domingo, 7 de março de 2010

Odeio muito tudo isso

 

Ah, nada como reclamar mais um pouco da estupidez humana, um assunto que é, baseado em minha experiência pessoal, simplesmente inesgotável. Essa história veio da minha eterna chefenha, Vânia, e aconteceu algumas semanas atrás.
Estava um casal de turistas brasilienses se deleitando com as maravilhas turísticas do Recife e, extenuados, decidiram retornar à pousada onde estavam hospedados, lá no bairro de Casa Forte. Cansados e famintos, decidiram não arriscar suas vidas provando das delícias regionais que podem ser encontradas nos mercados populares da região ou mesmo no meio da rua. Sem saber exatamente pra onde ir e provavelmente sem saco pra pensar demais, optaram por fazer o que fazem 11 em cada 10 turistas sem imaginação: foram ao McDonald’s. Um erro que tanto vai assombrá-los pelo resto de suas vidas quanto me proporcionar material para mais reclamação.
Além de carecerem de criatividade, o tal casal também não possuía um carro o que, em defesa deles, ajuda a justificar a decisão de ir jantar na lanchonete do palhaço Ronald já que esta, afinal de contas, ficava bem em frente à pousada. E lá eles foram. Já era tarde da noite, de forma que as portas estavam fechadas, as cadeiras repousavam por cima das mesas, as luzes se encontravam apagadas e o bom-senso já tinha, há muito tempo, sido encaixotado e enviado pra algum lugar bem longe dali. O que fazer? Depois de debaterem a situação por alguns minutos, uma daquelas lâmpadas de desenho animado apareceu sobre as cabeças deles, quando chegaram à mesma conclusão: vamos ao drive-thru!
Acontece, meu velho, que eles tavam no McDonald’s. Aquilo lá tem regras, normas, leis, cacete! Tá pensando o que, que tá no Brasil, é? O lugar é praticamente uma embaixada americana. Então ou você se enquadra no padrão Mcdonaldiano de fazer as coisas ou vai sofrer terrivelmente. E de fato sofreram.
Os brasilienses, aparentemente ignorantes da forma como as coisas funcionam no território do tio Sam, foram até o caixa do drive-thru e, ingênuos que eram, pediram dois Mcalguma coisa, um deles sem picles e duas cocas. Light, beleza? A atendente, treinada à exaustão dentro dos padrões da empresa e cuja alma já havia, há muito tempo, sido consumida pelo palhaço Ronald, exibiu seu melhor sorriso e disse que não poderia atendê-los. Atônito, o casal perguntou porque, meu Deus, porque. Eficientemente, a moça explicou que eles estavam no drive-thru e que, afinal de contas, aquele espaço era apenas para clientes que estavam de carro. Sim, ela entendia que eles eram de fora e que não tinham carro no Recife. Sim, era mesmo uma pena que a parte principal da lanchonete já estivesse fechada.  Não, ela não ia atendê-los enquanto eles não aparecessem ali de carro. Os turistas pensaram um pouco e, num estalo, veio a resposta: iriam simplesmente aguardar que algum carro se aproximasse, explicar a situação ao motorista e contar com o mesmo para que fizesse o pedido deles. Depois de alguns minutos, aparece um veículo. O casal faminto salta de um arbusto lateral e passa a explicar a situação ao assustado motorista, que concorda em ajudá-los, certamente mais pelo susto do que qualquer outra coisa. Entregam o dinheiro ao motorista e ficam ao lado do caixa esperando pelo pedido. A atendente, sentindo os tentáculos negros do palhaço Ronald se apertando em torno de sua garganta, sorri e responde que não pode atender ao pedido do motorista, pois sabia que ele estava fazendo o que o casal de turistas havia pedido. E eles não estavam de carro, veja bem. O motorista estava mentindo pra ela e, pior, sendo cúmplice de todo o esquema espúrio orquestrado pelos brasilienses. Um escândalo. Hambúrgueres na cueca. A atendente jamais compactuaria com tal tramóia.
Nesse momento, enlouquecidos pela fome e, principalmente, pela imbecilidade do padrão McDonald’s de atendimento, os turistas fizeram o que qualquer um faria ao chegar nessa situação-limite: invadiram o carro do estranho sem nome e exigiram, aos berros, os seus McLanches muito, muito Felizes. A atendente, um sorriso de escárnio petrificado emoldurando seus olhos vazios, respondeu que agora sim, ela podia atendê-los, com o maior prazer. Aceitou o dinheiro, passou o troco e entregou o pedido. Eficiente. Mecânica. Vazia.
E no final, só pra ser escrota, ainda deu boa-noite.
Traumatizados, os turistas rumaram para seu pequeno quarto de pousada, saborear seus hambúrgueres sintéticos regados à lágrimas e temperados com estupidez.
Próximo dali, um boneco do Ronald McDonald repousava sobre um banco. Seus olhos mortos encaravam o breu da quente noite recifense. A boca era um esgar doentio, manchado de vermelho-sangue.
E sorria.


2 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    quanta imbecilidade, meu deus!

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  2. Huahuahua.. incrível.. e um pouco triste.
    Porque as vezes eles trazem a "burocracia" até aos lugares onde é completamente desnecesário?
    Não pensei que seria tão ruim. Eu não experimentei algo assim graças a Deus.. :P
    Vou ficar com minha boa impressão que tudo mundo ajuda quando pôde. E sei que geralmente é assim. Se não fosse em empressas imperialistas por exemplo.. ehem..

    Sempre odiava esse palhaço. Por ser palhaço, claro, e por ser extremamente feio.

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Vai, danado, reclama!