sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Texto de convidado: Dezoito dias


Me deparo com um poste, e a seguinte proposta:






Tem idéia do que isso significa? Se eu soubesse que um dia eu poderia fazer o primeiro e segundo graus, JUNTOS, em menos de três semanas, teria esperado, na boa, somente pela certeza de que em dezoito dias jamais daria tempo de:

Levar três pontos na cabeça por paquerar a boyzinha do grandalhão da sala (ela que olhava pra mim...), pegar piolho com o cdf da turma, passar mal com o achocolatado da merenda (pense num chicotinho coletivo...), ir pra secretaria por cumprimentar minha amiga Graça (Diz, Graça!), pagar mico apresentando uma peça teatral em que éramos índios e vestíamos saias de tiras feitas de sacos de farinha trigo, ir pra secretaria por cantar o hino da escola errado (de propósito), ter que ouvir as piadas sem graça da menina que queria namorar comigo, ver se agarrando com outro a menina com quem eu queria namorar, querer namorar sério, ter que responder durante a apresentação de um trabalho se a mulher podia transar durante a gravidez (e eu é que sei?), cursar a disciplina de “Práticas do lar” (obrigatória), fazer os bolos e não comer nenhum pedaço,  passar batido e não pegar a gostosa do turno da noite, ir pra secretaria por ser um dos líderes de um movimento anti-aula (todo mundo pro Alto da Sé!), pegar papeira em pleno São João e deixar de dançar na quadrilha da escola (com a gostosa do turno da noite), entoar músicas de Djavan, Milton, Caetano e Gil (sem comer ninguém por isso), andar pra caramba pra chegar no Estadual de Olinda, ir pra secretaria pra diretora dizer que eu ia desfilar no sete de setembro, desfilar no sete de setembro, desfilar no 14 de setembro, pegar carona em caminhão de lixo pra ir aos jogos estudantis, ganhar uma torção por tentar uma vaga no time de handebol, ter que fazer a merenda à noite porque não tinha quem fizesse,  fazer poesia e ver um amigo(!) pegar as boyzinhas com elas, cair na gandaia com a galera barra pesada da escola e não ir pra formatura por falta de grana pra pagar o uniforme obrigatório.

Dezoito dias? No máximo, só daria tempo de:

Contar vantagem por ter dado um tebêi no grandalhão da sala (cara, ele tentou roubar meu papagaio!), saber que minha experiência como ator evitou sofrimento às platéias de hoje, dar a resposta certa à menina grávida, descobrir que talvez ter cursado “Práticas do lar” me ajudou na Gastronomia, ver nos meus exames que as caminhadas ajudaram no meu condicionamento físico, ter uma francesa como professora de francês (não, ela não era gostosa), ficar de castigo com a professora gostosa de Ciências (u-hu!), ver a galera bem alimentada com a merenda do turno da noite, saber que algumas poesias que eu fiz estão guardadas até hoje.

E você, de que estaria a salvo em dezoito dias?


Por Alberto Penaforte

Um comentário:

  1. Ah eu teria me salvo de tanta coisa...
    De ter ido à lousa pra resolver equações matemáticas;
    De ter caído no stop de uma escada achando que ninguém tinha visto e descobrir que as pessoas do andar acima estavam rindo da minha desgraça;
    De ter conhecido algumas pessoas inesquecíveis;
    De ter passado vergonha no dia do meu aniversário de 15 anos quando meu amigo com uma rosa vermelha ficou de joelhos e começou a cantar "Tu és divina e graciosa, estátua majestosa..."
    Ah...tanta coisa...ainda bem que naquela época não existiam apenas 18 dias; porque todos esses anos foram inesquecíveis e indispensáveis :D

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Vai, danado, reclama!