quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meus momentos mais constrangedores: Top 10 - 4º e 3º lugares





4º lugar: Cinema com minha mãe


Eu dificilmente vou ao cinema com a minha mãe, mas quando isso acontece, tento escolher um filme que eu acho que ambos vão gostar. Nesses casos, um bom filme de terror ou uma comédia são as melhores alternativas. Como na época a primeira opção andava escassa, resolvi, sem raciocinar direito, convidar a coroa para uma exibição de O Anticristo, de Lars Von Trier. Ingênuo, pensei que se tratava de um filme de terror comum, envolvendo um tanto de sangue, talvez alguns desmembramentos e, por que não, um ou outro peitinho, no máximo, só para quebrar a rotina de mutilações e gritos adolescentes. Sabe como é, entretenimento para toda a família.




 Na foto: entretenimento para toda a família.




Acontece que Von Trier não parece ter lá muita noção do que é diversão familiar. Ou talvez tenha e estava simplesmente a fim de me sacanear. O filme é uma das coisas mais doentias e absurdas que já vi na minha vida, com imagens que ficarão gravadas para sempre na minha mente. Claro que você poderia argumentar que eu deveria ter prestado mais atenção antes de levar minha progenitora para ver um filme desse calibre, mas assistindo ao trailer ninguém poderia adivinhar o nível de bizarrices aos quais seríamos expostos.







Sem contar, claro, com a bunda de Willian Dafoe.




De forma que, por cerca de duas horas e meia, tive que testemunhar, ao lado de uma mãe horrorizada, esse tipo de cena:


- Bebês suicidas se espatifando em calçadas cobertas de neve.

- Fodelança em câmera lenta no banheiro, com close das genitálias, enquanto o bebê acima mencionado brinca de super-homem pela primeira e última vez na vida.

- Atos de felação, sodomia e, de maneira geral, putaria, praticamente a cada quinze minutos.

- Masturbação com ejaculação de sangue.

- Mutilação de membros e genitálias em detalhes grotescos e altamente realistas.


Entre outras coisas. Ao final da sessão, eu choramingava em um canto, agarrando meus joelhos, enquanto algumas poucas pessoas permaneciam em suas poltronas paralisadas pelo trauma, tendo que ser encaminhadas para alguma emergência psiquiátrica logo depois. Minha mãe permaneceu em silêncio ao sairmos do cinema e, sem olhar para mim, declarou “Filme doido da muléstia. Gostei muito não”. Morto de vergonha, só me restou o consolo de que podia ter sido bem pior.

Podia ter sido em 3D.



3º lugar: Alistamento


A não ser que você more em um país como Israel, o serviço militar só será obrigatório para a parcela masculina da população. Aos dezoito anos, todo brasileiro precisa se apresentar no quartel mais próximo e torcer para que os oficiais encontrem algum defeito físico ou mental em você. Caso contrário, vai ser necessário se preparar para passar pelo menos um ano vestindo roupas camufladas e limpando as latrinas dos oficiais. Como quase ninguém quer ficar na corporação, o pessoal inventa qualquer negócio para escapar à convocação. É gente que aparece mancando por causa da unha encravada e alegando que não pode servir à pátria graças a um infeliz câncer nos ovários. Vale tudo para escapar.

É por isso que existe o exame médico. Como os militares não têm muito tempo, espaço e paciência para acomodar as milhares de pessoas que precisam se apresentar todos os anos, o exame costuma primar pela praticidade. Em outras palavras, os candidatos são largados em algum galpão esquecido por Deus e obrigados a tirar a roupa, sob os olhares sádicos dos sargentos de plantão. Tudo bem, não é a roupa toda. Só a calça e a cueca. Camisa e sapatos ficam, afinal o Exército Brasileiro não quer ninguém pegando um resfriado. É nesses momentos que se observa com mais clareza o comportamento humano, mais especificamente do gênero masculino, em sua forma mais primária. O instinto do homem faz com que ele, automaticamente, procure dar as costas para alguma superfície inerte, como um muro de concreto ou uma cerca eletrificada. Com a retaguarda mais ou menos protegida, chega a hora de lutar contra tudo aquilo que lhe foi ensinado desde os tempos de criança e baixar suas defesas, junto com suas calças, em uma enorme sala cheia de outros homens, também com a bilola de fora. Muitos se desesperam nesse momento e saem correndo, eventualmente tropeçando nos próprios cintos e sendo levados aos gritos para uma sala secreta onde exames mais aprofundados e um tanto mais ríspidos tomam lugar.




 Correu porque sabia que isso ia acontecer, né safadinho?




Os sobreviventes se encontram em um estado de tensão absoluta. Músculos latejam sob a pressão insuportável que é uma sala cheia de machos sem roupa, desde que, claro, não seja algum tipo de sauna. O mais difícil, aqui, é decidir para onde dirigir o olhar. Você sabe que as pessoas ao seu lado estão tão constrangidas quanto você e que, afinal, um caralho é um caralho, o que muda é apenas o tamanho e a cor. E o formato, caso você tenha nascido com problemas. Mas esse conhecimento em nada alivia o nervosismo, fazendo com que a maioria dos homens decida que a melhor estratégia é olhar para cima, livre da visão de genitálias alheias e, aproveitando a postura, muitos acabam rezando aos céus para aquilo terminar logo. É então que os médicos do exército, brutos que só eles mesmos, começam sua ronda pelo patético círculo de homens despidos, tecendo os mais variados comentários.


- Meu filho, não lava não, é?

- Tem certeza de que você é homem?

- Desliga o ar-condicionado que o desse aqui tá quase virando pra dentro!

- Em formato de C? Sério? É de família, é?

- Posso tirar uma foto?

- Corre e chama o Dr. Fragoso! Apareceu mais um daqueles anormais!

- Baixa essa porra agora ou eu mando te prenderem.

- Assim, tatuado, eu nunca tinha visto. Quem é “Clemys”?

- Eita, esse aqui tem um ovo só também, ó!

- Você já trabalhou no circo?

- Marca de batom? Noite boa, heim?

- O que importa não é o comprimento e sim o diâmetro. O que, no seu caso, não faz a menor diferença.


E por aí vai. No final, os doutores decidem quem está apto a servir e quem pode ir para casa tentar restaurar um pouco da dignidade perdida. Por sorte, consegui ser dispensado por “excesso de contingente” e nunca mais na vida botei o pé em um quartel.

Pelo menos não sem as minhas roupas.

2 comentários:

  1. Clemys, a musa. A deusa. É, Fred não esquece essa mulher... Como diria Juliermes: "mulher não, peida-papa".

    Ass: Mauro, o galhofeiro fofoqueiro.

    ResponderExcluir
  2. ad 4)
    Eita, que filme horroroso mesmo.. Lembro muito bem aquela tarde. Foi Jasmin que escolheu, não foi? Então a culpa não era tua completamente :D Fiquei com trauma também - graças a Deus tu ficou ao meu lado pelo menos pra me sentir um pouco protegida :))
    E, ao fim, tô lembrando agora nossas sesões de cinema e todas essas coisas.. dá tanta saudade..

    :-**

    ResponderExcluir

Vai, danado, reclama!