratando


Muita gente me pergunta como eu tiro as fotos que ilustram boa parte dos textos aqui do Blog. Um bom profissional, claro, procura usar sempre os melhores equipamentos. Nessas horas, nem vale a pena economizar, por isso eu tento, sempre que possível, investir em tecnologia de ponta.

Não, essa câmera aí em cima não é minha, seu ingênuo. Eu teria que vender meu corpo para velhos lascivos e hipotecar minha alma para poder comprar uma dessas. Pertence ao amigo e fotógrafo Gustavo Carvalho, o mesmo que bateu a foto da nova logo do Blog. É tão moderna que eu não saberia mesmo como fazê-la funcionar. Parece que responde a pensamentos ou, pelo menos, comandos de voz do usuário. Uma coisa mais ou menos assim: “Câmera, corre lá e tira uma foto daquela gostosa”. A câmera vai trotando, bate a foto sozinha e ainda volta com o telefone da moça. Meu aparelho fotográfico é um pouco mais simples, mas igualmente eficiente.

Esse é o meu velho Nokia, herdado da minha mãe, que herdou do meu irmão mais velho, que provavelmente ganhou o aparelho em alguma rifa de brechó. Tentei achar a referência dele no site do fabricante, mas aparentemente a Internet simplesmente não existia ainda naquela época. É tão antigo que eu procuro atender as chamadas o mais rapidamente que posso, com medo que ele se desmonte com a próxima vibração. Tenho certeza que emite radiações nocivas a cada toque e, como passa boa parte do tempo no bolso da minha calça, estou certo de que já fiquei estéril.
Mas funciona que é uma beleza. O desgraçado do celular já caiu mais vezes que o Santa Cruz e continua firme e forte. Nunca apresentou defeito e sua câmera, de jurássicos 1.3 megapixels, captura imagens com uma qualidade que chega a impressionar, especialmente considerando sua idade avançada. Infelizmente, sei que num futuro não tão distante, terei que aposentar meu velho telefone e buscar um modelo mais condizente com os novos tempos.
Mas por enquanto, esse Blog e seu autor não têm do que reclamar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Sempre cabe mais um



Pessoal, uma das novidades do novo Blog da Reclamação será implementada esta semana. As sextas-feiras de Julho serão invadidas por amigos do Blog que decidiram parar de reclamar nos comentários e, tomando vergonha na cara, vão colaborar com seus próprios textos. Se todos gostarem da novidade, o Mês do Reclamões Convidados pode se repetir no futuro. A cada semana teremos alguém diferente e nesse dia 02 de Julho começamos bem com um texto hilário do Jornalista e galhofeiro Mauro Rossiter, mostrando as agruras da sua vida profissional.

Fiquem ligados e acompanhem. Até sexta!

Engano II




Ring. Ring. Ring. Ring.
Eu: Alô.
Pessoa estranha: Alô.
Eu: Pois não?
Pessoa estranha: Quem é?
Eu: Como assim, “quem é”?
Pessoa estranha: Eu quero saber quem é que tá falando.
Eu: Meu amigo, isso eu entendi. Mas foi você que ligou, você que tem que me dizer o seu nome.
Pessoa estranha: É da casa de Genésia?
Eu: ...
Pessoa estranha: Alô?
Eu: Quem. Está. Falando?
Pessoa estranha: Eu queria falar com Genésia.
Eu: Eu sei, porra! Você quer falar com Genésia! Mas foi você que ligou! Você que tem que se identificar!
Pessoa estranha: Ah, eu sou um amigo dela.
Eu: Vaitefudê! Não me interessa seu relacionamento com ela ou o grau de parentesco! Eu quero um nome. No-me. Você não tem nome não, é? Nasceu de chocadeira? É por isso que é mal-educado assim?
Pessoa estranha: Moço, o senhor tá me ofendendo...
Eu: Eu sei, seu cretino, essa é a intenção! Pois não vai dizer seu nome não? Vou desligar então. No três.
Pessoa estranha: Como assim, no t...
Eu: Um.
Pessoa estranha: Peraí, por...
Eu: Dois.
Pessoa estranha: Cacete, cham...
Eu: Tr...
Pessoa estranha: Tá bom, tá bom, desculpa!
Eu: Desculpa é o carai, o nome?
Pessoa estranha: É Cleybson. Com Y. É que eu não gosto muito do meu nome e...
Eu: HAHAHAHAHAHAHA! Cleybson?! Sério?
Pessoa estranha: ...
Eu: HAHAHAH! Hmm, sim. Falaí, Cleybson.
Pessoa estranha: Já disse. Quero falar com Genésia.
Eu: Ah, sim. Pois é. Não é daqui. Você ligou errado.
Pessoa estranha: Esse tempo todinho que eu...
Eu: HAHAHAHAHAHAHA, Cleybson, com Y! HAHAHAHAHA!
Pessoa estranha: VAI TOMAR NO CU!
Tu, tu, tu, tu, tu.

domingo, 27 de junho de 2010

Domingo é dia de enquete!




E a enquete se encerrou! A maioria dos leitores votou na terceira opção, ou seja, aprovaram o novo visual do Blog e gostariam de ter meu autógrafo em suas roupas íntimas e, possivelmente, partes do corpo, incluindo, mas não apenas, seios e nádegas, preferencialmente depiladas. Ainda houve um ou outro escroto que não percebeu a mudança do Blog ou que preferia o velho visual verde-mesa-de-sinuca-de-bar-pega-bêbo, mas não dá pra agradar a todos, já dizia Judas. O Blog da Reclamação agradece a todos os vagabundos e desocupados que votaram e aproveita para lançar mais uma enquete. Como sempre, o resultado sai domingo que vem.
Não deixem de participar!

É tudo pelo salário III





Com atenção, o professor de inglês escaneou com os olhos as crianças à sua frente, logo voltando sua atenção para um menininho gordo, de movimentos vacilantes e olhar assustadiço. “O elo mais fraco da corrente”, pensou, de maneira predatória. Aproximou-se do garoto, o sorriso petrificado na face e os apetrechos de coelhinho da Páscoa nas mãos. O garoto teve um sobressalto, mas logo fixou o olhar nas longas orelhas de cartolina. Movendo-se de forma deliberada, o professor estendeu os acessórios para a criança, que prontamente abriu os braços, ansiosa, para recebê-los. Um sorriso de satisfação infantil espalhava-se pelas bochechas largas e rosadas.
Quando o garoto estava quase tocando as tão almejadas orelhas, o professor subitamente retraiu seu braço. O menino estacou, confuso. O sorriso morreu em seu rosto, dando lugar a um olhar de desespero que logo se transformaria em choro. Começou a fungar. Rapidamente, o professor falou, sorrindo maldosamente “Bunny?”. O menino hesitou por um momento e respondeu “Coelhinho”. O professor recolheu ainda mais a sua mão. “Bunny?”, insistiu, implacável. Ao redor deles, as crianças assistiam aquele embate, mesmerizadas. O menininho gordo parecia não saber o que fazer. Olhou ao seu redor e fixou-se na expressão zangada da pequena líder. Seus olhos passaram da menina para a fantasia de coelhinho nas mãos do professor, cujo sorriso, àquela altura, era muito mais o resultado de cãibra muscular do que qualquer outra coisa. O garoto, enfim, estremeceu, estendeu as mãos gorduchas para o instrutor e balbuciou num fio de voz “Bunny”. Magnânimo, o professor entregou os acessórios de coelhinho. Logo as outras crianças estenderam seus bracinhos e começaram a articular, sem parar “Bunny, bunny, bunny, tio!” Foi com um misto de satisfação profissional e prazer selvagem que o professor de inglês viu a expressão de desapontamento nos enormes olhos da pequena líder. Era a única que ainda não havia falado “Bunny”. Pois bem, também seria a única entre as crianças a não se vestir de Coelhinho da Páscoa.
Com uma paciência incomum, o professor foi ajudando as crianças com suas fantasias. Punha no colo, colocava o diadema de orelhas, pintava o narizinho de coelho e fixava o rabo felpudo. Até mesmo permitiu que as crianças usassem o kit restante, que seria da jovem líder, para transformá-lo em um enorme e deslocado coelho adulto. Enquanto isso, percebia que a pequena líder discretamente se acercava de alguns dos seus colegas, apenas por alguns segundos. Certamente, tentando fazer com que desistissem de suas amadas fantasias. Sem sucesso, o educador percebeu maliciosamente, uma vez que as crianças pareciam cada vez mais empolgadas com a brincadeira. Finalmente, haviam na sala de aula 16 coelhinhos, 1 coelho gigante e bastante desengonçado e uma menininha de queixo altivo e olhar resignado. Extasiado, o professor não se conteve e, olhando diretamente para sua oponente derrotada, começou a tripudiar de suas tentativas infrutíferas de desestabilizá-lo emocional e profissionalmente. Virou-se para as crianças, apontou para suas orelhas e perguntou “Orelhinha de quê?”
Bunny”, responderam as crianças, em uníssono.
“Narizinho de quê?”
Bunny”, gritaram os alunos, totalmente a sua mercê.
“Rabinho de quê?”
BUNNY”, berraram meninos e meninas, extasiados.
O professor de inglês encarou seus pequenos pupilos, um de cada vez. Fixou o olhar na pequena líder, que exibia uma expressão estranhamente calma no rosto, o único ali que não possuía as características de um roedor. A menina sustentou seu olhar com dignidade, resoluta. O professor então apontou para si próprio, alteando a voz e sentindo o gosto doce da vitória em sua boca ressecada.
“E eu, sou o quê?”
As crianças, como uma entidade única, um organismo formado por várias e pequenas células trabalhando em conjunto com seus próprios e misteriosos desígnios, ergueram suas vozes agudas respondendo.
“COELHINHO, TIO!”
O professor de inglês sentiu um frio perverso nascendo da boca do seu estômago. Espalhava-se por seus membros com uma velocidade assustadora, impedindo-o de se mover, de falar, de raciocinar com clareza. Começou a tremer incontrolavelmente ao mesmo tempo em que sentia lágrimas quentes contrastando com o gelo de suas faces. Olhou ao redor, apoplético, buscando compreender o que havia se passado. Foi então que viu a pequena líder, um sorriso macabro e banguela se espalhando por seu rostinho corado. Apontou para o instrutor e exclamou, cruelmente “Coelhinho!”. Logo, todas as crianças começaram a imitá-la, bracinhos estendidos na direção do trêmulo educador, escarnecendo com suas vozes infantis “COELHINHO!”.
O professor gritou, mas nenhum som escapava de sua boca. Desabou pesadamente no chão da sala de aula, os olhos arregalados procurando por algo que não estava lá. O frio que se espalhava pelo seu corpo finalmente alcançou o coração. Sua vista escureceu e a última coisa que enxergou foi a pequena líder, um expressão de triunfo em seus olhos estranhamente adultos. Lentamente, estendia a mãozinha para pegar as orelhas de coelho que eram suas por direito. Fechou os olhos pela última vez.
Quando percebeu que as crianças não haviam sido liberadas após o toque, a coordenadora foi até a sala de aula. Ao abrir a porta descobriu, horrorizada, 17 coelhinhos da Páscoa brincando placidamente ao redor do professor, seu corpo convulsionado em um último espasmo de horror. Estava morto. Transtornada, a coordenadora balbuciou, para ninguém em particular “Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o que é isso?”.
Bunny”, respondeu, com um sorriso inocente, a pequena líder. E continuou brincando tranquilamente com seus amiguinhos.


Esse texto foi uma homenagem a todos os professores, instrutores e educadores em geral e, em especial, ao meu amigo Pablo Vilella. Pois é. Professor sofre.