sábado, 18 de dezembro de 2010

Não assista esse vídeo

Recentemente, escrevi um texto de terror descrevendo em detalhes um sonho horripilante que eu tive. Quem teve coragem (e paciência) de ler tudo, deve ter percebido que, por se tratar do relato de um pesadelo, tudo o que acontece é muito estranho e surreal e quase nada tem explicação. Assim são os sonhos. Eu queria encontrar alguma forma de passar para os leitores do blog essa sensação de estar em um pesadelo, algo que extrapolasse as palavras do meu texto. Nas minhas andanças pelo lado obscuro da internet, acabei dando de cara com um clipe que traduz bem os meus horrores noturnos. O nome da música é “Come to Daddy”, do artista eletrônico Aphex Twin, codinome de Richard D. James, um britânico com sérios problemas mentais, que possui um tanque de guerra no jardim e dorme nos cofres de um antigo banco da HSBC convertido em residência. Não, sério.

O estilo musical de Aphex é quase sempre agressivo e sombrio, embora ocasionalmente ele crie espaço para intervenções mais melodiosas, até mesmo fazendo uso de um piano. Mas o que chama atenção mesmo são os clipes. Não sei bem como foi a infância do pequeno James, mas se os vídeos que ele cria para as suas músicas são alguma indicação do que ele passou, é um milagre que ele tenha se tornado músico em vez de, digamos, assassino serial em massa. “Come to Daddy” é um perfeito exemplo de como uma canção pode fazer um ser humano sadio sujar as calças em menos de cinco minutos. No refrão, Aphex solta gritos medonhos e sussurra para ou ouvintes “Eu quero sua alma\ Eu vou comer a sua alma”. Olhando a cara do rapaz, fica difícil duvidar de que ele é capaz de fazer exatamente isso.





Haha, agora você também nunca mais vai dormir!





O clipe inteiro é extremamente assustador e o músico britânico não poupa seu público das imagens mais bizarras que poderiam brotar de sua mente claramente insana. Mas é lá pelos 3:54 de vídeo que Aphex decide que você já conviveu tempo demais com a sua própria alma e que chegou a hora de separá-la de vez do seu corpo, fazendo com que ela se enrole em um canto do quarto e fique lá chorando até desaparecer para sempre. Em torno de 4:57 você vai se dar conta de que Deus não existe, ou jamais teria permitido que algo assim fosse filmado e que você pudesse ser exposto a tamanha abominação audiovisual.

Esse é um vídeo assustador, doentio e degenerado. Estamos avisando, NÃO ASSISTA ESSA COISA. O Blog da Reclamação não se responsabiliza por cicatrizes mentais, espíritos destroçados ou tentativas de suicídio.

Desligue o computador agora e vá ler um livro.











Nós avisamos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Texto de convidado: Dezoito dias


Me deparo com um poste, e a seguinte proposta:






Tem idéia do que isso significa? Se eu soubesse que um dia eu poderia fazer o primeiro e segundo graus, JUNTOS, em menos de três semanas, teria esperado, na boa, somente pela certeza de que em dezoito dias jamais daria tempo de:

Levar três pontos na cabeça por paquerar a boyzinha do grandalhão da sala (ela que olhava pra mim...), pegar piolho com o cdf da turma, passar mal com o achocolatado da merenda (pense num chicotinho coletivo...), ir pra secretaria por cumprimentar minha amiga Graça (Diz, Graça!), pagar mico apresentando uma peça teatral em que éramos índios e vestíamos saias de tiras feitas de sacos de farinha trigo, ir pra secretaria por cantar o hino da escola errado (de propósito), ter que ouvir as piadas sem graça da menina que queria namorar comigo, ver se agarrando com outro a menina com quem eu queria namorar, querer namorar sério, ter que responder durante a apresentação de um trabalho se a mulher podia transar durante a gravidez (e eu é que sei?), cursar a disciplina de “Práticas do lar” (obrigatória), fazer os bolos e não comer nenhum pedaço,  passar batido e não pegar a gostosa do turno da noite, ir pra secretaria por ser um dos líderes de um movimento anti-aula (todo mundo pro Alto da Sé!), pegar papeira em pleno São João e deixar de dançar na quadrilha da escola (com a gostosa do turno da noite), entoar músicas de Djavan, Milton, Caetano e Gil (sem comer ninguém por isso), andar pra caramba pra chegar no Estadual de Olinda, ir pra secretaria pra diretora dizer que eu ia desfilar no sete de setembro, desfilar no sete de setembro, desfilar no 14 de setembro, pegar carona em caminhão de lixo pra ir aos jogos estudantis, ganhar uma torção por tentar uma vaga no time de handebol, ter que fazer a merenda à noite porque não tinha quem fizesse,  fazer poesia e ver um amigo(!) pegar as boyzinhas com elas, cair na gandaia com a galera barra pesada da escola e não ir pra formatura por falta de grana pra pagar o uniforme obrigatório.

Dezoito dias? No máximo, só daria tempo de:

Contar vantagem por ter dado um tebêi no grandalhão da sala (cara, ele tentou roubar meu papagaio!), saber que minha experiência como ator evitou sofrimento às platéias de hoje, dar a resposta certa à menina grávida, descobrir que talvez ter cursado “Práticas do lar” me ajudou na Gastronomia, ver nos meus exames que as caminhadas ajudaram no meu condicionamento físico, ter uma francesa como professora de francês (não, ela não era gostosa), ficar de castigo com a professora gostosa de Ciências (u-hu!), ver a galera bem alimentada com a merenda do turno da noite, saber que algumas poesias que eu fiz estão guardadas até hoje.

E você, de que estaria a salvo em dezoito dias?


Por Alberto Penaforte

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Prendado Parte II










- Limpar a geladeira é uma tarefa penosa ao extremo. É preciso retirar tudo o que está dentro dela, arrumar um lugar para guardar essas coisas temporariamente, desligar da tomada, esperar o degelo, limpar todas as superfícies, religar a energia, pôr tudo de volta e ter que refazer todo o processo porque você, energúmeno, acabou de derramar a coalhada dentro da gaveta de vegetais. Ao fim do processo, você percebe que já casou, teve filhos, sua mulher te largou pelo técnico de instalação de Internet e você desenvolveu câncer de próstata. Provavelmente de tanto levar fumo tentando higienizar a porcaria da geladeira. Seja esperto e, para evitar o retrabalho de arrumar todos os itens do refrigerador, simplesmente vá consumindo tudo o que estiver lá dentro até que seu eletrodoméstico se torne um coco: dentro, só água. Aí sim, pode-se desplugar o aparelho, até porque não vai ter mais nada para gelar mesmo. Para evitar o esforço de limpar prateleiras, gavetas e paredes, simplesmente jogue um balde de creolina dentro da geladeira, evitando assim o aparecimento de quaisquer formas de vida nocivas à saúde, inclusive aquele seu cunhado mala, que já chega na cozinha alheia abrindo tudo e metendo a mão na sua cerveja. Para tirar o cheiro, acenda uma vela de sete dias dentro do aparelho, reze três pais-nossos e vá tirar um cochilo. Seja econômico e use os pedaços amarelados de gelo acumulado nas paredes do seu congelador para abastecer as caipirinhas da confraternização do trabalho. Se alguém passar mal, bote a culpa no sarapatel feito pela mãe do novo estagiário e saia de fininho.

- Poucas coisas são piores do que fazer a limpeza de um banheiro. Se ele for única e exclusivamente seu, menos mal, mas é provável que você precise, em algum momento, compartilhar esse espaço íntimo com alguém. E quando falo de espaço íntimo, me refiro ao toalete, não às suas genitálias, bando de degenerados. O sanitário, na cultura ocidental em quase sua totalidade, possui um caráter místico, quase sagrado, que desencoraja a intromissão de terceiros em seu exíguo território. Em outras palavras, ninguém quer saber o que você faz lá dentro, ao passo que você evita pensar no mundo exterior enquanto realiza atos indizíveis, ainda que perfeitamente normais, segundo o ponto de vista de alguns cientistas. Se você mora sozinho e os anos de convívio com sua própria imundice já o anestesiaram aos horrores olfativos perpetrados pelos seus dejetos, é possível postergar a limpeza da privada quase que indefinidamente. Quando a louça da privada começar a mudar de cor ou você se tornar a pauta da próxima reunião de condomínio, é provável que a hora da higienização tenha chegado. Ninguém quer se cansar esfregando os restos imundos que a descarga não conseguiu levar embora, por mais que você torcesse por esse desfecho. Nesse caso, recomendo uma abordagem pirotécnica para o problema. Feche o registro, dê descarga até sua privada ficar vazia, jogue querosene, álcool ou a cachaça da sua tia solteira lá dentro e depois taque fogo. Se estiver no clima, entoe cânticos pagãos e dance em volta do assento. Seu sanitário estará purificado pelo fogo divino e pela aguardente barata que, você sabe, um dia vai ser seu fim. Espere as chamas se apagarem espontaneamente e aproveite sua privada esterilizada por, no mínimo, mais uns seis meses.

E assim, encerramos nossas dicas domésticas aqui no blog. Esperamos que os leitores utilizem essas informações para melhorar sua qualidade de vida e de suas famílias, se dedicando a outras atividades bem menos chatas do que arrumar a casa.

O Blog da Reclamação não se responsabiliza por incêndios, pedidos de divórcio ou notas de despejo que possam, por ventura, decorrer das sugestões acima postadas

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Prendado Parte I









Eu detesto o trabalho doméstico. Pronto, falei. Sei que para muita gente é tolerável, enquanto alguns, pervertidos, juram de pé junto que até curtem. Sei que é mentira. Que curtem, não que são pervertidos. Isso eu sei que são. Enfim, o que quero dizer é que o serviço de casa é umas das obrigações mais chatas que um ser humano pode ter. Eu mesmo evito a todo custo. De fato, é apenas quando o estado de decadência do meu quarto e adjacências começa a pôr em risco minha integridade física e a de terceiros que começo a me preocupar com algum tipo de arrumação. E daí que a poeira se acumulou tanto que chega aos tornozelos? O chão acaba ficando fofinho, causando uma agradável sensação de massagem nas solas dos pés. Recomendo. Também não entendo todos esses conceitos de “organização”, “decoração” ou “higiene em níveis humanamente aceitáveis” que andam em voga por aí. Feng Shui, para mim, é um prato chinês que eu ainda não comi por pura timidez. Acho que a arrumação do lar é um conceito superestimado e, ouso dizer, até certo ponto desnecessário.

Lógico, é preciso algum tipo de ordem em casa, esse não é um blog que incita a anarquia e a total degeneração da sociedade como a conhecemos. A não ser nos finais de semana, claro. E dias de Cosme e Damião, mas aí já é outra história. De modo que deixo aqui algumas dicas para otimizar e/ou tornar algumas tarefas domésticas, senão agradáveis, ao menos toleráveis por aqueles que acham essa obsessão por limpeza e organização um dos males modernos mais danosos ao espírito humano.


- Passar roupa é um pé no saco e se você conhecer alguém que diz que gosta, mate esse psicopata antes que ele faça o mesmo com você. Procure usar apenas roupas de nylon, que não amassam, mesmo em ocasiões formais, como o casamento da sua irmã ou o funeral da sua tia predileta. Os olhares de reprovação que você receberá de amigos e familiares não são nada comparados ao libertador sentimento de paz ao se dar conta que aquela roupa não precisará ser passada. Caso você insista em vestir roupas de outros materiais, procure estender as peças pelas costuras e torça para que o vento não as movimente demais. De resto, não deixe de andar por aí com suas vestimentas engilhadas e bote a culpa do estado lamentável da sua camisa no movimento do ônibus. Se continuarem reparando na roupa enrugada, sorria placidamente e mande tomar no cu.

- Via de regra, eu só limpo o teclado do meu computador quando os pedaços de Doritos começam a prender as teclas, prejudicando meu desempenho no Call of Duty. Tem gente que realiza a profilaxia retirando as teclas e limpando uma por uma. Recomendado para penitentes e autistas em geral. Eu prefiro o método de virar o teclado de cabeça para baixo e bater no fundo, geralmente por cima do prato do almoço, para não desperdiçar a farofa de Doritos cuidadosamente acumulada por meses a fio. A única parte do monitor que eu limpo é a tela, por motivos óbvios. O resto costuma adquirir uma saudável tonalidade amarela-catarro, entrevista de relance entre as rachaduras ocasionais na crosta de poeira. A limpeza aqui pode ser feita com uma cueca velha e um pouco de água, mas o uso de saliva é não apenas aceitável, mas também recomendado, devido a questões ambientais. Aconselha-se utilizar apenas o seu próprio cuspe. Ao fim da atividade, pode-se vestir a cueca sem constrangimentos. 

- Lavar pratos e talheres é uma tarefa desagradável, enfadonha e absolutamente desnecessária. Siga o exemplo do seu bichinho de estimação e coma direto da panela, utilizando suas mãos. Fuçar a comida feito um porco é considerado rude em algumas culturas, de forma que é recomendável evitar tal prática fora de casa. Não tenha pressa em lavar as panelas. Reutilize-as, aproveitando os restos de gordura e fragmentos irreconhecíveis grudados no fundo, cada um deles adicionando um sabor próprio à sua receita. Esses detalhes vão garantir que cada refeição seja uma aventura diária e seus amigos e convidados vão se surpreender, imaginando o que, afinal de contas, eles acabaram de comer na sua casa e por que, Deus, eles têm essa inexplicável sensação de que é melhor não descobrir jamais.


Continua...