segunda-feira, 2 de agosto de 2010

No Portuguese


O professor de Inglês respira fundo. Na sua frente está o aluno, um homem de meia-idade, usineiro de sucesso do interior do estado de Pernambuco. Há algumas semanas que as aulas vêm acontecendo e, até aquele momento, o progresso do empresário da cana se limitava ao uso, freqüentemente incorreto, das palavras “Yes” e “No”. A aula desse dia envolvia vestuário e o professor começou com as peças com grafia e pronúncia mais semelhantes ao português, como “jeans”, “blouse” e “jacket”.
- Ok, now repeat:T-shirt. – E apontava para a própria camisa.
- Tixerte. – Repetia o aluno, obedientemente.
- Hmm. Ok. Repeat: Pants. – Seguiu, indicando suas calças.
- Pêntis.
- Boxers. – O professor estacou, em dúvida. Como fazer o aluno entender que ele falava de cueca?
- É o quê, tchitcher? – perguntou o aluno, confuso.
- No Portuguese, Mister Severino. – Respondeu o professor automaticamente. Não se podia falar a língua materna em sala de aula e o professor levava aquela regra muito a sério.
- Biu, tchitcher. – Corrigiu o aluno, muito simpático.
- Ok, Mister Bill. So...ahn...boxers. Boxers…boxers…ok. Here, take a look.
Diligentemente, o professor desenhou a figura do Super-Homem, voando elegantemente pela lousa branca. Apontava com seu marcador para a cueca vermelha que o herói, por algum motivo, vestia sobre as calças azuis.
- Ok, see?
- Ôxe, sei demais. Superômi.
- No Portuguese, Mister Bill!
- Superman, Superman!
- No!
- Vôte, e é o Homi-Aranha, por acaso?
- Argh! No! No. Ok. Let me think... – O professor repetiu mais uma vez a palavra “boxers”, dessa vez apontando sutilmente para sua região pélvica.
- Cumé a história, tchitcher? – Indagou o aluno, franzindo o cenho.
- Boxers. – Tornou a falar o professor, que agora apontava, estupidamente, de si mesmo para o aluno, ainda indicando a área da virilha.
- Apoi num vô fazer esse boxi com o sinhô não, respeito é bom e eu gosto! – retrucou ferozmente o usineiro, levantando-se de sua banca.
Desesperado, o professor saltou na direção da porta, ficando entre a saída e seu aluno, que deu um passo para trás, assustado.
- O sinhô tá manifestado, tchitcher?! – Perguntou Severino, assustado.
- Boxers! Boxers! – Repetia o professor, à ponto de sofrer uma síncope. Resolveu apelar: desabotoou as calças e exibiu sua própria cueca, estampada com uma grande variedade de animais coloridos e sorridentes. Havia sido um presente da sua avó. Horrorizado, Severino encostou-se à parede, as mãos crispadas ao lado do corpo trêmulo.
- Boxers!
- Deus me defenda! Num faço, num faço! O sinhô pode dar a muléstia aí, mai num faço!
O professor agora segurava sua cueca com ambas as mãos e berrava ensandecidamente. Severino, ainda que aterrorizado por se encontrar em situação tão bizarra, finalmente começou a exibir sinais de compreensão. Olhava pensativamente do rosto apoplético do professor de inglês para sua ridícula cueca infantil.
- Apoi...
- Yes! Yes, Mister Bill! Go on!
- Apoi…
- Yes, boxers! That’s right!
- Apoi é Zorba, é?



O professor de inglês, fulminado, tombou para frente. Seus olhos mortos fitavam o vazio e um fio de saliva escorria de sua boca retorcida. Depois dessa experiência, Severino desistiu de aprender a língua inglesa, sempre contando para os compadres do interior o estranho causo do seu professor, que havia morrido em sala de aula, com as calças tristemente arriadas até os joelhos.
Porém sem jamais falar português em sala de aula.

3 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    ri demais aqui no trabalho...

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Graças ao Supremo que eu nunca passei (e acredito, nunca passarei) por essa situação. Talvez só quando for ensinar minhas crianças num futuro próximo.

    Ass: Mauro, o galhofeiro sem paciência para o ensino.

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  3. Hummm!

    Gostei da tática do Severino.kkkkkkkkkk

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Vai, danado, reclama!