quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pernambuquês II

Como eu havia falado no post anterior, é simplesmente expressão e gíria demais para um texto só. Contando com a ajuda dos amigos leitores, consegui mais alguns verbetes para este dicionário, tudo feito no espírito de cooperação de pessoas desejosas de terem seu pernambuquês melhor compreendido lá fora.


Frango – Incrível ter deixado essa passar. Pior que quem me lembrou foi a amiga e leitora Henna, lá do Ceará e que, até onde eu sei, nunca morou por aqui. Frango, além da ave, também se refere ao homossexual masculino, obviamente de maneira bastante chula. De fato, em Pernambuco não se come frango. Quer dizer, se come, mas geralmente camuflado ou depois de uma passadinha lá na Metrópole. Se você estiver em uma mesa de restaurante cheia de pessoas das mais variedades origens e, por algum motivo, quiser saber se tem algum pernambucano presente, basta chamar o garçom e pedir em voz alta “Moço, eu queria mesmo era comer um franguinho agora”. Se alguém se enfiar debaixo da mesa na tentativa de esconder uma risada estúpida e fora de controle, então ele é conterrâneo de Chico Science. Se estiver visitando o Recife, faça um favor a si mesmo e peça um galeto.

Vôte! – Também uma das minhas favoritas. Pernambucaníssima, essa interjeição é utilizada para demonstrar espanto, estranheza, desconfiança ou descontentamento. A origem, bastante peculiar, remete ao engenheiro francês Louis Lérger Vauthier, contratado, no século XIX, pelo então governador da província de Pernambuco, o Conde Francisco do Rêgo Barros, para uma série de obras que permanecem até os dias de hoje, algumas delas se tornando cartões-postais do Recife como, por exemplo, o Teatro de Santa Isabel:






O Mercado de São José:






O casario da Rua da Aurora:






Entre outras intervenções na paisagem urbana local. Depois de ter feito tanta coisa legal por aqui, você deve estar se perguntando por que diabos o sobrenome do cara é associado à tanto sentimento ruim, de uma forma quase supersticiosa, pelos recifenses. Acontece que Vauthier, fazendo jus à fama dos franceses, era considerado um pé no saco. Chato, arrogante, intratável e dado a pitis intermináveis, o cara era considerado insuportável por 95% das pessoas com as quais interagia. Os outros 5% nem falavam, já chegavam descendo o cacete mesmo. Numa dessas, ele acabou decidindo que era melhor, para a sua saúde, voltar para a França. Mas não antes de ter o desprazer de ver seu sobrenome se transformar em expressão de desgosto na boca do povão. Vôte!

Um cheiro! – Mais uma imperdoável. Pernambucano não manda beijo, manda cheiro. E se você não sabe que cheiro é melhor que beijo é porque nunca levou um, muito menos de um pernambucano ou de uma pernambucana. Além de demonstração de afeto, também pode ser uma mostra de coragem, caso a outra pessoa tenha acabado de chegar da pelada dominical ou passou o dia tratando peixe para a Caldeirada com a família. A dica veio da amiga e leitora Fátima Germana.

Pirraia – A amiga, leitora e prima Alice, dona do blog IDENTIDADE PESSOAL, foi quem lembrou essa. Corruptela de “pirralho”, serve para designar crianças. Também é demonstração de carinho e afeto, principalmente entre as camadas mais humildes da sociedade pernambucana. Se você nunca foi chamado de “Meu pirraia” é porque não é daqui ou então é um esnobe.

Massa – Mais uma enviada por Fátima Germana. O mesmo que “legal” ou “muito bom”. Também é gíria para maconha. Falar “Que massa, doido!” no meio de um show de reggae no Recife Antigo pode te render uns tragos da erva cultivada na Zona da Mata pernambucana, segundo os entendidos a melhor do Brasil. Também pode resultar num cacete por parte da polícia local, é tudo uma questão de oportunidade.

Pirangueiro – Uma instituição de Pernambuco. O pirangueiro é o famoso unha-de-fome, mão-de-vaca, amarrado, avarento, enfim, o desgraçado que atravessa o Capibaribe a nado com um Sonrisal na mão sem desmanchar. Dá origem ao verbo “pirangar” e ao substantivo “pirangagem”. 

Passar o xêxo – Foi Mauro, o galhofeiro, quem me lembrou dessa. Passar xêxo é o mesmo que fazer um trambique, do tipo “comprou, mas não pagou”. Se seu nome está no SPC ou no Serasa, é porque você deu o vacilo de passar o xêxo em alguma empresa, em vez de se limitar apenas aos amigos e parentes mais próximos. Dá origem ao adjetivo “xexêro”.

Pai – O amigo Chico Fagundes lembrou essa daí. Não sei a origem e não faz o menor sentido, mas algumas pessoas, geralmente um tanto mais humildes, tratam umas as outras dessa forma. Expressões como “Bora, pai” e “Te fode, pai” são bastante populares.


Sei que ainda não cheguei nem perto de cobrir todas as expressões e gírias usadas pelo povo pernambucano, mas agora já é possível, para os de fora, terem ao menos uma leve noção de pernambuquês. Pratique com seus amigos e chegue aqui fluente.

Afinal, o carnaval está chegando.

7 comentários:

  1. Pai!! Hahahaha! Acho que vem do "meu filho", que a gente fala muito.

    Enfim, eu topo o texto. Mas o que eu tenho que fazer, reclamar?

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  2. Esqueci a melhor de todas (minha preferida): arrudiar/arrudeia
    Essa é linda...

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  3. Puts...Arrudeia é triste!!!!!
    Eu sempre me pego falando essa "muléstia" aí kkkkkkkkkkk
    Boa lembraça Gabi!

    Amado Fred, como sempre, você arrasa.
    Ameiiiiiiiiii o post!

    Cheiro pra tu, visse!

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  4. Pinta - órgão sexual masculino de criança.
    Abilolado (ou abilocil, ou abiscoitado) - boboca.
    Tabaco - mais conhecido como fumo, é também outra forma de denominar o órgão sexual feminino (tembém tem o xibíu).
    Aruá - abestalhado.
    Barruada - batida.
    Catráia - mulher feia.
    Bigú - carona.

    Ass: Mauro, o galhofeiro

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  5. Estou só anotando as dicas, afinal ano que vem irei visitar a terra de vocês e tenho que me virar sem dar vexame!hehehe
    Valeu pessoal!Vou imprimir todos os verbetes!
    \o/
    :***

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  6. Fred, tabacudo realmente tinha que ser o primeiro de todos! Ah! Senti falta do "arregar" (e suas variantes), "estilar" (idem), "frexeiro" (nem sei se é assim que se escreve) e o famoso "butico". Sem mais.

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  7. Cagado, arretado, malamanhado, liso, remela...Tantas outras gírias.

    Tu bem que podia fazer um post sobre os ditados pernambucanos, feito: 'Olho grande só serve pra tirar remela...'

    Abraço,

    Bôia.

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Vai, danado, reclama!