segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meus momentos mais constrangedores: Top 10 - 5º lugar










Detesto fazer cirurgias. Além do risco do estagiário trocar os prontuários e você acabar com um par de próteses de silicone quando na verdade você só queria operar a fimose, ainda existe a chance de o anestesista errar a dosagem e te colocar em coma ou de você sofrer um choque anafilático devido à intolerância relacionada a alguma substância desconhecida, te transformando no equivalente intelectual de um repolho cozido. Isso sem falar naqueles objetos estanhos que os cirurgiões insistem em esquecer dentro das pessoas, causando transtornos físicos e cicatrizes mentais.




 Eu juro que não sei como isso foi parar aí.




Mas antes que isso tudo aconteça, é necessário se preparar para a cirurgia, um procedimento que parece ter sido criado com o único intuito de obliterar a dignidade do paciente. E foi o que aconteceu comigo quando precisei remover os sisos. Sabem, aqueles dentes desnecessários, que só servem para causar dor, inflamações e para mostrar ao mundo que você é um troglodita tão estúpido que chegou atrasado ao trem da evolução, saindo por aí com órgãos absolutamente supérfluos, como o apêndice, as amígdalas e o dedo mindinho do pé.




 Mas alguma pessoas são menos evoluídas do que outras.




Cheguei no hospital e me colocaram em um quarto, onde uma enfermeira com expressão bovina me mostrou as roupas que eu deveria vestir para a intervenção cirúrgica: meias descartáveis que me faziam escorregar, uma touca muito semelhante à que minha avó usa para dormir e uma espécie de avental semitransparente atado nas costas, deixando à mostra minha bunda visivelmente tensa. Quando protestei contra aqueles trajes ridículos, a enfermeira sorriu maniacamente, se aproximou e começou a baixar minhas calças. Horrorizado, perguntei o que ela pensava que estava fazendo. Eficiente, ela informou que eu tinha cirurgia marcada, que só se podia entrar na sala de cirurgia com aquelas roupas e que, já que eu me recusava a cooperar, ela me iria me despir à força mesmo. Era de uma lógica cristalina e irrefutável. Depois de uma curta negociação, concordei em trocar de roupa no banheiro. Voltei me sentindo pronto para sofrer, e talvez até mesmo estimular, qualquer tipo de abuso sexual. 

Tímido, me deitei na cama enquanto a enfermeira aplicava o soro na minha veia, junto com o primeiro analgésico. Não sei se a intenção era essa, mas assim que o medicamento entrou no meu sistema, eu caí em um estado de semiconsciência, incapaz das mínimas funções motoras. Tenho apenas uma enevoada lembrança de ser atirado em uma maca, implorando pelas minhas calças. A sala de operações devia ser bem longe do quarto, ou talvez a enfermeira tenha se perdido várias vezes, mas me recordo que a viagem até o bloco cirúrgico durou várias horas, nas quais eu era exibido pelos corredores como aqueles carrinhos de sobremesa dos rodízios de carne. Alucinado, eu tentava de alguma forma cobrir a bilola, exposta ao vento frio e aos olhares críticos de médicos, auxiliares, visitantes e outros pacientes, enquanto a enfermeira debilóide me empurrava sorridente até o meu destino. Com um estrondo, passamos por uma porta dupla e tudo ficou escuro. Acordei dolorido, inchado e enjoado. Em um vidrinho na cabeceira da cama estavam os meus dentes, a razão de toda aquela desgraça. 

Ao lado, acondicionada em um recipiente bem menor, encontrava-se o que restava da minha dignidade.

3 comentários:

  1. hahahaah! Nossa, tudo isso para tirar o siso? Não dava pra tirar no consultório dentário mesmo? Que sofrimento!
    Nunca passei por qualquer cirurgia, mas o que eu mais temo, caso tenha que passar por uma, é do aventalzinho que não cobre a bunda. Tenho pesadelos com isso.
    Beijo.

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  2. Ainda bem que a minha nêga véia, quando extraiu os sisos, não passou por isso. Fez a cirurgia no consultório do dentista, eu acompanhei e ela não precisou mostrar a bunda a ninguém!!! Graças!

    Ass: Mauro, o galhofeiro.

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Vai, danado, reclama!