sexta-feira, 9 de julho de 2010

O caso do cachorro cagão







Em algum lugar do passado, namorei um cara que tinha uma fazenda em Gravatá, onde criava um pastor alemão. Depois de mudar para uma casa, ele resolveu levar o cachorro para morar em Recife; dar mais atenção e carinho - já que a fazenda era só pros finais de semana, e olhe lá. Tentando fazer tudo certinho, consultamos um veterinário sobre "como levar o cachorro em um carro comum". Aparentemente, meio calmante resolveria nossos problemas e executaríamos a tarefa com facilidade. Claro, aparentemente, porque pra mim nunca é fácil. Chegamos à fazenda com o único objetivo de levar o cachorro. A orientação era dar o calmante e esperar até duas horas pra fazer efeito. Assim que o cachorro dormisse, colocá-lo no carro e voltar pra casa.
            Foi o que tentamos fazer. Dar o calmante já foi trabalhoso, porque o cachorro comia tudo ao redor, mas conseguia deixar o calmante intacto. Depois resolvemos abrir o remédio e misturar com carne de churrasco. Aí o cachorro endoidou e comeu sem critério mesmo. Esperamos 30 min., 1h, 1h e 30min... 2h... só pra garantir, mais uma hora, e nada do cachorro piscar, bocejar, sentar... quanto mais dormir.
            “Ok, acho que é porque ela é muito grande, vamos dar a outra metade!”
             Mais um pedaço de carne, mais duas horas, e nem sinal de sonolência. O cachorro parecia até ter um ar de riso.
            “Puta merda! Dá mais um inteiro logo, que esse negócio não faz efeito!”
            Feito! Mas nada de sono no cachorro.
            Resolvemos, depois de 6h de tentativas frustradas, levar o cachorro acordado mesmo. Baixamos o banco de trás e amarramos a coleira de forma que mantivéssemos o animal o mais longe possível do volante, pra evitar possíveis sustos. Seguimos, então, para os 8km de buracos até chegar à BR. Nos primeiros minutos da viagem, estranhamos o fato de que o cachorro fazia questão de ficar em pé, se sustentando desajeitadamente como quando estamos num ônibus em movimento sem lugar pra segurar.
            15 minutos depois de sairmos da fazenda, um barulho de engasgo e um cheiro azedo. Olhamos pra trás e o cachorro tinha vomitado.
            "Eeeeeeeeeeca, na alcatifa do carro!"
            “Fazer o quê, né? Só dá pra limpar quando chegar em casa.”
            Diante do ocorrido, nada de ar condicionado, abrimos as janelas e seguimos viagem.
            Mais alguns minutos e ruídos depois, percebemos que a cachorra - tinha dito que era fêmea? - teve uma fortíssima dor de barriga - possivelmente causada pelo excesso de remédio ( e sono que é bom, nada!). Seguiram-se mais vômito, mais cocô e mais vômito e mais cocô até chegarmos à BR. A essa altura, o cachorro já tinha ingerido uma boa parte da mistura e o que sobrava o fazia escorregar pelo carro. Muitas vezes ele meteu as patas empapadas de cocô e vômito nos vidros de trás na tentativa de se manter em pé.
            Acho que não é preciso dizer que o cheiro, então, já se tornara insuportável e nós precisávamos alternar o perfume de carro - provavelmente tóxico, mas um verdadeiro alívio - nos nossos narizes. Um dos momentos mais críticos e definitivamente o mais constrangedor da viagem foi ter que parar no posto de gasolina. O frentista fez questão de chamar os amigos e outros clientes pra mostrar duas pessoas na merda e um cachorro - agora sim - sonolento.
            Ao chegar em casa, fomos tomar uma longa série de banhos para tirar o cheiro impregnado nas nossas peles, roupas, narizes e principalmente, memórias. Vale lembrar que o carro, mesmo depois de muitas lavagens caras e profissionais, foi vendido pouco tempo depois, ainda com odores estranhos, que não sei se eram reais ou decorrentes do trauma mesmo.


Por Andréa Nobre.

7 comentários:

  1. Texto supimpa! E que cachorro miserável!!! Uma vez fomos para Natal de carro e Calú, uma poodle que minha irmã tinha, quase caga nas costas do meu pai. Foi engraçado.

    Ass: Mauro, o galhofeiro cagão.

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  2. Da próxima vez compra uma caixa de transporte!Tem cão que é bem sensível mesmo...:P

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  3. aahhaahahahahahahaahhaahahahahah eu ri, viu!!!

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  4. :P
    OPA!!!
    Foi dramático mesmo!!
    Déa.

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  5. Quase vomito só de ler. Quero reclamar disso!!!

    Saulo Toscano

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  6. Eeeeeeeeeeca, brother! E vocês deram o cachorro também não?
    Diana

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  7. E eu que achava que tinha sofrido pra levar o vira-lata pro hospital. Deu pra acompanhar toda a angústia do casal. Dramático. E nojento. Alguém aí quer adotar um "virador" (vira-lata e labrador)?

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Vai, danado, reclama!