segunda-feira, 24 de maio de 2010

A multidão


Eu, que sou chato, arisco e anti-social, não sou fã de aglomerações humanas. Tem gente que adora. Nada contra. Bom pra essas pessoas que vivemos em um país onde, basta que se comece a bater uma panela na esquina que logo se forma um maracatu cheio de gente que não tem nada melhor pra fazer. Ou até tem, mas afinal, cada um tem suas prioridades. A verdade é que o povo adora exercitar seu direito à coletividade, tentando assim experimentar um sentimento de pertencimento maior. Prova disso está na foto abaixo:



Acidente na Av. Recife. Provavelmente um motoqueiro. Ao redor do homem que agoniza, uma multidão de pessoas que não faz absolutamente nada pra ajudar, possivelmente porque nem sequer saberiam como fazê-lo. Não importa. Eles precisam estar lá, fazendo parte do acontecimento. Cada detalhe da cena é avidamente sorvido como um gole de cachaça barata, registrado na memória para depois virar assunto em casa, no trabalho, no bar. Os enfermeiros pedem espaço pro moribundo poder respirar, mas a verdade é que eles tentam, inutilmente, afastar os abutres que se alimentam da desgraça alheia, um coletivo de sanguessugas que só consegue se sentir vivo roubando um pedacinho da vida do próximo. O homem finalmente é embarcado na ambulância, que se afasta zunindo do aglomerado de vampiros diurnos. Eles se dispersam, temporariamente satisfeitos. Um pouco mais vivos do que ontem, um pouco mais mortos a cada dia que passa. E esse havia sido um dia bom, pois algo havia acontecido. Algo que quebrasse a miséria da rotina diária que impiedosamente esmaga seus espíritos.
E a vida continua, independente de si mesma.

3 comentários:

  1. Fred, meu véio, você tá "se perdendo", pô. Os textos estão massa. Alguém (além da galera do Assomblog) tem que ver isso. Olha aí a solução: espalhem pra todos os conhecidos sobre esse blog. A qualidade está aí pra quem quiser ver.

    Ass: Mauro, rasgando seda.

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  2. O interessante nesse negócio de gente parar pra ver acidente - ou morto - é que ninguém quer ajudar mesmo. Uma vez, pra afastar esses urubus do local de uma chacina, que não deixavam o pessoal da imprensa (também carniceira) trabalhar, um policial encontrou uma solução massa: "vamos precisar de algumas testemunhas. Quem viu o que aconteceu aqui?". Não ficou um.

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  3. ...um policial encontrou uma solução massa: "vamos precisar de algumas testemunhas. Quem viu o que aconteceu aqui?". Não ficou um.

    kkkkkkkkk A D O R E I kkkkkkkkkk



    Cheiro pra tu, visse!

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Vai, danado, reclama!