segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Eu queria que o mundo fosse um shopping center









Eu queria que o mundo fosse um shopping center. 

Não, esse não é um libelo pró-capitalismo, uma epifania repentina causada por um excesso de BigMacs e Coca-Cola em uma mente delirante.

Eu realmente gostaria muito que o mundo fosse um shopping center.

Se você não entende o porquê disso, das duas uma: ou sua cidade anda ótima ou os shoppings que nela existem são todos uma porcaria. Afinal de contas, convenhamos. Se o mundo fosse um shopping center, teríamos climatização eterna, em todos os lugares. Dá pra imaginar isso, no ápice do calor de uma cidade como, digamos, Recife? Além disso, haveria garagens (cobertas ou não) para a maior parte dos veículos e segurança o tempo todo, com profissionais bem pagos e devidamente treinados. Todas as lojas e banheiros possuiriam acesso a pessoas com dificuldade de locomoção, tudo muito organizado e sinalizado. Todos os orelhões iriam funcionar e seria seguro usá-los mesmo de madrugada. Haveriam creches para os filhos enquanto seus pais trabalham, fazem compras ou se divertem, talvez em algumas das praças de alimentação que se espalhariam de maneira ciclópica pelas ruas limpas e ordenadas. Funcionários engravatados da administração desse shopping monstruoso estariam sempre vigilantes para nossas necessidades, deslizando silenciosamente em seus segways elegantes. E as cabines de informações seriam os locais mais procurados, com funcionários prontos a responder qualquer questão concernente a qualquer coisa, do número exato de MMs vermelhos em um pacote, até dúvidas existenciais acerca da vida após a morte, sexo na terceira idade, a mente feminina e se Deus possui senso de humor. Seriam os templos definitivos, suplantando todas as religiões atuais, sem conflito nem violência.

Um mundo-shopping seria uma utopia.

Mas o melhor de tudo seria a mudança de comportamento das pessoas. Já percebeu o quanto o nosso comportamento muda quando entra em um shopping? Muda, sim. Você talvez não note, por ser uma postura já demasiadamente enraizada em seu ser, mas muda. Pessoas que minutos atrás jogavam lixo porcamente pelas ruas, passam a zelar pelo piso lustroso como se fosse o de suas próprias casas. Não se corre e até se evita caminhar apressadamente. Os motoristas respeitam a faixa de pedestre nos estacionamentos. Um verniz civilizatório parece ser passado em todos á entrada de um shopping, inibindo comportamentos praticados descaradamente todos os dias nas ruas. Mas é só sair novamente que a tinta descasca e as pessoas voltam a exibir sues verdadeiras personalidades. Parecendo até certo ponto aliviadas, sentem-se no direito de voltar a jogar lixo no chão ou urinar nos postes, acompanhando seus animais de estimação na tarefa de emporcalhar as vias públicas. Coisa impensável dentro de um shopping, corriqueiro fora dele.

Sim, eu gostaria que o mundo fosse mesmo um shopping center. Perderíamos em originalidade, cor e beleza. Não haveria mais diferença nenhuma entre lá e cá. E viveríamos para sempre enclausurados em um templo de consumo e de aparências onde, sabemos, quem manda mesmo é o dinheiro.

Mas ao menos nos portaríamos como gente, o tempo todo.

6 comentários:

  1. acho q vou ter um pesadelo. isso foi pior q Aldous Huxley

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  2. Eu também queria que o mundo fosse diferente...mas não como um shopping center!
    Preferia que fosse como o mundo dos "Jetsons"
    :P

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  3. Bem interessante o seu texto... Gostei do ponto de vista que você explorou, de fato, falta nas pessoas essa noção de que zelar sua cidade é fundamental.E realmente seria muito bom se o Recife vivesse 24h climatizada e organizada :)

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  4. Vai arrumar uma roupa pra lavar, um seriado melhor pra assistir ou um aluno pra lecionar, pow
    até entendo o ponto de vista da Daniela, já que ela vive em um mundo hipotético,mas Shopping Center só presta das 10:00 às 10:30....

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  5. Hummmm não sei, que post mais polêmico AL Fredo..Eu queria a educação que o povo tem no shopping center, mas por incrível que pareça nem pra comprar prefiro o shopping e não largaria mão da praia pela climatização hehehe =P

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  6. Só em não ver mais mulheres botando sacolas plásticas na cabeça pra não perder a escova, já valeria a pena. Mas tu irias perder muito. As voltas de bicicleta ao ar livre, sempre com a possibilidade de um emocionante atropelamento, as idas à padaria, encontrando os coroas usando samba-canção, os doidos que a gente encontra pela rua... não vou nem falar dos colírios na praia, que é covardia.... ou teu mundo-shopping tem praia artifical? Aí a gente conversa...

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Vai, danado, reclama!