segunda-feira, 14 de março de 2011

Especial carnaval: e a culpa, de quem é?


Se você acessou a Internet durante as últimas semanas e especialmente durante o carnaval, já deve ter visto o vídeo abaixo.








A jornalista Rachel Sheherazade, além de ter nome de mocinha de filme de aventura árabe, também é uma observadora perspicaz da realidade à sua volta. Como, aliás, todo profissional da comunicação deveria ser. No caso de Rachel, o pau quebrou nas costas do carnaval, que por não ser um só e sim uma multidão, acabou ficando sem defesa dos comentários ácidos da paraibana. Ácidos, quase azedos, mas oportunos. O que Rachel descreve é, de fato, um lado do nosso carnaval que, manifestação cultural que é, não nasceu de um planejamento prévio ou de um pensamento lógico. O carnaval apenas é. Defeituoso, barulhento, excludente, inconveniente, perigoso, absurdo, quente, entorpecente e até mesmo vergonhoso em alguns momentos. Isso nem se discute.

Mas o discurso da jornalista acaba ficando raso ao apontar apenas um lado de uma discussão complexa e multifacetada, que envolve fatores que transcendem os problemas discutidos. O carnaval é uma expressão da cultura de um povo, povo este que é responsável por seus próprios atos e decisões. Rachel coloca ênfase demasiada no aspecto negativo da festa, esquecendo que quem faz o carnaval são as pessoas. A celebração, que possui uma história rica e relevante dentro da construção do caráter nacional, não pode ser o bode expiatório de mazelas sociais que vão além de uma festividade que dura apenas quatro dias. É como se um trabalhador brasileiro passasse a frequentar uma casa de forró depois do expediente e, após algum tempo, abandonasse esposa e filhos à própria sorte para viver uma existência desregrada e irresponsável até o fim dos seus dias. Não foram a música, a dança, a cachaça barata ou as mulheres fáceis que destruíram aquela família. Se é necessário falar de culpa, que ela seja apontada para os que merecem carregá-la. Ou seja, nós mesmos.

Nós, que nos permitimos manipular por governo, mídias de massa, marcas de cerveja. Que nos contentamos em uma vida miserável durante o resto do ano, aguardando fevereiro chegar e nos fazer esquecer os problemas, as angústias, as decepções, as dores. Esquecer de nós mesmos. Porque é bem mais fácil atribuir a culpa ao carnaval, dizer que já não é mais o mesmo, que tornou-se algo comercial, inchado e parcial. Por essa lógica distorcida, o trabalhador do parágrafo acima seria uma vítima do forró, um inocente, castigado em sua ingenuidade, arrebatado por um sincero desejo de celebrar que degenerou-se em algo vil e desprezível. Mas não. O monstro era ele, não a música que o embalava. Desgraçado era ele, não a cachaça que o embriagava. Safado era ele, não a prostituta que o consumia noite após noite. O culpado era ele, apenas ele. O carnaval, afinal de contas, não é bom nem mal. É, sim, uma festa, formada por pessoas que têm potencial para o bem ou para o mal. 

Vamos admitir nossa responsabilidade e parar de colocar a culpa de nossas desgraças no carnaval.


6 comentários:

  1. Ê lelê! Num tem mais do que reclamar nesse blog não? Vai ficar assim? Sem coisas novas é? ¬¬
    Quero me divertir..

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  2. vá tinha visto esse vídeo e ela usou as palavras numa ordem bem coerente... mas ainda acho que ela dá uns pulinhos por ai.. nem que seja no banheiro escutanto uma marchinha!passa la no meu brogs!

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  3. "E um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz: uma ofegante epidemia, que se chamava carnaval."

    De quem é a culpa das pessoas precisarem se distrair da vida? Quem pode culpar o carnaval pelos bêbados, drogas, sexo sem proteção, brigas de rua? Carnaval, continuo te amando.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. uma pena vc não mais atualizar o site. Vc escreve maravilhosamente bem!

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  6. Ok, pense em um comentário atrasado, hehehe. Entrei por conta do link do face e fui dando uma olhada no blog. como tenho maior abuso dessa repórter e dos argumentos dela... num custa contra argumentar.

    Primeiro, é ridículo ela falar que o carnaval "como o conhecemos" é europeu. O carnaval como eu o conheço, tem, de fato, raízes européias, MAS, foi modificado, ressignificado e já não tem mais nada a ver com os carnavais mascarados de veneza. Acho que não posso nem dizer que conheço o carnaval brasileiro - por que em cada estado há uma configuração dessa festa e tenho certeza que é diferente aqui, na bahia ou no rio (o nosso, é o melhor, claro :P). Sim, nosso carnaval é NOSSO carnaval.

    Reclamar de que no carnaval toca música ruim é outra asneira. E no resto do ano, a maioria das pessoas só escutam música clássica? Se boas ou ruins, não interessa, elas são criação de um povo, são uma crônica das comunidades. A arte é a o reflexo do povo que o produz e existe o ano todo. Se eu gosto ou não, aí, é outra história. Drogas e sexo casual também só existem no carnaval, né? No resto do tempo (no resto do mundo!!!) isso num é problema?

    Por último, reclamar que tem polícia e ambulância nas ruas no carnaval é o cúmulo. Oxe, isso tá certíssimo, e o que pagamos em impostos deveria ser suficiente para ter polícia a cada esquina e um sistema de saúde maravilhoso. Se falta médico para mulheres, crinças e velhinhos, num é por que se gastou esse dinheiro no carnaval, não, gata. É por que tá indo para o bolso de alguém mais espertinho. Por fim, se ela reclama de acidentes, devia ter noção que o nosso trânsito, diarimente, mata e aleija na mesma proporçao que muitas guerras civis.
    Depois desse breve desabafo (ok, estou de folga do trabalho, huahuahu), deixo congratulações pelo blog. Bem divertido. =**
    Júlia Veras (sou eu, Julinha :P)

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Vai, danado, reclama!