terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia das Crianças II

Quem não tem história para contar é porque não viveu. E talvez também porque não passou por traumas horríveis que desfiguraram a mente e deixaram marcas na alma, mas tudo é uma questão de opinião. Para o deleite dos leitores mais sádicos, segue abaixo algumas pequenas histórias da minha infância, do tamanho do seu protagonista na época em que aconteceram. Mas fica um aviso: são contos cheios de violência, terror, morte, nudez, sexo e insinuações de sodomia envolvendo animais relutantes, ferramentas de corte e costura e anões albinos. Sempre eles.



Venham todos!


***

Lembro como se fosse ontem. Estava voltando da praia com meus pais e atravessando uma avenida bastante movimentada. Quase do outro lado da via, percebi que havia deixado cair um brinquedo, talvez um indefeso patinho de borracha, logo no início da travessia. Com a confiança que apenas as crianças possuem, me soltei das mãos dos meus pais e saí correndo, entre os carros, atrás do brinquedo. Por sorte, intervenção divina ou simples acaso matemático, consegui chegar incólume ao outro lado da pista, enquanto os carros zuniam velozmente ao meu lado. Meus pais saíram correndo atrás de mim, gritando cosas que na hora não entendi muito bem. Depois de se certificarem de que eu estava bem, foram batendo em mim até chegar em casa.

Só para ter certeza de que eu estava vivo mesmo.

***

Uma vez, na casa dos meus avós, na mística terra do Janga, na cidade de Paulista, inventei de ir brincar com uma bomba. Não das que explodem, claro, meus avós não eram terroristas. Eu acho. Mas uma bomba mecânica, dessas de puxar água de poço e trazer para as torneiras de casa. Ficava numa casinha que possuía uma grade, geralmente trancada no cadeado pelo meu avô. Usando a lógica das crianças, devo ter pensado que devia ter algum cachorro lá (sempre adorei bichos) e no dia em que vovô esqueceu a grade aberta, fui lá ver o que tinha dentro. Um tanto decepcionado de encontrar um troço de ferro, bastante empoeirado, comecei logo a bulir nele. Sem saber que o neto estava acariciando a bomba d’água como se fosse um cão, meu avô ligou o aparelho, justo no momento em que meu polegar direito se encontrava enfiado no mecanismo de bombear (devo ter achado que era a orelha do bicho). A ponta do meu dedinho virou farofa na mesma hora, jogando sangue para todos os lados, numa daquelas cenas de filme de terror que seriam super legais se eu já fosse adolescente e o dedo esmigalhado não fosse meu. Correram a me levar ao pronto-socorro e os médicos de lá fizeram um bom trabalho salvando meu polegar, que ficou com uma cicatriz em forma de bunda até hoje.

Mas nada disso me impediu de aproveitar a festa de Natal, ao lado do meu irmão mais velho e não-deformado, como se pode ver abaixo.




***

Olhando para mim, ninguém diria, mas já fui campeão de caratê. Infantil, tá, mas fui. Naquele tempo, a arte marcial andava muito em voga, de forma que praticamente todo final de semana rolava algum campeonato. Meu pai, empolgadíssimo, nos obrigava a participar de todos. Modéstia a parte, eu e meus irmãos erámos bastante bons, especialmente na categoria de luta. Provavelmente porque passávamos os dias treinando uns com os outros, de forma um tanto mais informal e bem menos pacífica. 




Na época, tínhamos até ajudantes.

Apesar de tudo isso, detestávamos lutar com os faixas-branca. Eles eram, invariavelmente, incompetentes, desastrados, descoordenados e descontrolados. Enquanto nós mirávamos cuidadosamente em algum ponto específico do corpo do adversário e desferíamos o golpe controlando nossa força, os iniciantes simplesmente agitavam seus membros como embuás epiléticos até acertarem alguma coisa, geralmente só parando ao primeiro respingo de sangue. Tive que enfrentar um desses, na primeira luta do campeonato que aconteceu no Geraldão, ginásio localizado na Zona Sul do Recife, quando o lugar ainda abrigava eventos esportivos. Meu adversário era um menino gordinho, meio míope e que, francamente, parecia sofrer de um leve retardo. Mas era bastante agressivo. O árbitro autorizou o início do combate e eu, querendo acabar logo com aquilo e minimizar as chances de sofrer algum ferimento incapacitante, desferi um chute na cabeça do gordinho. Errei. E por não controlar bem a minha força, aterrissei de costas para o adversário, de pernas abertas. O cérebro do maldito rolha de poço, percebendo a oportunidade, gritou: “Chuta!”.

E assim ele o fez.

O débil-mental me aplicou um pontapé de baixo para cima, bem entre as pernas. Lembro que senti uma moleza que se espalhava pelo corpo e minha visão escureceu de repente. Minha vida passou diante dos meus olhos e, como eu era muito novinho, nem demorou tanto tempo assim. Tudo ficou lento ao meu redor, enquanto meu corpo se erguia no ar com a força do golpe e meu saco infantil era esmagado pelo pé do gordo desgraçado. Quando dei por mim, estava deitado de costas no chão, com uma roda de caras adultas e preocupadas nas laterais do meu campo de visão. Fui examinado e perceberam que eu não havia sofrido nenhum dano permanente. O gordo foi desclassificado por aplicar o proverbial golpe baixo e eu venci a luta, embora tenha perdido boa parte da minha fertilidade naquele dia.

Até hoje, quando vejo um gordinho de quimono, minha voz afina e meu saco se contrai para dentro do abdome.

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. ontii... acredito não que coisa fofa^^ kkk
    twitter também eh cultura... olha só o que eu achei ^^ tua pessoa por aqui :P

    quem diria que um rapaz tão sério e calado já passou por poucas e boas ...
    eu também tenho as minhas histórias pra contar... mas acho que nem tem espaço pra escrever.

    bem aproveite o feriadão vc merece :)
    see you teacher :P
    (ps: comentando de novo apaguei sem querer:X )

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  3. Olha aí, peguei carona no seu post e escrevi um sobre o dia das crianças!! Mas coloquei la os créditos ao seu blog pela inspiração ;D
    Também gostei da parte 2 do seu post :

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  4. Cara, tu tivesse o teu Sr. Myiagi! E tudo bem que tu era pequeno, e tudo era grande. Mas o Geraldão é um ginásio... Fora isso valeu te ver quase perdendo um dedo e levando um chute no saco.

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  5. hahahhaha na infância, os gordinhos eram sempre os piores! =P

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  6. kkkkkkkkkkk... Vc diverti muito a gente!
    É bom ver como a infancia de todo mundo é bem parecida! E os medos/traumas então! kkk... Parabéns, vc escreve mto bem!

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  7. Muito boas suas lembranças, hehehe.Eu tenho uma cicatriz na testa, no lado esquerdo. Depois disso, quando caía só atingia o mesmo lugar, sempre.:P

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Vai, danado, reclama!