sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eu ovo. Tu oves?









E mais uma sugestão de blog para os queridos leitores. O Eu Ovo é uma das coisas mais fantásticas que um fã de música brasileira pode encontrar na Internet. No site, é possível achar toneladas de discos de artistas nacionais, que vão de lançamentos a raridades, sempre acompanhados de textos que explicam bem a proposta musical de cada álbum, além de dicas e sugestões muito úteis para os que, como eu, ficam perdidos com tanta oferta. E o melhor de tudo isso? É (quase) tudo legal. Pois é, nada de pirataria por aqui. Artistas consagrados já disponibilizam seus trabalhos na Internet gratuitamente e o Eu Ovo ajuda na divulgação, facilitando a comunicação entre músicos e público.

Logo de cara, foi postada uma eclética listinha com os 10 melhores discos de 2010. Tem muita coisa boa, como a fantástica cantora Tulipa Ruiz (que anda devendo um show pelo Recife), além dos ilustres e pernambucaníssimos Maquinado (projeto paralelo do guitarrista Lúcio Maia, da Nação Zumbi) e Karina Buhr. Vale no mínimo uma visita, para conhecer uns sons novos e ficar por dentro do que há de melhor na cena musical nacional.

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Eu ovo. Tu oves?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O valor do tempo, parte final









Tudo se resume à hora-aula e quanto se ganha nela. Todo o resto não passa de frações ou multiplicações desse valor arbitrário.


- Posso ajudar, senhor?

- Sim. Por favor, me veja aí uma hora-aula de preservativo. Lubrificado, beleza?

- Senhor?

- Pensando bem – reflete o professor, observando sua companheira do lado de fora da farmácia, tentando, sem sucesso, desenganchar a blusa do piercing no umbigo ao mesmo tempo em que ajeita a calcinha fio-dental vermelha – manda lá três horas-aula de camisinha. E troca por ultra resistente. Hmm. Com espermicida.


Quando todo o seu tempo possui um valor monetário estabelecido, é preciso fazer valer a pena.


- O quê? Mais uma? Quer me matar?!

- Gastei cinco horas-aula nesse motel e agora vou aproveitar. Pode ir liberando.

- Dar sete sem descanso em menos de meia hora não é normal! Não é humano!

- Eu sei que podia ter sido mais, mas eu tive um dia difícil na escola, pô! Mulher nunca tá satisfeita...


A hora-aula se torna uma verdadeira moeda, o câmbio mais presente na vida do professor.


- Senhor, desculpe, mas estou sem trocado. Posso dar em confeito?

- Depende. Posso pagar o pão com quinze minutos de aula?

- Senhor?

- Pois é. Então te fode.

- Senhor!

- Fuck you. Pronto. Essa foi por conta da casa. Deixa um crédito aí, heim?


E é com pesar que o educador percebe que a sociedade não dá o devido valor ao seu tempo. Pelo menos não quando comparado a outras categorias profissionais.


- Procurando emprego no jornal?

- Não, fazendo pesquisa de mercado. Comparando a minha hora-aula com a de outros serviços.

- E aí?

- Tomei fumo. Olha só esse anúncio aqui. “Universitária. Galega. 300 ml de silicone. Tatuagem no rêgo. Uma hora: duzentos reais”. 

- Hmm. Veja bem, ela fez um investimento no peito dela. Tem que rolar um retorno.

- Sabe quanto tempo e dinheiro eu gastei pra aprender a falar inglês?

- Deixa eu ver esse jornal. Hmm. Olha só esse cara. Tá cobrando dois mil reais por uma hora do tempo dele.

- O quê? Dois mil paus em uma hora?! O que ele faz? Foda-se, vou oferecer o mesmo serviço.

- Aqui só tem o nome dele, o celular e, em letras maiúsculas: “DOU O CU”.

- Já te falei que adoro dar aula de inglês?


E assim, o professor percebe que, de fato, seu tempo não é tão precioso quanto ele gostaria que fosse. Por outro lado, existem maneiras muito, mas muito mais sacrificadas de se ganhar a vida.



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O valor do tempo, parte I










A não ser que você seja algum tipo de bilionário ou simplesmente cronicamente irresponsável, é provável que você precise controlar bem os seus gastos baseando-se, claro, na sua renda fixa. A maioria das pessoas que trabalham, mesmo as que não têm carteira assinada, conta com o salário, que chega todo mês em um valor pré-determinado e, geralmente, imutável. Já professores, especialmente os de inglês, costumam receber por hora-aula, o que muda totalmente essa dinâmica. O leitor atento pode até argumentar que no final dá tudo na mesma, já que as horas são pagas no final de cada mês, devidamente somadas. Tecnicamente, isso seria verdade, não fossem por duas questões. A primeira é que, devido à faltas, aulas extras e substituições, o salário tende a flutuar. A segunda questão é de ordem psicológica. Enquanto a maioria dos profissionais vai trabalhar ciente apenas do quanto vai receber no final do mês, o professor sabe exatamente o valor da sua hora de trabalho e simplesmente não consegue parar de pensar nisso.

A hora-aula é uma realidade tão presente na vida do professor que ele acaba atribuindo valor a tudo baseando-se nela. Cada gasto é comparado com o tempo em que você passa dentro de uma sala de aula, exposto ao mau humor, germes, problemas psicológicos e, em muitos casos, a pura e simples estupidez dos alunos. Os mais necessitados ou gananciosos se tornam paranoicos, contabilizando as horas do dia em função do quanto poderiam estar ganhando. Quaisquer outras atividades são vistas como supérfluas. Para que almoçar, dormir, tomar banho e outras bobagens sem sentido quando se pode estar dando aula? Horas gastas são aulas perdidas e menos dinheiro no final do mês. E no momento de finalmente fazer uso do suado e merecido dinheiro, o professor, embrutecido por anos e anos compostos das mais amargas horas, dias, semanas e meses-aula, não consegue deixar de comparar todos os seus investimentos com o tempo gasto trabalhando. Conheço um professor que, ao se permitir almoçar fora de tempos em tempos, sempre se sentia deprimido ao acabar de se alimentar, já que o valor da refeição se equiparava ao de sua hora-aula. Pior ainda, tinha por hábito comer depressa, gastando em meia hora o que levava uma para receber.

E essa obsessão acaba dominando a vida do professor. Ao ponto em que fica difícil viver e conviver com alguém que, por não conseguir parar de pensar no valor do seu tempo, jamais consegue relaxar ou mesmo funcionar como outros seres humanos normais.

E, depois de alguns anos nessa pisada, a tendência é piorar.


Continua...