quarta-feira, 2 de junho de 2010

Se trabalho fosse bom...




Se você trabalha, então é um reclamador. Ponto. O trabalho, todos sabemos, é um mal necessário e próprio da condição humana. É um terreno fértil de reclamações das mais diversas, em graus mais ou menos justificados. O problema, muitas vezes, tem a ver com elementos periféricos, porém inescapáveis do trabalho. Colegas, chefes, subordinados e por aí vai. Outras vezes, a natureza do emprego em si já é motivo mais do que suficiente para queixas.
Tomemos o exemplo do gari. Poucas profissões são mais ingratas do que essa. Passa-se o dia, muitas vezes as madrugadas, recolhendo o lixo alheio. Ou seja, todas as porcarias que você acha inadequadas para o consumo humano ou que já não possuem mais qualquer tipo de utilidade discernível são o objeto de atenção do gari. Condições insalubres, convivência com pragas como ratos, baratas e testemunhas de Jeová, além de horários completamente insanos são comuns a esse trabalho. Carregando latas e mais latas de lixo e correndo atrás do caminhão de recolhimento enquanto toma cuidado para não cair no triturador, o gari é uma espécie de super atleta da limpeza pública. E no meio dessa dureza toda, os caras ainda escutam gracinhas como “lá vai o cenourinha” ou “eita, o cachorro mordeu o saco do tomatinho”, fazendo referência à cor do uniforme desse trabalhador, que costuma variar de acordo com o local onde se exerce a função.
Um caso mais regional e peculiar de profissão amaldiçoada é, sem dúvida, a exercida pelos integrantes da Turma do Fom-Fom. Para quem não mora no Recife ou simplesmente não sai de casa, a Turma do Fom-Fom é uma iniciativa da prefeitura de educar motoristas e pedestres, aumentando assim o respeito pelas leis de trânsito. Isso geralmente é feito através de intervenções lúdicas e alegres pelas principais ruas e avenidas do Recife, com a participação de personagens coloridos e atraentes.
O que, na verdade, é só uma forma diferente de dizer que os coitados passam o dia vestidos de palhaço enquanto são escrotizados pelos transeuntes, incessantemente.
Fazer parte da turma do Fom-Fom é muito, muito ruim e não há dinheiro que compense o ridículo diário que essas pessoas precisam passar. Mas dentro da galeria de personagens do grupo, um tipo específico se destaca como sendo o menos desejado para o ator que o interpreta. Não, não é o Bruxo Barroada, mas sim a figura da própria Morte. Para interpretar a indesejável, o sujeito precisa colocar uma máscara de borracha de caveira, do tipo que bloqueia todos os poros, matando a pessoa aos poucos por sufocamento. Além disso, é preciso se vestir de preto da cabeça aos pés e ficar pulando para cima e para baixo nos sinais de trânsito, em horários de grande movimento, como ao meio-dia, por exemplo. No calor do Recife. Não é incomum, ao se caminhar pela cidade, encontrar personificações da morte jogadas pela sarjeta, afogadas no próprio suor acumulado nas máscaras de látex. Os casos de insolação são comuns, daí o motivo de se ver tantas Mortes por aí, balbuciando frases incoerentes enquanto seus corpos se contorcem de agonia devido ao calor extremo. Se em perfeitas condições de saúde esse pessoal já é desrespeitado, quando estão vestidos de caveira e gaguejando disparates eles se tornam alvos preferenciais dos motoristas, que agora já sobem com seus carros nas calçadas, tudo para se certificarem de que abateram o espectro medonho.
Por isso, pensem duas vezes antes de reclamarem do trabalho de vocês.
Sempre, sempre pode ser pior.

5 comentários:

  1. Nossa...esse post me fez lembrar um email que recebi há tempos...te encaminhei, dá uma olhadinha...Bjux

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  2. Já ouvi relatos sobre problemas de insolação e desidratação dessa galera. Dessa vez eu estou falando sério! É uma tremenda filha da putice colocar essa turma com essas roupas. Na verdade eu não sei como as pessoas conseguem usar ternos e demais roupas quentes morando em Recife. Eu, particularmente, odeio. Se possível, só uso bermudas e camisetas.

    Ass: Mauro, o calorento da galhofa.

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  3. Sinceramente, eu acredito que o processo foi invertido.
    Não seria melhor colocar os infratores do trânsito fazendo esse papel de ridículo, sob o sol escaldante do Recife ao invés de só pagar uma multa - que pra muitos é irrisória - e uns pontinhos na carteira?

    Dessa forma eles poderiam aprender, melhor, onde enfiar os seus carros!

    Por que no meu... Não pode ser!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. primeiro!!
    Ei! Eu sou testemunha de Jeová!
    Segundo, posso acrescentar minha reclamação a esse post pq sou professora de alunos de 14 anos.

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Vai, danado, reclama!