segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dia das Crianças I

Sim, é bom ser criança. Quem não lembra com saudade de uma época em que a única preocupação que se tinha era vencer o vizinho no campeonato de bola de gude e a maior dúvida existencial que passava pelas nossas cabeças era o porquê de meninas não terem pitoca? A vida se resumia a brincar com os amigos, evitar o sexo oposto, assistir TV, buscar novas e criativas formas de se machucar e, de vez em quando, estudar. As ruas eram enormes, especialmente as antigas, de barro. E os bairros eram do tamanho de um país, exibindo fronteiras invisíveis e misteriosas que só cruzaríamos anos depois. Toda descoberta era mágica e as decepções da vida ficavam para sempre marcadas em nossos pequenos corações. Estes eventualmente cresceriam, junto com seus donos, mas a cicatriz permaneceria lá, nos acompanhando mesmo quando nos tornamos adultos, eterno lembrete de uma fase da vida que não volta jamais.

E, para alguns, é até bom que não volte. Francamente, vocês eu não sei, mas já me arrombei muito quando criança. A falta de experiência, a total dependência aos pais, os amigos cruéis, os irmãos malas, tudo isso fez parte da minha infância. Sim, sou um adulto traumatizado. O que sou, hoje, devo ao que passei quando criança. Exagero? Nem um pouco. Como lidar, por exemplo, com a empolgação materna quando a escola organizava as temidas e implacáveis apresentações nas datas cívicas? Francamente, existe algo mais cruel do que vestir seu filho de índio, com sunga e pintura de guerra feita de esparadrapo, e fazer a pobre e confusa criança desfilar pela quadra do colégio, enquanto os alunos mais velhos apontam, riem e marcam sua cara para te usar de pano de chão no dia seguinte?






Sério, mãe? Plumas rosas? Foi na intenção, né?




Pois é. Esse aí em cima sou eu. Pela minha expressão, eu devia ter acabado de perceber as terríveis implicações de sair por aí fantasiado de futuro integrante do YMCA. É provável que, atrás da pessoa que bateu a foto, houvesse algum garoto mais velho, descrevendo com gestos entusiasmados de quantas formas eu seria surrado, humilhado e, de maneira geral, escrotizado no dia seguinte e pelo resto do ano letivo, enquanto eu permanecesse naquela escola ou mesmo naquele bairro. Felizmente, minha mente infantil se retraiu e não reteve memórias desses acontecimentos. 

Mas lembro de muitos outros. O que não falta é história e amanhã, Dia das Crianças, vou compartilhar com você, leitor, alguns dos traumas infantis que a terapia não conseguiu resolver. E quem quiser aproveitar para deixar alguma história constrangedora de infância, nos comentários, sinta-se a vontade.

Afinal, recordar é viver. E, algumas vezes, também é se jogar no chão e chorar em posição fetal.

5 comentários:

  1. Muito bom seu texto!! Legal conhecer esse seu lado, enfim todo mundo tem seus momentos nostalgia... E se servir de consolo, também ja fui obrigada a me vestir de india quando eu tinha sete anos, exatamente a mesma fantasia que você, só que as plumas eram azuis kkkkkkkk
    e minha mãe me obrigou a pagar o mico de me vestir de baiana,havaiana,cigana e ate de caipora( acredite!)...
    Acho ate que vou pegar carona no seu post e escrever algo sobre o dia das crianças :D

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  2. hahahahah eu teria váááarias histórias traumáticas pra contar....mas não vou! hauhuahauhauhuahauhua

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  3. Oi Fred, aqui é Manu, uma grande fã, amo o seu blog!! Não deixe de postar, se possível diariamente! Quero conhecer você!

    Beijo!

    Manuela

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  4. Adorei o texto!É bom recordar esses momentos nostálgicos da infância, momentos que fixam em nossa memória e não voltam mais...Bem, o que mais me irritava era o corte que minha mãe mandava fazer no meu cabelo...eu odiava...tipo assim...Acho que esse corte é perfeito nele, mas não em mim!Enfim!hehe :D

    http://www.chord-and-sorcery.com/music/hunks/gal-dcoverdale/dc/dc-live07.html

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  5. "Saiba!
    Todo mundo foi neném
    Einstein, Freud e Platão, também
    Hitler, Bush e Saddam Hussein
    Quem tem grana e quem não tem...
    Saiba!
    Todo mundo teve infância
    Maomé já foi criança
    Arquimedes, Buda, Galileu
    E também você e eu...
    Saiba!
    Todo mundo teve medo
    Mesmo que seja segredo
    Nietzsche e Simone de Beauvoir
    Fernandinho Beira-Mar...
    Saiba!
    Todo mundo vai morrer
    Presidente, general ou rei
    Anglo-saxão ou muçulmano
    Todo e qualquer ser humano...
    Saiba!
    Todo mundo teve pai
    Quem já foi e quem ainda vai
    Lao-Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
    Gandhi, Mike Tyson, Salomé...
    Saiba!
    Todo mundo teve mãe
    Índios, africanos e alemães
    Nero, Che Guevara, Pinochet
    E também eu e você
    E também eu e você
    E também eu e você..."
    Adriana Calcanhotto

    Muito bom o texto..como sempre...=)
    =*

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Vai, danado, reclama!