domingo, 4 de abril de 2010

Semana Santa II

  

Mas sendo bastante justo, a Semana Santa no isolamento do Recife em lá suas vantagens. Uma delas é que aqui se mantém as tradições de uma cidade pequena. Então, é comum que os bairros façam suas próprias versões da Paixão de Cristo, no meio da rua mesmo. Geralmente, é a paróquia de alguma igreja católica que se reúne e faz milagre (HAHA, milagre, entendeu? Muito boa, não?) com pedaços de isopor, uns trapos velhos emprestados do flanelinha da rua, muito entusiasmo dos “atores” e, de maneira geral, uma total ausência de senso de ridículo. Todos podem participar, por isso se ligue. Seu vizinho do andar de cima, aquele que passa a madrugada escutando o Conde do brega, pode ser Pilatos. O vigilante do posto de gasolina pode muito bem ser Judas. Você está cercado de figuras bíblicas e nem sequer sabe disso. Ah, nem se anime. Isso não quer dizer, necessariamente, que aquela vizinha gostosa vai fazer o papel de Maria Madalena e muito menos que você vai poder ajudar ela a ensaiar. Isso aqui não é filme pornô, porra.
Então, se você é um desligado como eu, pode inventar de ir comprar o pão na esquina e acabar no meio da Via Crucis, sem saber exatamente o que está acontecendo ou como você foi parar ali. Fica um tanto difícil se transportar pro Novo Testamento quando os soldados romanos usam tênis e as colinas de Jerusalém são, na verdade, os arranha-céus de Boa Viagem, mas o pessoal se esforça. E fica você, caminhando corajosamente no meio da multidão de meia-dúzia de figurantes, precariamente agarrado ao seu saquinho de pão e tome lapada em Cristo. E já que você tá lá mesmo, dá vontade de chegar nele e arriscar “Jesus, na moral, dá uma multiplicada aqui, de leve”. E pedir pra ele fazer o mesmo com o conteúdo da sua carteira o que, no meu caso, ia causar uma enxurrada de papel velho pela rua. Chegando em casa, com meus pães devidamente abençoados pelo motorista da Kombi da paróquia, não dá pra não experimentar um sentimento de unidade maior com a comunidade. Afinal, mesmo que de forma improvisada, eu acabei participando do espetáculo da fé do povo. E olha que nem ao menos sou católico. Mas tudo bem, esse ano eu era um transeunte aleatório comprando o pão. Ano que vem, se eu me esforçar, posso até ser promovido a apóstolo.
Maria Madalena que me aguarde.

6 comentários:

  1. Maria Madalena ficou com Jesus, cara!

    Vc ainda vai ter q passar por muitas Vias Crucis até ser promovido ao "Todo poderoso"!

    hehehe

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  2. Aê, Fred,

    Tu até que dá pra Jesus. Aproveita o olho verde (quase igual ao Jesus da Legião da Boa Vontade, que tem olho azul), deixa crescer a barba, o bigode e o cabelo e faz uma escova permanente. Só não espere comer alguém do sexo feminino com esse visual. No máximo vai ganhar pão de graça. E pra quem ainda não conhece, segue o link do áudio que conta a história da briga na procissão, de Chico Pedrosa. Muito boa. http://tinyurl.com/yb3dxut

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  3. como assim, "crescer a barba"?? pfffffff

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  4. Eita. Nosso missivista é um eterno imberbe? E aquela grana que emprestei pra comprar barbeador? Devia ser pros cantinhos...

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  5. Que bobagem, uma via crucis! Ainda mais para quem participou do São Joângelus, lá na Igrejinha perto do Bode, dançou quadrilha e tudo em mil novecentos e lá vai vovô de calça enxuta! Hahahahaha... Lembra disso?

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  6. Pensei a mesma coisa q Déa. Impossível crescer barba... Sinto muito, nada de Cristo pra você, Frederico...

    E que Paixão de Cristo foi essa q tu encontrou no meio de Setúbal? o.O

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Vai, danado, reclama!