segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Prendado Parte I









Eu detesto o trabalho doméstico. Pronto, falei. Sei que para muita gente é tolerável, enquanto alguns, pervertidos, juram de pé junto que até curtem. Sei que é mentira. Que curtem, não que são pervertidos. Isso eu sei que são. Enfim, o que quero dizer é que o serviço de casa é umas das obrigações mais chatas que um ser humano pode ter. Eu mesmo evito a todo custo. De fato, é apenas quando o estado de decadência do meu quarto e adjacências começa a pôr em risco minha integridade física e a de terceiros que começo a me preocupar com algum tipo de arrumação. E daí que a poeira se acumulou tanto que chega aos tornozelos? O chão acaba ficando fofinho, causando uma agradável sensação de massagem nas solas dos pés. Recomendo. Também não entendo todos esses conceitos de “organização”, “decoração” ou “higiene em níveis humanamente aceitáveis” que andam em voga por aí. Feng Shui, para mim, é um prato chinês que eu ainda não comi por pura timidez. Acho que a arrumação do lar é um conceito superestimado e, ouso dizer, até certo ponto desnecessário.

Lógico, é preciso algum tipo de ordem em casa, esse não é um blog que incita a anarquia e a total degeneração da sociedade como a conhecemos. A não ser nos finais de semana, claro. E dias de Cosme e Damião, mas aí já é outra história. De modo que deixo aqui algumas dicas para otimizar e/ou tornar algumas tarefas domésticas, senão agradáveis, ao menos toleráveis por aqueles que acham essa obsessão por limpeza e organização um dos males modernos mais danosos ao espírito humano.


- Passar roupa é um pé no saco e se você conhecer alguém que diz que gosta, mate esse psicopata antes que ele faça o mesmo com você. Procure usar apenas roupas de nylon, que não amassam, mesmo em ocasiões formais, como o casamento da sua irmã ou o funeral da sua tia predileta. Os olhares de reprovação que você receberá de amigos e familiares não são nada comparados ao libertador sentimento de paz ao se dar conta que aquela roupa não precisará ser passada. Caso você insista em vestir roupas de outros materiais, procure estender as peças pelas costuras e torça para que o vento não as movimente demais. De resto, não deixe de andar por aí com suas vestimentas engilhadas e bote a culpa do estado lamentável da sua camisa no movimento do ônibus. Se continuarem reparando na roupa enrugada, sorria placidamente e mande tomar no cu.

- Via de regra, eu só limpo o teclado do meu computador quando os pedaços de Doritos começam a prender as teclas, prejudicando meu desempenho no Call of Duty. Tem gente que realiza a profilaxia retirando as teclas e limpando uma por uma. Recomendado para penitentes e autistas em geral. Eu prefiro o método de virar o teclado de cabeça para baixo e bater no fundo, geralmente por cima do prato do almoço, para não desperdiçar a farofa de Doritos cuidadosamente acumulada por meses a fio. A única parte do monitor que eu limpo é a tela, por motivos óbvios. O resto costuma adquirir uma saudável tonalidade amarela-catarro, entrevista de relance entre as rachaduras ocasionais na crosta de poeira. A limpeza aqui pode ser feita com uma cueca velha e um pouco de água, mas o uso de saliva é não apenas aceitável, mas também recomendado, devido a questões ambientais. Aconselha-se utilizar apenas o seu próprio cuspe. Ao fim da atividade, pode-se vestir a cueca sem constrangimentos. 

- Lavar pratos e talheres é uma tarefa desagradável, enfadonha e absolutamente desnecessária. Siga o exemplo do seu bichinho de estimação e coma direto da panela, utilizando suas mãos. Fuçar a comida feito um porco é considerado rude em algumas culturas, de forma que é recomendável evitar tal prática fora de casa. Não tenha pressa em lavar as panelas. Reutilize-as, aproveitando os restos de gordura e fragmentos irreconhecíveis grudados no fundo, cada um deles adicionando um sabor próprio à sua receita. Esses detalhes vão garantir que cada refeição seja uma aventura diária e seus amigos e convidados vão se surpreender, imaginando o que, afinal de contas, eles acabaram de comer na sua casa e por que, Deus, eles têm essa inexplicável sensação de que é melhor não descobrir jamais.


Continua...

7 comentários:

  1. hahahahahaha
    Essa foi boa!Morri de rir aqui!
    Já quero a parte II.
    Não demore!
    :**

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  2. Eu lavo (roupas, pratos e panelas), passo, cozinho, arrumo casa, cuido de menino (no caso, uma menina)... mas confesso que não tinha pensado na utilidade da cueca velha. E você pode usar em outros equipamentos, como a tv, o som, a geladeira, o liquidificador, o dvd, a máquina de lavar. O perfex lascou-se.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Então, nem te conto..minha irmã AMA passar roupa! Eu sei, é absurdo..haha
    Curti esse espaço.
    Té =*

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  5. Caramba, nunca havia pensado que, mais uma vez, poderia sentir o sabor daquele último Dorito's com molhinho saboroso (que vinha dentro da própria embalagem do petisco).
    P.S.: Minha mãe passa roupa à ferro em pé... agora estou com medo dela :/.

    Parabéns pela instintiva tarefa de revelar suas descobertas "homísticas".

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  6. Então... começei a perceber que a hora de limpar o monitor é quando você começa a ficar prejudicado pelos excessos de erros de pontuações e sinais gráficos em seus afazeres acadêmicos, ocasionados pela sujeira acumulada na tela do monitor... você fica achando que é um ponto, uma vírgula, um acento agudo, grave e, acredite... até um til eu não digitei porque o treco lá já estava sobreposto.

    o/

    P.S.: Caso haja alguma pontuação ou acentuação excessiva, ou falta, o motivo é que ainda não limpei o monitor... estou em férias e a Universidade não vai precisar de meus textos.

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  7. descreveu meu quarto e meu teclado com perfeição. sem dúvidas, meu novo blog favorito! to rindo demais com os textos super bem escritos por sinal!! Parabéns!!!! =D

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Vai, danado, reclama!