sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pobreza e auto-imagem, parte final

Continuação...


Se livre dessa tatuagem queimação.









Já se foi o tempo em que fazer uma tatuagem era uma demonstração de rebeldia perante pais e sociedade. Elas estão aí para que as pessoas expressem seus sentimentos de forma permanente, gravando em suas peles imagens que possuam algum significado em suas vidas. Mas os lisos não fazem a menor ideia do que isso significa. Para eles, a tatuagem é só mais uma forma de copiar aquele famoso que venceu o Big Brother Brasil ou então a última gostosa a estampar a capa da Playboy. Pobre adora imitar gente rica e sair por aí com tattoos que não possuem a menor relevância sentimental ou que não passam de meros acessórios estéticos, como um brinco ou uma pulseira. E esquecem que é para sempre. É mais ou menos como vestir uma calcinha fio-dental que você nunca mais vai poder tirar. Não me levem a mal. Sou totalmente a favor das calcinhas fio-dental. Em mulheres. Desde que não sejam eternas, até porque não seria lá muito higiênico. Se você está encontrando dificuldades para visualizar a metáfora em toda a sua sutileza, imagine a sua avó com uma calçola socada no rabo. E que essa calçola está lá desde que ela tinha seus 20 anos de idade, quando ela decidiu colocar só porque achou bonitinha. Pode ir ao banheiro vomitar, nós esperamos. E não é questão de preconceito de idade, mas sim de caráter mesmo. Tatuagens originais, pensadas e significativas simplesmente não envelhecem. E seguem como parte integrante da pessoa, uma pequena parte da alma exposta ao mundo. Uma tribal colorida brotando do rêgo não tem o mesmo efeito e a coisa só piora com a idade. Mas pobre não pensa no futuro, só no agora.

E é também sem pensar que acabam tatuando as coisas mais bizarras, praticamente marcando a ferro e a fogo a palavra “FUDIDO” em seus corpos já maltratados. Francamente, tem coisa mais amundiçada do que fazer uma tatuagem em ideogramas japoneses, letras árabes ou caracteres russos? Acham mesmo que escrever em outra língua vai tornar especial aquela frase manjada tirada de alguma corrente de e-mail? E quem garante que a tal frase está correta ou que o tatuador vai acertar fazer os símbolos corretamente?




 Tradução: Me coma sem pena nem cuspe. Pode ser à força.



Pior que isso só desenhar na pele a bandeira do seu time do coração. Pobre, pobre, inescapavelmente pobre. E se a figura escolhida for o símbolo de alguma torcida organizada, o sujeito, além de miserável, é um ótimo candidato a levar um baculejo da polícia, mesmo que não esteja fazendo nada de errado. Quer dizer, nada além de sair por aí exibindo uma tatuagem que se traduz em “SOU MARGINAL, ME PRENDA”. E na cadeia, claro, o pobretão acaba fazendo novos amigos, especialmente durante as duchas coletivas, momentos em que os desgraçados trocarão divertidas histórias acerca de suas respectivas tatuagens, entre outras coisas inomináveis que não serão comentadas aqui.




 Sério, qualquer desculpa serve para usarmos essa foto de novo.




Não tente compensar sua pobreza de forma material.

É bastante simples. Por incrível que pareça, uma casa enorme, um carro importado e sapatos da moda não fazem de você uma pessoa rica. Essas coisas são objetos. Elas quebram, desaparecem, perdem o valor. Quer parecer uma pessoa rica, mesmo com conta bancária zerada e roupas esburacadas? Seja educado. Respeite o espaço das outras pessoas. Entenda que o seu direito termina quando começa o do seu vizinho. E não tente compensar sua burrice, seus preconceitos, seu mal gosto e sua insegurança através de nomes esdrúxulos, celulares desnecessários, bigodes inaceitáveis e tatuagens absurdas. O tiro sai pela culatra e você termina pior do que quando começou. 

Contra a pobreza de espírito, meu amigo, não existe bolsa-família.



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pobreza e auto-imagem, parte II

Continuação...




Raspe esse bigode.





Se você está lendo esse tópico e já passou pelo título, pare o que quer que você esteja fazendo e vá raspar seu bigode. Agora. Depois você pode continuar a leitura e entender o porquê. Confie em mim. Bigode é coisa de pobre. Não existe justificativa moral que explique a ocorrência desse estilo de cabelo facial. Quem tem grana raspa a cara toda ou cultiva uma barba de respeito. Não existem meios-termos. E nem circunstâncias atenuantes. Bonito não é, mas sempre há a possibilidade de que você mantenha o seu ridículo bigode na esperança de ocultar alguma terrível deformação no lábio superior. Ou talvez você simplesmente seja banguelo e achou que andar por aí com um preá morto na boca era a melhor maneira de esconder sua falta de higiene bucal. Pense de novo. E, enquanto pensa, trate de escovar os dentes. Os que ainda restam. Quanto ao bigode, podemos dizer, com absoluta certeza, que ele envelhece, enfeia e, pior de tudo, empobrece. Se você for jovem, fica parecendo um pré-adolescente que tenta, sem sucesso, se desvincular de sua imagem de punheteiro zoófilo. Se você estiver mais avançado em idade, vai parecer um PM em fim de carreira. Em ambos os casos, você sempre vai ter cara de vendedor de aspirador de pó e/ou pedófilo. E de liso, claro. O bigode parece ter um sinistro poder de deturpação mental, afetando a parte do cérebro responsável pelo bom-senso e pela estética, fazendo com que os homens que insistem nesse maldito amontoado de pelos se enxerguem dessa forma:






Quando o resto do mundo os vê assim:






Nem deveria ser necessário comentar, mas lá vai. Mulheres, caso vocês tenham sido sacaneadas pela genética e carreguem a maldição do buço feminino, LIVREM-SE DESSA COISA. 



 Não há exceções.



Não existem mulheres ricas de bigode. Por Deus, não deveriam existir mulheres de bigode e ponto final. Mas não vivemos em um mundo perfeito e temos que nos virar com o que temos. Então, a não ser que você seja uma Frida Kahlo da vida, raspe, depile, arranque, use um sabre de luz, qualquer coisa, mas não saia por aí parecendo que engoliu uma andorinha e deixou o rabo da coitada de fora.



 No Maranhão, por exemplo, as andorinhas estão em extinção.



Pare de chamar atenção.

Pobre é uma desgraça mesmo. Por algum motivo, adora chamar atenção. Talvez seja por se sentir invisível nas grandes cidades, em meio ao caos urbano diário. Também pode ser uma maneira de compensar a falta de atenção por parte do governo e do resto da sociedade. Não importa, quem é liso adora aparecer. É o povo que fica gritando na traseira do ônibus, a mulher que vai bater boca com a vizinha no meio da rua, o imbecil que não tem grana para pagar uma boa escola para a filha, mas investe 2/3 do seu salário mínimo pagando cachaça para as putas desdentadas do boteco da esquina. E ainda dança forró com elas em cima da mesa de sinuca. É o desgraçado que, em vez de trabalhar ou estudar, vai para o meio de uma praça do centro, ao meio-dia, vestindo o terno roubado de algum mendigo e começa a pregar a palavra de Jisui com uma bíblia que ele nunca compreendeu, um microfone, um alto-falante e total falta de consideração pelas pessoas ao redor. É o retardado que bota o som do seu caro no último volume, não importando o estilo musical, e estaciona na rua ou em alguma praia, achando que lugar público se traduz em bagunça coletiva. Enfim, é todo aquele que não sabe ser discreto, que não entende que as pessoas possuem uma coisa chamada “espaço pessoal”, que é invadido toda vez que você, em toda a sua pobreza saliente, resolve se manifestar descontroladamente, ofendendo as pessoas com sua pseudo-espontaneidade e pretensas demonstrações de alegria. Se você é uma dessas pessoas, repense sua vida. Na melhor das hipóteses, você é um largado na sarjeta da vida. Na pior, pode acabar ofendendo alguém e levando um tiro. O que, francamente, seria uma benção para o resto do mundo.


 Continua...



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pobreza e auto-imagem, parte I

A coisa não está fácil para ninguém e todos querem ter uma vida melhor. Isso nem sempre é possível, por mais que a gente se mate de estudar e trabalhar. Crise financeira mundial, recessão, baixos salários, jogos de azar, vício em drogas das mais variadas espécies e contribuições financeiras a alguma seita religiosa de origem suspeita. Tudo isso contribui para dilapidar sua renda e, no final das contas, a probabilidade de você ser pobre é muito maior do que o contrário. E às vezes você simplesmente deu azar na loteria da vida e nasceu liso mesmo. Então você se pergunta “Fazer o quê? A culpa não é minha se nasci na merda e já comecei a corrida em desvantagem”. Verdade. Mas também não é preciso se comportar como um fudido. 


 Para algumas pessoas isso é quase impossível.


Sejamos francos: pobre, a gente identifica de longe. Não é somente a falta de grana, a verdade é que tem gente que realmente possui talento para a coisa. Pessoas que, mesmo depois de melhorar de vida, carregam dentro de si os hábitos do seu passado indigente, tendo praticamente tatuado a palavra “mundiça” na testa. 



 Ás vezes, é difícil disfarçar.



O Blog da Reclamação, sempre visando dar uma mãozinha aos seus leitores, resolveu elaborar uma guia para aqueles que querem mudar de vida. Não, não vamos dar dicas financeiras nem doar cesta básica a ninguém. Isso é função de Ana Maria Braga e do governo, respectivamente. O que pretendemos aqui é ajudar os leitores a se comportarem menos como pobretões desgraçados e ais como cidadãos razoavelmente bem posicionados socialmente, através de algumas simples e práticas mudanças de atitude. Você pode até continuar morando na sarjeta da periferia depois de ler esse post, mas ao menos deixará de ser imediatamente rotulado como um amundiçado infeliz, dando o primeiro passo para uma vida muito mais plena e classuda. 


Mude de nome.

Você não tem culpa por essa. Quem fez a cagada foram os seus pais, que achavam que estavam sendo originais te dando um nome exótico, quando na verdade escreveram “POBRE” na sua certidão de nascimento. A verdade é que dar aos rebentos nomes estranhos, estrangeiros ou exageradamente compostos é um dos comportamentos mais flagrantes da população economicamente prejudicada. Acredite em nós quando dizemos que batizar seu bebê de Wancisley ou Gleicykelly não vai trazer absolutamente nada de bom para o futuro dele, ao contrário. E não importa quantos Ks, Ws ou Ys você consiga enfiar no nome, nada disso fará com que seu filho ou filha seja menos escrotizado na hora da chamada escolar. Sim, existem pessoas famosas e ricas por aí com nomes ridículos, como Sandy Leah, por exemplo. Mas Sandy é famosa apesar do seu nome, não por causa dele. Além disso, a danada é bonita, talentosa e já nasceu em berço de ouro. O que não é o seu caso. E não pensem que é puro e simples preconceito. Faça o teste. Se lhe entregassem um papel com dois nomes, Cristiana Oliveira e Craudivânia Janne da Silva e dissessem que uma deles é a diretora de uma empresa multinacional e a outra é a faxineira do turno da noite, quais nomes você associaria a esses cargos? Pois é. É instinto mesmo. Se seus progenitores, por ignorância, sintoma de pobreza ou pura vontade de te sacanear, te deram um nome desse calibre, o melhor que você pode fazer é mudar para um clássico Pedro ou Maria da vida. Original não é, mas evita que você passe o resto da vida sendo conhecido por algum apelido e rezando para que ninguém nunca ponha a mão em qualquer documento seu. E mudar de nome nem é tão difícil assim, basta provar que você sofre assédio moral e angústia mental diariamente por causa dele. O que, convenhamos, é o que certamente acontece caso você se chame Bucetilda ou Jorgeuoxinton Henrique. O juiz vai acabar acatando seu pedido, assim que terminar de apontar para sua identidade e rir da sua cara.


Use seu celular de forma apropriada.

O celular é um aparelho que serve para fazer com que duas pessoas consigam se comunicar a distância. E só. Falar alto ao telefone, rir escandalosamente, gritar, discutir, xingar a mãe e passar duas horas no bônus da OI falando mal da vaca da vizinha é coisa de gente pobre. O mundo ao seu redor não precisa (e provavelmente não está interessado em) conhecer os sintomas da diarreia da sua avó, o último chifre que você levou do seu marido ou os detalhes daquele gol que você quase fez na pelada dominical no terreno baldio ao lado do bar de Dona Mema. Da mesma forma, ficar assistindo o programa de Cardinot na TV do seu telefone portátil, comprado em 317 prestações, é praticamente um atestado de mendigo, principalmente se você está no ônibus e o volume está no máximo. Use fones de ouvido, especialmente na hora de ouvir o seu brega, axé ou pagode, estilos musicais que por si só já te jogam na sarjeta da vida, mas você também não precisa esfregar esse fato na cara dos transeuntes na estação do metrô. Na dúvida, adquira um celular simples e o utilize apenas em sua função original: fazer e receber chamadas.


 Continua...