Ah, nada como reclamar mais um pouco da estupidez humana, um assunto que é, baseado em minha experiência pessoal, simplesmente inesgotável. Essa história veio da minha eterna chefenha, Vânia, e aconteceu algumas semanas atrás.
Estava um casal de turistas brasilienses se deleitando com as maravilhas turísticas do Recife e, extenuados, decidiram retornar à pousada onde estavam hospedados, lá no bairro de Casa Forte. Cansados e famintos, decidiram não arriscar suas vidas provando das delícias regionais que podem ser encontradas nos mercados populares da região ou mesmo no meio da rua. Sem saber exatamente pra onde ir e provavelmente sem saco pra pensar demais, optaram por fazer o que fazem 11 em cada 10 turistas sem imaginação: foram ao McDonald’s. Um erro que tanto vai assombrá-los pelo resto de suas vidas quanto me proporcionar material para mais reclamação.
Além de carecerem de criatividade, o tal casal também não possuía um carro o que, em defesa deles, ajuda a justificar a decisão de ir jantar na lanchonete do palhaço Ronald já que esta, afinal de contas, ficava bem em frente à pousada. E lá eles foram. Já era tarde da noite, de forma que as portas estavam fechadas, as cadeiras repousavam por cima das mesas, as luzes se encontravam apagadas e o bom-senso já tinha, há muito tempo, sido encaixotado e enviado pra algum lugar bem longe dali. O que fazer? Depois de debaterem a situação por alguns minutos, uma daquelas lâmpadas de desenho animado apareceu sobre as cabeças deles, quando chegaram à mesma conclusão: vamos ao drive-thru!
Acontece, meu velho, que eles tavam no McDonald’s. Aquilo lá tem regras, normas, leis, cacete! Tá pensando o que, que tá no Brasil, é? O lugar é praticamente uma embaixada americana. Então ou você se enquadra no padrão Mcdonaldiano de fazer as coisas ou vai sofrer terrivelmente. E de fato sofreram.
Os brasilienses, aparentemente ignorantes da forma como as coisas funcionam no território do tio Sam, foram até o caixa do drive-thru e, ingênuos que eram, pediram dois Mcalguma coisa, um deles sem picles e duas cocas. Light, beleza? A atendente, treinada à exaustão dentro dos padrões da empresa e cuja alma já havia, há muito tempo, sido consumida pelo palhaço Ronald, exibiu seu melhor sorriso e disse que não poderia atendê-los. Atônito, o casal perguntou porque, meu Deus, porque. Eficientemente, a moça explicou que eles estavam no drive-thru e que, afinal de contas, aquele espaço era apenas para clientes que estavam de carro. Sim, ela entendia que eles eram de fora e que não tinham carro no Recife. Sim, era mesmo uma pena que a parte principal da lanchonete já estivesse fechada. Não, ela não ia atendê-los enquanto eles não aparecessem ali de carro. Os turistas pensaram um pouco e, num estalo, veio a resposta: iriam simplesmente aguardar que algum carro se aproximasse, explicar a situação ao motorista e contar com o mesmo para que fizesse o pedido deles. Depois de alguns minutos, aparece um veículo. O casal faminto salta de um arbusto lateral e passa a explicar a situação ao assustado motorista, que concorda em ajudá-los, certamente mais pelo susto do que qualquer outra coisa. Entregam o dinheiro ao motorista e ficam ao lado do caixa esperando pelo pedido. A atendente, sentindo os tentáculos negros do palhaço Ronald se apertando em torno de sua garganta, sorri e responde que não pode atender ao pedido do motorista, pois sabia que ele estava fazendo o que o casal de turistas havia pedido. E eles não estavam de carro, veja bem. O motorista estava mentindo pra ela e, pior, sendo cúmplice de todo o esquema espúrio orquestrado pelos brasilienses. Um escândalo. Hambúrgueres na cueca. A atendente jamais compactuaria com tal tramóia.
Nesse momento, enlouquecidos pela fome e, principalmente, pela imbecilidade do padrão McDonald’s de atendimento, os turistas fizeram o que qualquer um faria ao chegar nessa situação-limite: invadiram o carro do estranho sem nome e exigiram, aos berros, os seus McLanches muito, muito Felizes. A atendente, um sorriso de escárnio petrificado emoldurando seus olhos vazios, respondeu que agora sim, ela podia atendê-los, com o maior prazer. Aceitou o dinheiro, passou o troco e entregou o pedido. Eficiente. Mecânica. Vazia.
E no final, só pra ser escrota, ainda deu boa-noite.
Traumatizados, os turistas rumaram para seu pequeno quarto de pousada, saborear seus hambúrgueres sintéticos regados à lágrimas e temperados com estupidez.
Próximo dali, um boneco do Ronald McDonald repousava sobre um banco. Seus olhos mortos encaravam o breu da quente noite recifense. A boca era um esgar doentio, manchado de vermelho-sangue.
E sorria.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirquanta imbecilidade, meu deus!
Huahuahua.. incrível.. e um pouco triste.
ResponderExcluirPorque as vezes eles trazem a "burocracia" até aos lugares onde é completamente desnecesário?
Não pensei que seria tão ruim. Eu não experimentei algo assim graças a Deus.. :P
Vou ficar com minha boa impressão que tudo mundo ajuda quando pôde. E sei que geralmente é assim. Se não fosse em empressas imperialistas por exemplo.. ehem..
Sempre odiava esse palhaço. Por ser palhaço, claro, e por ser extremamente feio.