sexta-feira, 16 de julho de 2010

Se tem mais de quarenta, agüenta




Mudar de profissão depois dos quarenta é foda. Mesmo que seja pra ter mais uma profissão. É foda. Você vai ter que fazer algumas coisas para as quais não tem mais testículos (ou ovários) nem humildade. Tipo fazer estágio, ver garotos de 20 e poucos anos concluindo o mestrado, justificar a idade o tempo todo depois que preenche a ficha do estágio da outra linha e, acima de tudo, freqüentar universidade no período da manhã ou tarde. 

Por mais que haja uma galera cheia de boa vontade, não dá pra passar incólume às reações da maioria dos alunos imberbes e alunas tabacudas, ambos entupidos de hambúrgueres, refrigerantes e preconceito. Você pode dar a sorte de ficar numa turma desencanada, mas esta será sua área de conforto. O resto serão olhares de estranhamento e indiferença (“o que é que ele tá fazendo aqui”?), pirralhos alienados, bibliotecárias e professores chamando você de professor, professor querendo sua ajuda pra fazer a cabeça da turma – já que vocês dois são mais experientes e ele quer se promover academicamente e ter menos trabalho –  e o povo querendo te empurrar a presidência do diretório acadêmico e roubadas semelhantes (se você está lá nessa idade, deve ter tempo pra isso). Ah, os nobres acadêmicos também podem ignorar seus pedidos de orientação e de encaminhamento a projetos, porque preferem moldar profissionalmente os coitados dos meninos e meninas. Sem contar que você vira personagem folclórico e a turma sempre acha interessante comentar o que você diz, faz ou veste. 

Parafraseando o notável filósofo Zé Pequeno, interessante o caralho. 




Já falei, o professor faltou. Eu sou calouro, cacete!




Se sobreviver a isso, é possível perceber algumas vantagens na vida universitária pós-quarenta. Os vendedores de cartão de crédito, livros e seguros passam longe de você e vão direto nos otários novinhos. Dificilmente você vai ser incomodado com brincadeiras idiotas de calourada. Os professores vão tomar cuidado antes de lhe sacanear com trabalhos baseados em textos de auto-ajuda. E seus colegas de turma com o tempo percebem que um cérebro acima dos 40 anos pode sim trabalhar com mais informações que os horários dos jogos do campeonato pernambucano, o custo da feira do mês e o rombo no hipercard. O fato é que a maioria dos universitários não assimilou os dados – acho que nem sabem que existe IBGE, pergunta pra ver - apontando uma atividade cada vez mais intensa em pessoas de todas as idades, principalmente após os 40. Tem muita gente abrindo novos caminhos para si, a fórceps, que seja. Não tá satisfeito? Muda de profissão, mesmo tendo que enfrentar o universo quase pré-adolescente e teleguiado das faculdades brasileiras. Paciência. E os boyzinhos e boyzinhas vão ter que aturar os tios. 

E de vez em quando suportar serem superados pelos quarentões.


Por Alberto Penaforte, amigo e autor do blog Rádio Gastronomia.

4 comentários:

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  2. Infelizmente compartilhamos do mesmo sentimento, amado Alberto. Apesar de me encontrar na casa dos "inta", já passei por situações semelhantes a sua, pode acreditar. É Phoda! (isso mesmo, com PH)

    Se você não tem vinte poucos anos a pirralhada te ataca ou simplesmente te ignora. Confesso que, em alguns momentos, acho boa ideia de ser ignorada. Porém, quando o projeto deve ser desenvolvido em equipe, isso pode ser um grande problema. Das duas, uma. Ou você será cobiçado as tapas pelos pivetes que não desejam ter trabalho, porém obter uma ótima nota.-Afinal, você resolverá tudo sozinho; Ou se recusam a trabalhar com você por acreditar que suas ideologias são arcaicas e que o estado de "velhice" pode ser contagioso!

    Quanto a ser confundida como uma professora. Bom... Hoje já tiro de letra e até consigo tirar algum proveito disso. kkkkkkkkkkkkkkkkk (Fala sério! Eu fico é puta da vida quando me confundem)

    O pior quer ser ignoto a pedidos de orientação e de encaminhamento a projetos... É ser, cuidadosamente, classificado, como anciã e por isso inadequada ao mercado de trabalho.
    Caralho! Eu não estou querendo um emprego para o qual eu tenha que me passar por uma modelo de 13 anos, com pele sem rugas, comumente visto por aí, que modela para o editorial de moda com looks para mulheres de 30, 40 e 50 anos. Nem mesmo, estou desenvolvendo meu cérebro pra ser Miss Universo. Até porque elas nem têm cérebro! kkkkkkkkkkkkkkkkk (Ok, ok! Confesso que peguei pesado com as "miss") Na verdade só 89% delas não têm cérebro. Já 8% têm cérebro mas, não sabe como funciona. As demais já sabem encontrar seu país no mapa. kkkkkkkkkkkkk

    Se eu não posso trabalhar nem estagiar, por não ter os meus vinte aninhos de vida. Então cadê a porra da minha aposentadoria por invalidez?????

    Desabafei. Ufa!

    Cheiro pra tu, visse!

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  3. Pois é, Alberto. É bronca. Mas há um consolo. As pessoas são assim em todas as áreas da sociedade. Não acontece só com quem está "fora da faixa etária". A pessoa tem que ter a idade certa, a cor certa, a condição social certa, e por aí vai.

    Ass: Mauro, o galhofeiro.

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  4. Vocês complementaram com astúcia, malemolência e perfeição as minhas observações. Estamos na sociedade do Perfil Ideal, sem saber o que isso significa. Gê, não sabia que o pessoal dos "inta" já sentia a pressão. Como diriam os companheiros dos tempos de Correios, tu ainda é menina nova, esquenta não... Mas se conseguir a aposentadoria, eu também quero!

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Vai, danado, reclama!