quinta-feira, 8 de abril de 2010

Parada de ônibus: o problema II



Hoje eu peguei o ônibus numa parada lotada. Numa situação dessas, um dos piores momentos é o embarque. É aí que a frágil máscara de civilização que usamos no dia a dia se dissolve, dando lugar a uma turba de selvagens incontroláveis, uma mundiça execrável cujo único objetivo é chegar primeiro à catraca, de preferência fudendo outro ser humano no processo. Já vi velhinhas trêmulas de Parkinson se transformando em máquinas assassinas, distribuindo guarda-chuvadas a torto e a direito. Já vi grávidas flagelando outros passageiros com umbigadas mortais. Deficientes visuais que sabiam exatamente onde desferir potentes golpes de forma a acertar os órgãos vitais dos outros passageiros, fazendo-os sangrar até a morte no chão da parada de ônibus, tudo enquanto são pisoteados pela multidão ensandecida. Por tudo isso eu já passei, mas hoje... hoje foi um pouco pior.
O ônibus parou com a entrada há dois passos de mim. Ou seja, já tinham 47 pessoas se espremendo na minha frente quando as portas se abriram. Depois foi uma questão de sobreviver, enquanto a massa orgânica de desesperados me levava, inescapavelmente, mais perto da entrada do veículo. Finalmente, a horda me deposita nos degraus. Na minha frente, uma senhora gorda começa a subir penosamente no veículo. O rabo descomunal lentamente começa a eclipsar tudo o que está na minha frente, uma massa de gordura, pelancas e esperanças despedaçadas que preenche a totalidade do meu campo de visão. Toda essa matéria informe era mantida precariamente no lugar por uma fina calça de lycra preta, semi-transparente. Não satisfeita, a cria de satã ainda vestia uma calcinha gigantesca, branca, dolorosamente visível através da calça. E lá ia ela, rastejando como um verme inchado pela entrada do ônibus, enquanto me obrigava a travar um contato de 2º grau com a entidade separada que era seu traseiro enorme. Ao ver aquela bunda absurda, irreal, sentia que meus testículos lentamente se recolhiam para o abdome, de puro horror abjeto. Em nome de Deus, eu juro, aqueles glúteos me transformaram em um eunuco pelo resto da viagem. Humilhado, ferido em minha masculinidade por uma visão de terror absoluto, recolhi-me em um canto do ônibus, lamentando as paradas lotadas do Recife e as calças de lycra preta em promoção.
Mas a questão é que não precisava ser assim. E eu vou mostrar por que.

2 comentários:

  1. Veja pelo lado positivo Fredo. Se vc não andasse de ônibus, não teria histórias maravilhosas para contar aqui no blog. :P

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  2. Compra um carro amado! Te juro que você não ficará mais chateado . E o melhor de tudo é que você escolherá o rabo que o acompanhará em suas viagens : ) kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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Vai, danado, reclama!