quarta-feira, 9 de junho de 2010

Amor que entristece


Só deixando uma coisa bem clara: eu sou doido, maluco, ensandecido, pirado pela minha cidade. Pode até não parecer, já que eu escrevo em um Blog de reclamações cuja inspiração maior é, justamente, o próprio Recife. Sei que passo os dias e os posts descendo o cacete nas cercanias, mas é tudo na boa intenção. Freqüentemente, o prefeito me liga chorando. Bem, na verdade, é mais uma respiração pesada do outro lado da linha, uns soluços suspeitos e gemidos animalescos, mas só posso chegar à conclusão de que é o Prefeito, angustiado com minhas bem-intencionadas críticas. Mas uma coisa eu garanto; eu amo este lugar.
Recife é uma cidade peculiar ao extremo, cujos nativos parecem viver em uma freqüência um pouco diferente da dos habitantes de outras metrópoles. Parte disso vem do verdadeiro excesso de cultura que transborda por aqui. São tantas manifestações, estilos de música e dança diferentes, folclore, teatro, artes plásticas, Gastronomia, cinema e tantas outras coisas que fica difícil, às vezes, encontrar um recifense assim, totalmente normal. Por outro lado existe a rica História que formou o povo daqui, um dos mais rebeldes do Brasil e que sempre foi chegado em superlativos e inovações. Por essas e outras que temos aqui a primeira sinagoga das Américas, o restaurante mais antigo do Brasil ainda em funcionamento, o jornal mais antigo das Américas em circulação, o primeiro observatório astronômico do país, a avenida mais comprida em linha reta do mundo e muito mais. O Recife transpira História, mas infelizmente, boa parte dela ainda se encontra escondida ou abandonada ao descaso, enquanto os recifenses caminham alheios às riquezas ocultas nas velhas ruas da cidade.
Quer uma prova? Então siga esse roteiro:
1-    Vá até a Avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, um dos maiores e mais antigos do Recife, bem no coração da cidade.
2-    Dependendo do sentido, pode ser no começo ou no final. Para quem vai pela Avenida Guararapes, é no começo, ali perto da lanchonete pseudo-árabe Habib’s.
3-    Se foi de ônibus, atravesse a rua. Se foi de carro, se arrombou, porque vai levar multa. Pois é.
4-    Olhe para o alto e você deve encontrar o templo da Primeira Igreja Batista do Recife, uma das mais antigas do país. Um prédio modesto, mas muito bonito e que por si só já valeria a visita.





5-    Entre no templo pelo portão de ferro preto que fica à esquerda e suba as escadas. Quando sua cabeça estiver acima do muro, volte sua visão para a esquerda e se impressione.


















6-    Parabéns. Você acaba de encontrar aquela que é, provavelmente, uma das lojas maçônicas mais antigas do Brasil, possivelmente das Américas. Guardada por uma dupla de grifos com feições femininas e encarando um pátio de pedras portuguesas, o edifício tem aquele estilo antigo, clássico e misterioso, tão comum à arquitetura do centro da cidade.
Como se pode ver pela imagem, a edificação já viu dias melhores. O acabamento e fachada estão em péssimo estado e o prédio todo encontra-se, incrivelmente, totalmente cercado por prédio maiores, que impedem que a loja seja vista pelas pessoas da rua. O pátio, acreditem se puderem, hoje serve apenas como estacionamento, provavelmente para os lojistas que trabalham na área, como pode ser visto na imagem abaixo.



E assim, um local cheio de História, que deixaria Dan Brown verde de inveja, permanece desconhecido para os habitantes do Recife, que mal sabem o que se encontra logo atrás da parede da lanchonete, enquanto saboreiam suas esfihas de R$ 0,49. O prefeito que me perdoe, juro não gosto de vê-lo chorar, mas por que tal coisa acontece? A loja maçônica, claro, é apenas um exemplo. Caminhar pelo Recife não é só respirar História, é se angustiar pelo estado em que a mesma encontra-se preservada em nossa cidade.
Reafirmo: amo minha meu Recife.
Mas freqüentemente me entristeço ao caminhar pelas suas ruas.

3 comentários:

  1. Só uma dica para quem quer se apaixonar mais ainda pelo Recife: para aqueles que ainda não fizeram, procurem fazer o passeio de catamarã, que sai ali do Receife Antigo e passa por baixo de várias pontes da cidade. É muito foda! Só fui fazer esse passeio no final do ano passado!
    Realmente, Recife, ou melhor, Pernambuco é o meu lugar. Tomara que eu deixe meus ossos enterrados aqui.

    Ass: Mauro, o galhofeiro apaixonado.

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  2. É... Também amo minha cidade, mesmo ela assim, mal cuidada e cheirando a mijo.

    Gustavo C.

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  3. Sempre amei o Recife, mas acho que só tive a noção do quanto, quando tive de vir morar fora. Que saudade!
    É engraçado, aqui no Ceará, ouvi vários depoimentos de pessoas dizendo que invejavam o povo pernambucano, suas tradições, seu bairrismo e cultura própria quase impenetrável. Aí, quando a gente se depara com uma situação de abando como essa descrita acima, desanima.
    Vamo botar o prefeito pra chorar, porra!

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Vai, danado, reclama!